Breve período de floração da maior flor do mundo atrai milhares
de visitantes ao jardim botânico de Bonn. Com altura que pode chegar a 3
metros, planta libera odor de carne putrefata para atrair insetos.
A flor-cadáver ou titan arum, planta tropical que tem a maior flor do
mundo, pode ser vista de diversas maneiras. Uma monstruosidade cujo mau
cheiro é tão terrível quanto as suas proporções são esmagadoras. Quase
uma obra de arte, um buquê estonteante com um chifre de unicórnio no
centro. Ou um totem primitivo, um pilar de um deus desconhecido.
Com um ciclo de vida errático, que inclui breves períodos de floração e
longos períodos de dormência, a planta atrai milhares de visitantes ao
jardim botânico de Bonn, na Alemanha, sempre que floresce. A planta
começa a murchar depois de apenas dois dias e, então, gradativamente
entra num período de dormência de no mínimo nove meses.
"É algo que talvez eu só veja uma vez a cada cinco anos", diz o
visitante Johannes Bergmann. "Realmente vale a pena." O estudante de
biologia dirigiu cerca de uma hora e meia desde a cidade de Zülpich no
último domingo (15/07) para ver o primeiro dia de florescência do
exemplar de tamanho recorde de Bonn.
Bergmann chegou horas antes da planta mostrar sua espata, uma espécie
de pétala que engloba a flor. Ele estava entre as dezenas de visitantes
que formaram uma longa fila para entrar na estufa úmida que abriga a
planta. "É algo que não se pode ver em qualquer lugar do mundo. É
realmente extraordinário", diz.
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Grande expectativa
Antes de florescer, a planta permanece nesse estado por muitos dias
A espécie em questão, uma das cerca de 40 do jardim botânico da
Universidade de Bonn, alcançou o recorde de altura da flor-cadáver em
2003, chegando a cerca de 2,7 metros. O recorde foi quebrado depois
disso, mas a antiga glória da planta ainda parecia envolver a multidão
que a veio ver.
Um garoto impaciente cutucou a planta ainda fechada com seu
guarda-chuva, mas logo desistiu. Até que, finalmente, a maçante espata
foi abandonando sua posição inicial ao redor de uma alta estrutura
marrom chamada espádice. À noite, ela exibia sua vistosa flor lilás.
Quase ao mesmo tempo, um cheiro pútrido invadiu a estufa.
"Ela acabou de começar a soltar um cheiro muito forte de carniça",
disse Michael Neumann, o principal cuidador das plantas da flor-cadáver
em Bonn. "Acho que é uma mistura de cheiros. É muito difícil descrever,
mas não muito agradável."
A planta exala o cheiro de carne putrefata para atrair insetos como
moscas e besouros para a polinização. Neumann descreve a flor-cadáver
como um sistema sofisticado em que, durante a floração, a espata libera
um odor único, o espádice se aquece a cerca de 37°C, e esse calor
espalha o aroma ao longo da flor.
Neumann acrescenta que nas florestas nativas da planta, na Sumatra
Ocidental, na Indonésia, onde há pouco vento, o cheiro penetra
facilmente nas copas das árvores e atrai insetos de longe. "Funciona
como uma chaminé, que empurra o cheiro até o topo do dossel da
floresta", diz
O jardim botânico ficou aberto até tarde no domingo, mas fechou quando a planta exalou seu odor mais forte |
Paraíso floral
O jardim botânico da Universidade de Bonn é um dos centros mais bem
sucedidos na criação da flor-cadáver. Neumann diz que a instituição
adquiriu seus primeiros exemplares da Sumatra Ocidental na década de
1930 e teve sucesso em seu cultivo até que o jardim botânico ser
destruído, durante a Segunda Guerra Mundial.
O especialista acrescenta que os botânicos de Bonn haviam esquecido
esse legado até que um colega chamado Manfred Könen se deparou com
alguns arquivos antigos. Könen decidiu visitar a Sumatra Ocidental e
trouxe consigo dois novos exemplares da planta em 1986.
O jardim botânico de Bonn é líder no cultivo da flor-cadáver |
O jardim botânico de Bonn é líder no cultivo da flor-cadáver
Um deles morreu, e o outro é o mesmo que floresceu neste domingo. É a
13ª floração da planta, que, com 2,81 metros de altura, superou seu
antigo recorde, mas ficou um pouco abaixo do atual recorde mundial de
3,1 metros – atingido nos Estados Unidos.
"Eu amei a planta", disse o morador de Bonn Mino Ko. "Acho que ela é
especialmente interessante por ser rara e a energia dinâmica liberada
por ela é muito especial." Bergmann, o estudante de biologia,
complementa dizendo que a flor-cadáver é o símbolo oficial do jardim
botânico de Bonn. E o especialista Neumann não sabe prever exatamente
quando ela florescerá novamente.
Autor: Shant Shahrigian (lpf)
Revisão: Augusto Valente
Revisão: Augusto Valente