domingo, maio 27, 2012

LÉPIDA E LEVE


Lépida e leve
em teu labor que, de expressões à míngua,
O verso não descreve...
Lépida e leve,
guardas, ó língua, em seu labor,
gostos de afagos de sabor.


És tão mansa e macia,
que teu nome a ti mesmo acaricia,
que teu nome por ti roça, flexuosamente,
como rítmica serpente,
e se faz menos rudo,
o vocábulo, ao teu contacto de veludo.


Dominadora do desejo humano,
estatuária da palavra,
ódio, paixão, mentira, desengano,
por ti que incêndio no Universo lavra!...
És o réptil que voa,
o divino pecado
que as asas musicais, às vezes, solta, à toa,
e que a Terra povoa e despovoa,
quando é de seu agrado.


Sol dos ouvidos, sabiá do tato,
ó língua-idéia, ó língua-sensação,
em que olvido insensato,
em que tolo recato,
te hão deixado o louvor, a exaltação!


— Tu que irradiar pudeste os mais formosos poemas!
— Tu que orquestrar soubeste as carícias supremas!
Dás corpo ao beijo, dás antera à boca, és um tateio de
alucinação,
és o elástico da alma... Ó minha louca
língua, do meu Amor penetra a boca,
passa-lhe em todo senso tua mão,
enche-o de mim, deixa-me oca...
— Tenho certeza, minha louca,
de lhe dar a morder em ti meu coração!...


Língua do meu Amor velosa e doce,
que me convences de que sou frase,
que me contornas, que me veste quase,
como se o corpo meu de ti vindo me fosse.
Língua que me cativas, que me enleias
os surtos de ave estranha,
em linhas longas de invisíveis teias,
de que és, há tanto, habilidosa aranha...


Língua-lâmina, língua-labareda,
língua-linfa, coleando, em deslizes de seda...
Força inféria e divina
faz com que o bem e o mal resumas,
língua-cáustica, língua-cocaína,
língua de mel, língua de plumas?...


Amo-te as sugestões gloriosas e funestas,
amo-te como todas as mulheres
te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor,
pela carne de som que à idéia emprestas
e pelas frases mudas que proferes
nos silêncios de Amor!...



Gilka da Costa de Melo Machado

Poema ublicado em "Poesias Completas", Léo Christiano Editorial Ltda. - Rio de Janeiro, 1992, foi selecionada por Ítalo Moriconi e faz parte do livro "Os cem melhores poemas brasileiros do século", Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2001, pág. 75.


IMPOSSÍVEL ACREDITAR...


Hoje, sábado, 26 de maio de 2012,  fiquei sabendo de uma notícia péssima e que me deixou muito triste.Era de manhã, por volta e 11h30 da manhã, estava indo ao centro, e ainda na parada de ônibus,  encontrei  Walter um ex colega de aula da turma de CB ( Ciências Biológicas) dos bons tempos de Colégio Álvaro Adolfo da Silveira. Um encontro, por acaso, que de inicio me fez bem, em poder reencontrar um de meus colegas de uma turma muito especial dos tempos de Segundo Grau ou Ensino Médio, como queiram. Enfim, conversando com Walter começamos a relembrar de nossa turma, dos e das colegas. E entre eles e elas, claro, não poderia esquecer de uma das personalidades mais inteligentes e interessantes que já conheci, no meio escolar, o  “José Carlos” ou simplesmente Nick como era conhecido na sala. O apelido não sei a origem , mas todos nós só o chamávamos de Nick e por  José Carlos nem mesmo os professores o chamavam.


