terça-feira, janeiro 08, 2008

HOJE O PASSARINHO NÃO VEIO...



Escorada na janela de seu quarto,
a pequena Wal lutava para não chorar.
Olhava para o fio de luz no poste a sua frente
como quem olha para algo muito triste.

Perdia-se em um longo suspiro,
quando um simpático velhinho parou na calçada para examiná-la.

Foi dizendo o velho homem:
'Por que tanta melancolia, menina bonita?'.

A garotinha fez esforço para erguer o rosto.
Voz partida, disse:
'Ele não veio hoje...'.

O outro quis saber com precisão:
'Quem não veio hoje?'.

A resposta da mocinha:
'O passarinho... O meu passarinho da sorte...
Ele não veio hoje...'

O ancião quis entender mais e mais: 'Fale-me desse passarinho, minha querida...
Fale-me...'.

A jovenzinha se aprumou.
Falar sobre seu amigo seria uma boa maneira de diminuir a agonia.
Começou a explicar:
'Há muito, muito tempo... todo dia um sabiá pousa no fio desse poste,
aqui em frente à minha janela...
Converso sempre com ele...
Tenho muito medo das coisas, sabe, senhor?...
Então conto meus desejos e peço para ele levá-los para o céu...
Assim, conquisto o que quero...
O passarinho leva meus sonhos e traz de volta realizações...
Acontece que hoje ele não veio...'.

Outro longo suspiro.
'Se ele não voltar, nunca mais vou conseguir realizar meus sonhos...'

Comovido, o atencioso senhor voltou a falar:
'Os desejos precisam de asas... É verdade... Sim, os sonhos precisam de asas...
Mas quem disse que tais asas estão nos passarinhos?...
A asa que faz tuas vontades voarem não está nas aves...
Não está no sabiá que achas não ter vindo hoje...'.

Wal ajeitou-se ainda mais. Perguntou, curiosa:
'Não? Como assim? E está onde? Conte-me! Por favor!'.

A resposta foi surpreendente:
'Estas asas, minha cara... estão na tua alma...'.


Wal respirou fundo. Uma enorme alegria a dominou.
Sentiu-se leve.
Tão leve que percebeu que poderia voar para onde quisesse.
Isso mesmo! Podia fazer seus sonhos voarem para qualquer canto.
Agradeceu ao velho homem, mandando-lhe um beijo e entrou.
Fechou a janela.
Precisava por asas em muitos desejos.
E assim Wal se foi.

Ela se foi e não viu que na calçada...
Na calçada, o ancião sorriu, transformou-se num sabiá e partiu rumo às nuvens



Autor: Carlos Correia Santos - poeta, contista e dramaturgo. Autor vencedor do premio Funarte de Dramaturgia, categoria infanto-juvenil em 2003 e 2005. Roteirista selecionado no Edital Curta Criança do Ministério da Cultura.

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