Impossível amar apenas
uma vez na vida. Seria até chato, se fosse verdade. Mesmo aquele, único e
verdadeiro amor, nunca será solitário. É preciso aprendizado, achar que ama,
para só então sentir, maturar um sentimento, ver ele se tornar real. O amor
também evoluiu com as relações. Hoje ele é mais livre para ir e voltar. Mas
quando é amor, amor de verdade, de alguma forma ele permanece.
Antigamente as pessoas
mantinham uma relação em que o amor era um sentimento quase fraterno, que
pressupunha carinho, respeito e, acima de tudo, a estrutura familiar, baseada
nos pilares do casal. Esse amor era alimentado por uma estabilidade do lar, sobrevivia
na acomodada rotina. Mesmo quando o sentimento se tornava ausente, os laços do
orgulho seguravam o esteio do matrimônio. Os tempos mudaram e o amor floresceu,
de braços dados com a paixão.
Os amores vividos ao
longo da vida constroem a nossa história, ensinam as lições do coração, para
que possamos errar de novo, desta vez ciente das consequências. Transformam
nossa personalidade, fortalecem a nossa capacidade de lidar com as derrotas,
especialmente aquelas em que perdemos para nós mesmos.
Amores com dose de
paixão, pitadas de loucura e com uma intensidade eterna. Não importa o tempo
que duraram, eles carregam nomes perpetuados na nossa trajetória amorosa.
Representam filmes e canções através dos tempos. Serão sempre lembrados quando
nos tornarmos singulares, à mercê de um novo amor. O coração vai sempre
recorrer ao toque familiar, reconhecer o olhar acolhedor, àquela dúvida de
tentar mais uma vez.
Amores vividos passam,
porém permanecem marcados, nunca vão embora. Eles não acabam na despedida. Os
anos passam e você consegue enxergar o que cada um representa nas suas
atitudes, nos seus medos, na sua eterna vontade de viver. Amores passados são
sempre presentes. Ensinam diariamente e norteiam nossas escolhas. Amores que
ficam numa parede imaginária de lembranças, na linha do tempo da sua vida.
Basta pegar uma foto, ouvir uma música, ou ler um poema para entender o que
mudou em você. Não sentimos saudade daquela pessoa, mas a nostalgia nos faz
lembrar que já fomos ingênuos para tanta coisa. O coração calejado de hoje
apenas sorri com os erros do passado e nutre um carinho por quem nos fez feliz
- mesmo que essa alegria seja mais responsabilidade sua, do que alheia. É uma
sensação de encontro com o seu “eu” de anteontem, de uma vida de tropeços, mas
também de uma juventude pueril, infante e destrabelhada para se relacionar.
Amores de outrora
apenas reforçam a sabedoria atual, influenciam eternamente nossa capacidade de
respeitar quem está ao nosso lado. Nem é preciso o toque em amores d'antes.
Muitos amores perduram, exatamente, por não serem concretizados. A dúvida em
consumar o amor, vale mais do que uma certa paixão vivida.
Amores vividos, bem
vividos, me fazem feliz o tempo todo, por toda a vida. Viver um amor não
significa amar, de fato. Quando isso acontecer, na hora em que aquele momento
sublime invadir o seu peito, os amores lhe farão entender a diferença entre
aproveitar um sentimento que surge, e vivenciar um amor de verdade.
Chico Garcia - jornalista e cronista da vida real