Nick era maranhense, de personalidade forte, inteligente, bravo e extremamente determinado. Devido isso, de vez em quando estávamos nos pegando em acaloradas discussões, até que numa delas até ficamos “ de mal” intrigados, mesmo.Ele era osso duro de roer e eu muito pior, ficamos assim por um tempinho. No entanto, apesar  das brigas nos admirávamos muito e certamente nos gostávamos muito, também. As pazes fizemos por ocasião do lançamento do meu livro  intitulado “ Um sonho... De repente uma Realidade” patrocinado pelo meu amigo Oti Santos, na época Deputado Estadual. Havia preparado o lançamento do livro e na sala convidei todo mundo, mas para o Nick, dei um convite só pra ele. Na verdade queria muito que ele estivesse junto de mim, naquele momento que me era tão especial. Entreguei o convite e ele recebeu sem muita empolgação. Imaginei,  ele não vai. Quando foi o dia do lançamento na Casa de Cultura, muitas amizades, meus amigos mais próximos todos e todas, convidados e convidadas estavam lá. Nossa quanta felicidade. Na hora do autografo, para minha surpresa, uma voz diante de mim, me dizia: _ “ Parabéns! Obrigado pelo convite especial!” Era o Nick! Puxa, levantei a cabeça,olhei para ele que diante de mim sorria, com aquele sorriso bonito , de outrora, fiquei muito feliz. Nick era o colega mais pavio curto da sala, mas um dos colegas que eu mais gostava. Enfim, em nossa sala só tinha peça rara. rsrs

Admirava o Nick por muitos motivos, primeiro pela inteligência, depois pela determinação. Ele era um menino humilde, mas muito focado nas metas que traçava. Tinha fascínio pelos números, em especial pela Física e suas fórmulas. Tinha o sonho de ser Farmacêutico Bioquimico, mas com formação pela Universidade Federal do Pará ( UFPA). Para isso, se dedicou com muito afinco. Grana para pagar cursinho ele não tinha. Estudava na casa da Cultura, todos os dias, de forma muito disciplinada. E fazia isso todos os dias antes de ir para o colégio.

Terminamos o segundo grau, Nick  foi batalhar isenção para se inscrever no vestibular e conseguiu. Prestou vestibular e passou, para estudar em Belém. Como iria?Só Deus sabia. Grana para pagar a passagem não tinha.  Nick não tinha mais pai, só padrasto e que era ruim com  ele pra “ caralho”. Dessas coisas só sabia quem tinha muita proximidade com ele, e eu era uma dessas pessoas. Aprovado no vestibular foi na Capitania dos Portos e conseguiu uma passagem. Foi pra Belém sem eira nem beira. Foi morar na casa do estudante, onde se tornou um dos líderes e vivia lutando para que os estudantes pudessem ter dias melhores. Algumas vezes veio a Santarém buscar ajuda junto aos empresários e quando voltava levava muitos alimentos. Nick era um cara hiper determinado.

Em cada vinda a Santarém, sempre me procurava para “ encher meu saco” , que na época já trabalhava na Tv Ponta Negra, e não estudava. Uma das vezes anotou meu endereço e sempre me escrevia. Por carta trocávamos idéias e partilhávamos as novidades. Ele realizou o sonho de se  formar e se tornou, não um farmacêutico bioquímico, mas um dos professores de Física, concursado da Universidade Estadual do Pará _ UEPA, em Belém. Sempre trocávamos cartas.  Até que um dia Nick me escreveu e pegou pesado. Na carta dizia assim: “ E ai Socorro, como estais? Vais mesmo insistir em terminar teus dias nessa bendita Ponta Negra? E se afundar junto com Santarém que não oferece perspectiva de nada? Sinceramente.” Essas palavras não esqueci nunca mais.E para quem me conhece, já sabe que fiquei P da vida, com uma louca  vontade de arrancar o olhos dele, como não podia, apenas respondi a bendita carta bem a altura. Desde então, decidi não responder, mas as cartas que ele me enviava. Até que ele, também, não me escreveu mais e perdemos o contanto.

Apesar da distancia, Nick sempre foi para mim um exemplo lindo de luta e perseverança. Além de ser um dos colegas que jamais esqueci, acho que pelas nossas constantes brigas e discussões. Mas nem sempre era assim,  volta e meia, sem brigas, dividia com ele um pastelão( meu salgado preferido) por que sabia que muitas vezes ele estava com muita fome, mesmo que tentasse mostrar ao contrário.Porque era muito orgulhoso.  Ele era muito “chato”, sem papas na língua, mas era legal, companheiro e que sempre me tirava as dúvidas de Física, quando eu precisava.Era, um cara legal, apesar de todos os defeitos e estupidez, de machista nato que era.rsrs Só que conversando comigo sempre achava, ou levava uma boa resposta, não deixava jamais as provocações dele sem respostas e assim a gente sempre brigava. 



