domingo, outubro 22, 2006

PÁSSARO ENCANTADO

Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo.
Ele era um pássaro diferente de todos os demais:
Era encantado.

Os pássaros comuns,
se a porta da gaiola estiver aberta,
vão embora para nunca mais voltar.
Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades...
Suas penas também eram diferentes.
Mudavam de cor.
Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava.

Certa vez, voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão.
Menina, eu venho de montanhas frias e cobertas de neve,
tudo maravilhosamente branco e puro,
brilhando sob a luz da lua,
nada se ouvindo a não ser o barulho do vento
que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores.
Trouxe, nas minhas penas, um pouco de encanto que eu vi,
como presente para você....

E assim ele começava a cantar as canções
e as estórias daquele mundo que a menina nunca vira.
Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.

Outra vez voltou vermelho como fogo,
penacho dourado na cabeça.
... Venho de uma terra queimada pela seca,
terra quente e sem água,
onde os grandes,
os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga.

Minhas penas ficaram como aquele sol
e eu trago canções tristes
daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras
e ver a beleza dos campos verdes.

E de novo começavam as estórias.
A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia.
E o pássaro amava a menina, e por isso voltava sempre.

Mas chegava sempre uma hora de tristeza.
Tenho que ir, ele dizia.
Por favor não vá,
fico tão triste, terei saudades e vou chorar.....

Eu também terei saudades, dizia o pássaro.
Eu também vou chorar.
Mas eu vou lhe contar um segredo:
As plantas precisam da água, nós precisamos do ar,
os peixes precisam dos rios...

E o meu encanto precisa da saudade.
É aquela tristeza, na espera da volta,
que faz com que minhas penas fiquem bonitas.
Se eu não for, não haverá saudades.
Eu deixarei de ser um pássaro encantado e você deixará de me amar.

Assim ele partiu.
A menina sozinha, chorava de tristeza à noite.
Imaginando se o pássaro voltaria.
E foi numa destas noites que ela teve uma idéia malvada.
Se eu o prender numa gaiola,
ele nunca mais partirá; será meu para sempre.
Nunca mais terei saudades, e ficarei feliz.

Com estes pensamentos comprou uma linda gaiola,
própria para um pássaro que se ama muito.
E ficou à espera.
Finalmente ele chegou, maravilhoso,
com suas novas cores,
com estórias diferentes para contar.

Cansado da viagem, adormeceu.
Foi então que a menina, cuidadosamente,
para que ele não acordasse,
o prendeu na gaiola para que ele nunca mais a abandonasse.
E adormeceu feliz.

Foi acordar de madrugada,
com um gemido triste do pássaro.
Ah! Menina...
Que é que você fez?
Quebrou-se o encanto.
Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das estórias....

Sem a saudade, o amor irá embora...
A menina não acreditou.
Pensou que ele acabaria por se acostumar.
Mas isto não aconteceu.
O tempo ia passando,
e o pássaro ia ficando diferente.

Caíram suas plumas,
os vermelhos, os verdes e os azuis das penas
transformaram-se num cinzento triste.
E veio o silêncio, deixou de cantar.
Também a menina se entristeceu.
Não, aquele não era o pássaro que ela amava.
E de noite ela chorava pensando naquilo que havia feito ao seu amigo...

Até que não mais agüentou.
Abriu a porta da gaiola.
Pode ir, pássaro, volte quando quiser...

Obrigado, menina.
É, eu tenho que partir.
É preciso partir para que a saudade chegue
e eu tenha vontade de voltar.
Longe, na saudade,
muitas coisas boas começam a crescer dentro da gente.
Sempre que você ficar com saudades, eu ficarei mais bonito.
Sempre que eu ficar com saudades,
você ficará mais bonita.
E você se enfeitará para me esperar...

E partiu.
Voou que voou para lugares distantes.
A menina contava os dias,
e cada dia que passava a saudade crescia.

Que bom, pensava ela,
meu pássaro está ficando encantado de novo...
E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos;
e penteava seus cabelos, colocava flores nos vasos...
Nunca se sabe.
Pode ser que ele volte hoje...
Sem que ela percebesse,
o mundo inteiro foi ficando encantado como o pássaro.

Porque em algum lugar ele deveria estar voando.
De algum lugar ele haveria de voltar.
AH! Mundo maravilhoso
que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama...

E foi assim que ela,
cada noite ia para a cama, triste de saudade,
mas feliz com o pensamento.
Quem sabe ele voltará amanhã....
E assim dormia e sonhava
com a alegria do reencontro.

Rubens Alves
*Este texto é simplesmente LINDO!
Retrata a vida de tantos pássaros que aprisionados, a cada dia
perdem um pouco da beleza e do encanto.
Oh, meu pássaro encantado onde estais?
Tô morrendo de saudades...(Socorro)

SOU LENDA


Sou Lenda, porque as lendas são envoltas em Mistérios e Magias.

São uma criação dos caminhos da mente,

da vaga imaginação da liberação dos silêncios da alma...

Sou Lenda, porque as lendas correm livres junto ao vento,

buscando as vozes da memória para que alcancem, as histórias perdidas no tempo...


Sou Lenda,

pelo desejo incontido

que há em mim, de tornar

possível o encontro entre a

Lua e o Sol,

diminuindo o entrave da dor...


Então, sendo Lenda

posso cavalgar pelos

sonhos, velejar pelos

mares da sua

saudade, passear,

solta, pelo seu

pensamento...

Sendo Lenda, posso brincar na sua alegria,

ser parte da sua emoção, e caminhar, tranqüila, pela sua ilusão...

Sendo Lenda, posso escrever meu nome em sua vida,

e me instalar no aconchego do seu coração

como uma sensação chegando pelo perfume do ar...


Sendo Lenda posso ser parte de você, sem você perceber...

(Débora Bottcher)