Hoje, sábado, 26 de maio de 2012, fiquei sabendo de uma notícia péssima e que me
deixou muito triste.Era de manhã, por volta e 11h30 da manhã, estava indo ao centro, e ainda na parada de ônibus, encontrei
Walter um ex colega de aula da turma de CB ( Ciências Biológicas) dos
bons tempos de Colégio Álvaro Adolfo da Silveira. Um encontro, por acaso, que de inicio me
fez bem, em poder reencontrar um de meus colegas de uma turma muito especial
dos tempos de Segundo Grau ou Ensino Médio, como queiram. Enfim, conversando
com Walter começamos a relembrar de nossa turma, dos e das colegas. E entre
eles e elas, claro, não poderia esquecer de uma das personalidades mais
inteligentes e interessantes que já conheci, no meio escolar, o “José Carlos” ou simplesmente Nick como era
conhecido na sala. O apelido não sei a origem , mas todos nós só o chamávamos de
Nick e por José Carlos nem mesmo os
professores o chamavam.
Nick era maranhense, de personalidade forte, inteligente, bravo e extremamente
determinado. Devido isso, de vez em quando estávamos nos pegando em acaloradas
discussões, até que numa delas até ficamos “ de mal” intrigados, mesmo.Ele era osso
duro de roer e eu muito pior, ficamos assim por um tempinho. No entanto, apesar
das brigas nos admirávamos muito e
certamente nos gostávamos muito, também. As pazes fizemos por ocasião do
lançamento do meu livro intitulado “ Um
sonho... De repente uma Realidade” patrocinado pelo meu amigo Oti Santos, na
época Deputado Estadual. Havia preparado o lançamento do livro e na sala convidei
todo mundo, mas para o Nick, dei um convite só pra ele. Na verdade queria muito
que ele estivesse junto de mim, naquele momento que me era tão especial.
Entreguei o convite e ele recebeu sem muita empolgação. Imaginei, ele não vai. Quando foi o dia do lançamento
na Casa de Cultura, muitas amizades, meus amigos mais próximos todos e todas,
convidados e convidadas estavam lá. Nossa quanta felicidade. Na hora do
autografo, para minha surpresa, uma voz diante de mim, me dizia: _ “ Parabéns!
Obrigado pelo convite especial!” Era o Nick! Puxa, levantei a cabeça,olhei para
ele que diante de mim sorria, com aquele sorriso bonito , de outrora, fiquei
muito feliz. Nick era o colega mais pavio curto da sala, mas um dos colegas que
eu mais gostava. Enfim, em nossa sala só tinha peça rara. rsrs
Admirava o Nick por muitos motivos, primeiro pela
inteligência, depois pela determinação. Ele era um menino humilde, mas muito
focado nas metas que traçava. Tinha fascínio pelos números, em especial pela
Física e suas fórmulas. Tinha o sonho de ser Farmacêutico Bioquimico, mas com
formação pela Universidade Federal do Pará ( UFPA). Para isso, se dedicou com
muito afinco. Grana para pagar cursinho ele não tinha. Estudava na casa da
Cultura, todos os dias, de forma muito disciplinada. E fazia isso todos os dias
antes de ir para o colégio.
Terminamos o segundo grau, Nick foi
batalhar isenção para se inscrever no vestibular e conseguiu. Prestou
vestibular e passou, para estudar em Belém. Como iria?Só Deus sabia. Grana para
pagar a passagem não tinha. Nick não
tinha mais pai, só padrasto e que era ruim com
ele pra “ caralho”. Dessas coisas só sabia quem tinha muita proximidade
com ele, e eu era uma dessas pessoas. Aprovado no vestibular foi na Capitania
dos Portos e conseguiu uma passagem. Foi pra Belém sem eira nem beira. Foi
morar na casa do estudante, onde se tornou um dos líderes e vivia lutando para
que os estudantes pudessem ter dias melhores. Algumas vezes veio a Santarém
buscar ajuda junto aos empresários e quando voltava levava muitos alimentos. Nick
era um cara hiper determinado.
Em cada vinda a Santarém, sempre me procurava para “ encher
meu saco” , que na época já trabalhava na Tv Ponta Negra, e não estudava. Uma
das vezes anotou meu endereço e sempre me escrevia. Por carta trocávamos idéias
e partilhávamos as novidades. Ele realizou o sonho de se formar e se tornou, não um farmacêutico bioquímico,
mas um dos professores de Física, concursado da Universidade Estadual do Pará _
UEPA, em Belém. Sempre trocávamos cartas. Até que um dia Nick me escreveu e pegou
pesado. Na carta dizia assim: “ E ai Socorro, como estais? Vais mesmo insistir
em terminar teus dias nessa bendita Ponta Negra? E se afundar junto com
Santarém que não oferece perspectiva de nada? Sinceramente.” Essas palavras não
esqueci nunca mais.E para quem me conhece, já sabe que fiquei P da vida, com
uma louca vontade de arrancar o olhos
dele, como não podia, apenas respondi a bendita carta bem a altura. Desde
então, decidi não responder, mas as cartas que ele me enviava. Até que ele,
também, não me escreveu mais e perdemos o contanto.
