quinta-feira, dezembro 06, 2007

O AMOR E ESSAS COISAS...


I
" A cada dia que VIVO, mais me convenço de que o
desperdício da vida está no amor que não damos,
nas forças que não usamos, na prudência egoísta que
Nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade”(Carlos Drummond de Andrade)



II
“O amor é que é essencial.
O sexo é só um acidente.
Pode ser igual ou diferente”(Fernando Pessoa)


III
Vou falar de amor, mas não vou falar sobre ursinhos de pelúcia nem sobre bombons.
O momento é ideal para falar de sacanagem.
Se dei a impressão de que o assunto será ménages à trois, sexo selvagem e práticas perversas,
sinto muito desiludi-lo(a).


Pretendo, sim, falar das sacanagens que fizeram com a gente.
Fizeram a gente acreditar que o amor mesmo, amor pra valer,
só acontece uma vez, geralmente antes do 30 anos.
Não contaram pra nós que o amor é racionado e nem chega com hora marcada.


Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja,
e que a vida só ganha sentido
quando encontramos a outra metade.
Não contaram que nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas
a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo.
Se estivermos em boa companhia, só é mais rápido.

Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada “dois em um”,
duas pessoas pensando igual, agindo igual, que isso era que funcionava.
Nâo nos contaram que isso tem nome: anulação.
Que só sendo indivíduos com personalidade própria
que poderemos ter uma relação saudável.


Fizeram a gente acreditar que o casamento era obrigatório
e que desejos fora de hora devem ser reprimidos.
Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados,
que os que transam pouco são caretas,
que os que transam muito não são confiáveis,
e que sempre deve haver um chinelo velho para um pé torto.
Ninguém nos disse que chinelos velhos também têm seu valor,
já que não nos machucam, e que existem mais cabeças tortas do que pés.


Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz,
a mesma para todos,
e os que escapam dela estão condenados à marginalidade.
Não nos contaram que estas fórmulas dão errado,
frustram as pessoas, são alienantes,
e que poderíamos tentar outras alternativas menos convencionais.


Sexo não é sacanagem.
Sexo é uma coisa natural, simples - só é ruim quando feito sem vontade.
Sacanagem é outra coisa.
É nos condicionarem a um amor cheio de regras e princípios,
sem ter o direito à leveza
e ao prazer que nos proporcionam as coisas escolhidas por nós mesmos.


(Martha Medeiros)