A essa altura, talvez você esteja se perguntando, por que está falando tanto em José Carlos ( Nick) se tinha encontrado o Walter? Curiosidade natural. Deixa-me explicar. Estou falando do Nick, por que através do Walter fiquei sabendo a triste notícia de que Nick não está mais entre nós. Foi horrível, ouvir o Walter me dizer. Falávamos da nossa turma e falei do Nick, disse que já havia caçado ele nas redes sociais, mas nunca o tinha encontrado, por que não lembrava do sobrenome dele. Valter disse que o nome completo do Nick era: José Carlos da Silva Rocha. Depois, por um momento ficou calado. Em seguida,  respirou fundo e me disse: _” Não adianta você procurar o Nick na internet, Socorro. Não procure. Por que  não vai encontrar ele.” Perdi o chão, mas fingi não entender, ou talvez tentei me enganar que Walter pudesse me dar outra resposta diferente daquela que por um momento, não queria ouvir, mas que naquele instante atormentava minha mente. Fiquei calada por um momento e em seguida criei coragem e perguntei. _ “ Como assim, Walter? Por que estais dizendo isso?” E ele me disse. _” Porque o Nick se foi. Ele , infelismente, faleceu.” Sinceramente, foi  uma sensação muito ruim que senti ao  ouvir aquilo. O ônibus já vinha e embarcamos, sentamos no mesmo  banco, continuamos conversando,  e mais uma vez perguntei, como assim, Walter? Como isso aconteceu? Nick adoeceu? E minha tristeza foi ainda maior quando Walter me respondeu. Disse que José Carlos morreu porque  cometeu  suicídio, em Belém. Sinceramente, meu dia perdeu o sentido. Fiquei mal. Em minha mente um monte de interrogações, tristeza, sentimento de culpa por ter deixado de me corresponder com meu amigo, que tanto gostava. Foi um susto, muito grande. E desde esse momento, fiquei triste e com uma dor de cabeça horrível. E o Nick ocupou todos os meus pensamentos.


De repente um filme se passou em minha mente. Meu Deus, o que teria levado meu amigo a fazer aquilo com a própria vida. Tanta luta tantos desafios vencidos, conquistas e conquistas e de repente tudo isso perde o sentido até chegar esse ponto. Mesmo fazendo um grande esforço para entender, não conseguia e não consigo  entender. Segui meu trajeto com minha mente entorpecida de tristeza e de milhões de interrogações. Nada mais que isso podia   fazer. A não ser lamentar o destino trágico que Nick deu a vida. Logo ele que era tão cheio de metas, objetivos, sonhos e ambições.

Sinceramente encontrar o Walter foi muito bom, até descobri que trabalha bem pertinho aqui de casa, na empresa Eletro Geral. E reencontrá-lo foi sensacional, mas a notícia que ele me deu deixou triste meu coração. 

A morte do meu amigo  foi um fato muito triste, mesmo assim, prefiro guardar comigo todas as lembranças bonitas dele,  aquele  sorriso bonito, aquela  voz forte, a maneira de repassar a  aula de física sempre bem explicada, o pastelão partilhado nas calçadas do Álvaro, as brincadeiras de zoação com o Hernandes  e as brincadeiras na sala de aula. Pôxa! Não sei o que levou Nick a  esse desatino, só sei que sempre o guardarei entre minhas lembranças preferidas. Valeu José Carlos! Grande abraço, Nick!!! Pô, seu “estúpido”, “ cabeça de bagre”,  porque fez isso contigo, heim? Impossível acreditar que apagastes todos os teus sonhos... Acreditar em tudo isso Nick, é impossível. Sabe cara, estejas onde estiveres, saiba que eu gostava muito de você. Sei que nada mais que vai mudar essa realidade, mas penso que tinhas alternativas sem precisar acabar com tua vida, seu “louco”... Que Deus tenha  misericórdia da tua alma... Descansa em paz, seu “chato”!!! Saudades Eternas...

Socorro Carvalho