sábado, agosto 18, 2007

AMOR É SÍNTESE


Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu...
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.



Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.

Mário Quintana

ADEUS

Estou aqui pela última vez
nós dois sabíamosque aconteceria um dia...
Um de nós teria que partir!
É triste para mim
mas tem que ser assim.

A sabedoria de viver
consiste tão somente em saber
quando se deve ir.

Foi muito bom te conhecer
melhor ainda o bem querer
que me ensinaste com carinho.

Serás sempre lembrado
na alma e coração
terás o teu lugar,
mas já não pode ser
ficar aqui, idolatrar-te!

A vida tem que seguir
e tem que ser
infelizmente sem ti.
Sempre que olhar o mar
lembres de mim.

Lembres da lenda também
e de quanto eu esperei
que me amasses
como eu te amei.

Mas sorrias sempre
porque é assim
que eu quero ver-te
feliz...
muito feliz!

Não sintas e não lamentes.
Sempre que alguém se vai
o seu lugar é ocupado
por outro alguém:
faz parte do viver!
E o meu agora
precisa ser
muito longe daqui.

Adeus amor;
não me procures
eu não vou te esquecer,
mas não quero dizer isso
olhando-te nos olhos
talvez não conseguisse
só talvez...




Autoria: Tere Penhabe


BEM INTERESSANTE...


O mais estranho, é que gosto mesmo de ti.
Gosto moderadamente dos amigos e tolero os colegas, a porteira,
a empregada e o antunes do supermercado.
Mas de ti, gosto mesmo.
A tua lembrança é um prazer que desliza, surripiando-me;
chegas de repente, agradável como uma brisa quente ou uma boa notícia, e eu imagino-nos cenários,
não amorosos nem eróticos, mas, antes, de circunstância:
encontros fortuitos, casuais, um pequeno-almoço, um relance de carro, um telefonema, uma gargalhada, um encontro de pulsos, de tornozelos.
Faço-o sem qualquer expectativa romântica ou intuito amistoso:
és menos do que um amante e mais do que um amigo.

Não que me sejas mais próximo ou íntimo, porque não o és,
mas porque, mesmo longínquo, me exaltas e entreténs,
ocupando o meu espírito movediço e centrando-o,
como a perspectiva de ir de férias ou de casar amanhã.
Não me iludo, não é disso que se trata: apenas te construo em mim,
uma e outra vez, como uma primeira dentada antecipando a gula, lenta e deliberada.
Nunca o esmaecer do teu rosto me angustia, antes, enleva-me e inspira-me, soalheiro.
Há momentos em que te conduzo para sítios bonitos de cartaz,
como jardins secretos e praias desertas,
e onde te vejo ao meu lado como se estivesses mesmo.
Ali, entabulo conversas, contradigo-te e acotovelo-te,
deixando que me faças cócegas e me olhes longamente,
como os casais nas fotografias.
Encontro-te no estame de uma flor,
na caruma dos pinheiros e na linha do horizonte: basta-me olhar com atenção.
E cheiras sempre bem: uma mistura de pólenes, resinas e maresias,
da qual sobressai o travo adocicado do desejo, quieto como as nuvens mais altas.
Acima de tudo, enterneces-me.
E é esta perenidade mansa, que não reconhece o escavar do tempo,
que não pede retorno e se basta em si mesma,
que às vezes me inquieta e assusta,
nem sei bem porquê.

Desconheço a Autoria

O MINUTO DEPOIS

Nudez, último véu da alma
que ainda assim prossegue absconsa.
A linguagem fértil do corpo
não a detecta nem decifra.
Mais além da pele, dos músculos,
dos nervos, do sangue, dos ossos,
recusa o íntimo contato,
o casamento floral, o abraço
divinizante da matéria
inebriada para sempre
pela sublime conjunção,
Ai de nós, mendigos famintos:
Pressentimos só as migalhas
desse banquete além das nuvens
contingentes de nossa carne.
E por isso a volúpia é triste
um minuto depois do êxtase.

Carlos Drummond Andrade

O VERBO NO INFINITO


Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor, nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para chorar

Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.


E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito


E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...

Vínicus de Moraes