quarta-feira, novembro 21, 2007

APENAS PARA DIZER QUE...


Beijos...

Com sabor de chocolate!!!
Tenha um ótimo dia!!!


"Se houver um amor maior que o meu eu desconheço..."
( Jana Figarella)

A BALEIA DO RIO TAPAJÓS

*Foto: Erik L. Jennings Simões


“Baêia”! Gritou o curumim do colo da mãe à beira do rio Tapajós.
No mesmo instante, um forte esguicho de água saiu do dorso do grande animal,
rodeado por canoas, montarias e rabetões.
Acreditei. Era verdade.
Não era engano das rádios, quando anunciaram na manhã do dia 15 de novembro de 2007 que havia aparecido uma baleia na margem direita do rio Tapajós, na comunidade de Piquiatuba.
Eu estava confirmando, com meus próprios olhos, algo inacreditável, improvável pela ciência, mas que o curumim amazônico já anunciara em alto e bom tom da verdade.


Com um pouco mais de um ano, ainda aprendendo a falar, o moleque jogava, rio abaixo, muito do que aprendi na escola.
Baleia é de mar, meu filho, e não de rio, dizia a professora.
Os animais marinhos são osmoticamente adaptados, diziam os princípios da biologia.
Mais um esguicho, e o curumim... “Baêia”!
Só me restava virar criança, esquecer o que aprendi e entrar na água do rio Tapajós
para ver e fotografar a baleia, que viera visitar os confins de água doce da Amazônia.
Com a água um pouco acima da cintura, pude chegar bem perto do animal,
que estava parcialmente encalhado.
Tinha uns seis metros de comprimento e peso estimado em doze toneladas.
O dorso era escuro e apresentava comportamento dócil, porém com movimentos persistentes em nadar.



Tratava-se de uma baleia da família Minke.
Comecei a fotografar e filmar ao mesmo tempo, maravilhado com o que estava vendo.
Aquilo era o tipo de coisa que só vendo para acreditar.
Mesmo assim demora algum tempo para se convencer que não é um sonho.Quanto mais eu fotografava o animal, mais tinha a certeza que muito “cabôco” passou por mentiroso, quando falou que viu a cobra grande.


Lembrei dos que desapareceram no rio por culpa da cachaça.
Não seriam baleias, tubarões e outras espécies do mar que há muito nos têm visitado?
Quantas outras já não estiveram por aqui sem ser notadas?
Ver aquele animal, a mais de 1400 km do mar, nos remete a pensar mais nos mistérios da vida e nos mistérios do rio.
Sua presença nos lembra muito do que ainda não sabemos pela ciência.
Reforça o quão belo e monstro é este rio, e que, por isso, sem esforço, abriga tantos outros monstros em seu doce e profundo leito.


Os esguichos de sua respiração, bem na minha frente, molhavam meu rosto e, por algum instante, respirei o mesmo ar que o animal expirara, só que pulverizado com as águas do Tapajós.
Se antes a minha, e nossa, ligação com o rio era verdadeiramente amazônica, agora ela passara a ter conexão com outros mares.
Nosso orgulho agora tem dimensão oceânica, transcontinental!
Convenci-me que o beneficio de resgatar o animal, para o mar, seria tão duvidoso quanto deixá-lo por aqui.
Não estaria o mesmo já adaptado ao doce, azul e belo rio “que trazemos correndo na veia”? Devolvê-lo ao mar não seria mais arriscado,
doloroso e improvável processo de readaptação?
Quem pode agora afirmar que, no sangue da baleia,
também já não corre o mesmo calor do rio do curumim?



Neste dia, o sol se pôs, e a baleia Minke desapareceu, nas profundezas... Do rio.
Talvez, quando o curumim crescer,
ele possa aprender que baleia também pode viver por algum tempo no rio.
Aprender, com mais convicção, que cuidar dos animais e do meio ambiente,
também é cuidar do homem. Desejo que no futuro, já maduro e com seus filhos,
o curumim possa gritar com a voz firme e rouca... Baleiiaa!

Que não seja a que vimos hoje,
mas que sejam outras que haverão de vir por aqui.


Texto: Erik L. Jennings Simões (*)
Santareno, é médico neurocirurgião.

* O texto acima escrito pelo médico Érik Jennings
copiei do Blog do companheiro Jeso Carneiro.
É que achei, simplesmente lindo!
Um fato histórico narrado por um olhar poético...
Lindo! Lindo! Lindo!!
Eu recomendo você a fazer uma visita:
www.jesocarneiro.blogspot.com