Passava pouco das 10h da noite do último sábado, na praia do
Jutubinha, rio Tapajós, em Santarém, quando fui fazer a primeira vistoria no
meu turno de vigilância das malhadeiras, esticadas dentro de uma enseada que se
forma no local, nesta época de verão.
Nossa expectativa era pegar uns peixes para uma bela
piracaia, mas a principal preocupação era com os botos, que costumam destruir
as malhadeiras dos pescadores. Comigo foram os sobrinhos Pedro e Dominique
(filhos do meu irmão Donaldo Pedroso).
Logo no início da vistoria percebi que havia vários peixes
na malhadeira, mas, repentinamente, um grande puxão na malhadeira denunciou a
presença de botos. Como costumam fazer os pescadores nessas ocasiões, soltei um
grande palavrão e pedi aos sobrinhos que remassem com força para tentar logo
recolher a malhadeira e minimizar os estrados nela. Mas, quando mais rápido eu
fazia aquilo, mais o boto chegava perto da nossa canoa. Foi quando, há uns três
metros de distância, percebi que ele estava preso à malhadeira.
Na escuridão da noite (era noite de quarto crescente, mas a
lua estava encoberta), apenas uma pequena lanterna a pilha nos dava
visibilidade mínima. Pedi aos meninos que remassem para a margem, mas, em meio
ao susto e ao medo causados pela cena inédita, eles não conseguiam fazer nada,
quase paralisados. Pedi, então ao mais velho deles, Dominique Christian
Pedroso, que segurasse a malhadeira, com força e sem dar espaço ao animal.
Remei, então, para a margem, ao mesmo tempo em que gritava aos meus irmãos e
outras pessoas que estavam a cerca de 200m, pedindo ajuda e que trouxessem a
máquina fotográfica - como é que acreditariam nesta narrativa, quase
inverossímil? Com ajuda dos demais, conseguimos dominar o boto tucuxi, soltá-lo
da malhadeira e liberá-lo de volta ao rio, sob a ameaça dos demais botos que
nos ameaçavam há menos de dois metros do ponto onde estávamos.
Emoção pura, adrenalina a mil, especialmente aos meus
sobrinhos que nunca haviam experimentado emoção sequer parecida! Sem as imagens
abaixo, ninguém acreditaria em mim, com certeza!
* Parabéns a essa turma que teve todo o cuidado em não machucar o animal e o melhor foi soltá-lo deixando-o ir a bailar nas águas maravilhosas do Rio Tapajós!