terça-feira, setembro 11, 2007

A LÍNGUA GIRAVA NO CÉU DA BOCA

A língua girava no céu da boca.
Girava!
Eram duas bocas, no céu único.


O sexo desprendera-se de sua fundação,
errante imprimia-nos seus traços de cobre.
Eu, ela, elaeu.


Os dois nos movíamos possuídos, trespassados, eleu.
A posse não resultava de ação e doação, nem nos somava.
Consumia-nos em piscina de aniquilamento.
Soltos, fálus e vulva no espaço cristalino,
vulva e fálus em fogo, em núpcia, emancipados de nós.


A custo nossos corpos, içados do gelatinoso jazigo,
se restituíram à consciência.
O sexo reintegrou-se.
A vida repontou: a vida menor.


Carlos Drummond de Andrade


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