Apesar da distancia, Nick sempre foi para mim um exemplo
lindo de luta e perseverança. Além de ser um dos colegas que jamais esqueci,
acho que pelas nossas constantes brigas e discussões. Mas nem sempre era assim,
volta e meia, sem brigas, dividia com
ele um pastelão( meu salgado preferido) por que sabia que muitas vezes ele
estava com muita fome, mesmo que tentasse mostrar ao contrário.Porque era muito
orgulhoso. Ele era muito “chato”, sem
papas na língua, mas era legal, companheiro e que sempre me tirava as dúvidas
de Física, quando eu precisava.Era, um cara legal, apesar de todos os defeitos
e estupidez, de machista nato que era.rsrs Só que conversando comigo sempre
achava, ou levava uma boa resposta, não deixava jamais as provocações dele sem
respostas e assim a gente sempre brigava.
A essa altura, talvez você esteja se
perguntando, por que está falando tanto em José Carlos ( Nick) se tinha
encontrado o Walter? Curiosidade natural. Deixa-me explicar. Estou falando do
Nick, por que através do Walter fiquei sabendo a triste notícia de que Nick não
está mais entre nós. Foi horrível, ouvir o Walter me dizer. Falávamos da nossa
turma e falei do Nick, disse que já havia caçado ele nas redes sociais, mas
nunca o tinha encontrado, por que não lembrava do sobrenome dele. Valter disse
que o nome completo do Nick era: José Carlos da Silva Rocha. Depois, por um
momento ficou calado. Em seguida,
respirou fundo e me disse: _” Não adianta você procurar o Nick na
internet, Socorro. Não procure. Por que
não vai encontrar ele.” Perdi o chão, mas fingi não entender, ou talvez
tentei me enganar que Walter pudesse me dar outra resposta diferente daquela
que por um momento, não queria ouvir, mas que naquele instante atormentava
minha mente. Fiquei calada por um momento e em seguida criei coragem e
perguntei. _ “ Como assim, Walter? Por que estais dizendo isso?” E ele me
disse. _” Porque o Nick se foi. Ele , infelismente, faleceu.” Sinceramente, foi
uma sensação muito ruim que senti ao ouvir aquilo. O ônibus já vinha e embarcamos,
sentamos no mesmo banco, continuamos
conversando, e mais uma vez perguntei,
como assim, Walter? Como isso aconteceu? Nick adoeceu? E minha tristeza foi
ainda maior quando Walter me respondeu. Disse que José Carlos morreu porque cometeu
suicídio, em Belém. Sinceramente, meu dia perdeu o sentido. Fiquei mal.
Em minha mente um monte de interrogações, tristeza, sentimento de culpa por ter
deixado de me corresponder com meu amigo, que tanto gostava. Foi um susto,
muito grande. E desde esse momento, fiquei triste e com uma dor de cabeça horrível.
E o Nick ocupou todos os meus pensamentos.
De repente um filme se passou em minha mente. Meu Deus, o que
teria levado meu amigo a fazer aquilo com a própria vida. Tanta luta tantos
desafios vencidos, conquistas e conquistas e de repente tudo isso perde o
sentido até chegar esse ponto. Mesmo fazendo um grande esforço para entender,
não conseguia e não consigo entender. Segui
meu trajeto com minha mente entorpecida de tristeza e de milhões de
interrogações. Nada mais que isso podia fazer. A não ser lamentar o destino trágico
que Nick deu a vida. Logo ele que era tão cheio de metas, objetivos, sonhos e
ambições.
Sinceramente encontrar o Walter foi muito bom, até descobri
que trabalha bem pertinho aqui de casa, na empresa Eletro Geral. E reencontrá-lo
foi sensacional, mas a notícia que ele me deu deixou triste meu coração.
A morte do meu amigo foi um fato muito triste, mesmo assim, prefiro
guardar comigo todas as lembranças bonitas dele, aquele sorriso bonito, aquela voz forte, a maneira de repassar a aula de física sempre bem explicada, o pastelão
partilhado nas calçadas do Álvaro, as brincadeiras de zoação com o Hernandes e as brincadeiras na sala de aula. Pôxa! Não
sei o que levou Nick a esse desatino, só
sei que sempre o guardarei entre minhas lembranças preferidas. Valeu José
Carlos! Grande abraço, Nick!!! Pô, seu “estúpido”, “ cabeça de bagre”, porque fez isso contigo, heim? Impossível
acreditar que apagastes todos os teus sonhos... Acreditar em tudo isso Nick, é impossível.
Sabe cara, estejas onde estiveres, saiba que eu gostava muito de você. Sei que
nada mais que vai mudar essa realidade, mas penso que tinhas alternativas sem
precisar acabar com tua vida, seu “louco”... Que Deus tenha misericórdia da tua alma... Descansa em paz,
seu “chato”!!! Saudades Eternas...
Socorro
Carvalho