quarta-feira, novembro 12, 2014

RASCUNHO DE VERSOS DO MEU EU...


No peito um coração pulsando forte em meio ao silêncio da noite. Nas paredes  vejo pinturas e molduras que não sei definir. Pensamentos soltos na teimosia da noite fria se misturam no vazio do espaço. Olhos sisudos  e o sono vai embora.

Nas quimeras da minha alma, uma doce saudade parece acochar-me o corpo suprimindo esse desejo saliente,  que vem se apossar de mim. Santa ou louca, não importa. O mais importante, nesta noite,  é embarcar nas lembranças só  para lhe encontrar. 

O som da sua voz vem feito melodia a inebriar de canção meus ouvidos. Enquanto no quarto o ar tem seu cheiro, seu perfume a me enfeitiçar a memória. E de repente, sou inteira magia, poesia. Sem sono  levanto e fico  a perambular pela casa. Releio versos, poemas, cartas, tantas palavras escritas guardadas bem no fundo da minha caixa de boas recordações. 

De re pente... sua imagem. Na fotografia vejo seu sorriso. Aquele sorriso de sempre,  de menino levado com olhar sapeca de “estripulia”. As cartas de amor bem dobradas e guardadas são doces arquivos de um amor presente, ora distante do alcance minhas mãos. 

As horas passam. Os pensamentos passeiam suaves, como pássaros  que voam na amplidão do espaço. O tempo segue...  No papel sigo escrevendo  colocando  a tradução do mais puro sentimento já nascido em meu coração. Amor arteiro, mas verdadeiro  e que neste instante toma conta dos meus pensamento...você, rascunho de versos do meu eu.


Socorro Carvalho

O AMOR...

"Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem."


Miguel Esteves
Foto: Socorro Carvalho
Região de Arapixuna - Anumã 

SAUDADES

Saudades! Sim.. talvez.. e por que não?...
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!


Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"