quarta-feira, abril 03, 2013

ESPERA...

Nayane Macêdo - Alter do Chão

O sol se põe,
Deita-se no entardecer.
O espelho do rio
Tem a miragem do seu rosto...
Numa  ânsia de ilusões,
A saudade  traz você  na amplidão.
Desnuda-se a nostalgia.
Mistérios  se escondem sob as nuvens,
NA quase escuridão ...
Contrastes e   cores  se estampam
Paginando lembranças. 
Sentenciando  sentimentos; 
Alastrando-se num remanso  de querer.
Enquanto o rio passa suave...
Deixando resquícios de saudade
Na magia do anoitecer.
Uma espera  desajeitada, agitada...
Onde  está você?


Socorro Carvalho

Foto: Sérgio Ferreira

AMORES



Impossível amar apenas uma vez na vida. Seria até chato, se fosse verdade. Mesmo aquele, único e verdadeiro amor, nunca será solitário. É preciso aprendizado, achar que ama, para só então sentir, maturar um sentimento, ver ele se tornar real. O amor também evoluiu com as relações. Hoje ele é mais livre para ir e voltar. Mas quando é amor, amor de verdade, de alguma forma ele permanece.

Antigamente as pessoas mantinham uma relação em que o amor era um sentimento quase fraterno, que pressupunha carinho, respeito e, acima de tudo, a estrutura familiar, baseada nos pilares do casal. Esse amor era alimentado por uma estabilidade do lar, sobrevivia na acomodada rotina. Mesmo quando o sentimento se tornava ausente, os laços do orgulho seguravam o esteio do matrimônio. Os tempos mudaram e o amor floresceu, de braços dados com a paixão.

Os amores vividos ao longo da vida constroem a nossa história, ensinam as lições do coração, para que possamos errar de novo, desta vez ciente das consequências. Transformam nossa personalidade, fortalecem a nossa capacidade de lidar com as derrotas, especialmente aquelas em que perdemos para nós mesmos.

Amores com dose de paixão, pitadas de loucura e com uma intensidade eterna. Não importa o tempo que duraram, eles carregam nomes perpetuados na nossa trajetória amorosa. Representam filmes e canções através dos tempos. Serão sempre lembrados quando nos tornarmos singulares, à mercê de um novo amor. O coração vai sempre recorrer ao toque familiar, reconhecer o olhar acolhedor, àquela dúvida de tentar mais uma vez.

Amores vividos passam, porém permanecem marcados, nunca vão embora. Eles não acabam na despedida. Os anos passam e você consegue enxergar o que cada um representa nas suas atitudes, nos seus medos, na sua eterna vontade de viver. Amores passados são sempre presentes. Ensinam diariamente e norteiam nossas escolhas. Amores que ficam numa parede imaginária de lembranças, na linha do tempo da sua vida. Basta pegar uma foto, ouvir uma música, ou ler um poema para entender o que mudou em você. Não sentimos saudade daquela pessoa, mas a nostalgia nos faz lembrar que já fomos ingênuos para tanta coisa. O coração calejado de hoje apenas sorri com os erros do passado e nutre um carinho por quem nos fez feliz - mesmo que essa alegria seja mais responsabilidade sua, do que alheia. É uma sensação de encontro com o seu “eu” de anteontem, de uma vida de tropeços, mas também de uma juventude pueril, infante e destrabelhada para se relacionar.

Amores de outrora apenas reforçam a sabedoria atual, influenciam eternamente nossa capacidade de respeitar quem está ao nosso lado. Nem é preciso o toque em amores d'antes. Muitos amores perduram, exatamente, por não serem concretizados. A dúvida em consumar o amor, vale mais do que uma certa paixão vivida.

Amores vividos, bem vividos, me fazem feliz o tempo todo, por toda a vida. Viver um amor não significa amar, de fato. Quando isso acontecer, na hora em que aquele momento sublime invadir o seu peito, os amores lhe farão entender a diferença entre aproveitar um sentimento que surge, e vivenciar um amor de verdade. 

Chico Garcia - jornalista e cronista da vida real