sábado, agosto 24, 2013

VERDADE




“ A liberdade é o espaço 
que a felicidade precisa”.





É O AVESSO QUE ME CONTA AS DORES E OS AMORES DE CADA UM


Por que o sal não fica ao lado do açúcar? Preciso compreender isso se não quiser deixar o meu carrinho vazio de afetos.

POR MÔNICA EL BAYEH
 


Numa iniciativa de criatividade ímpar, motoristas de ônibus do Rio de Janeiro trocaram seus volantes por guidões. Passaram a ser ciclistas por um tempo. A proposta é vivenciar, ao menos um pouco, o impensado lugar do outro.


Motoristas de ônibus se queixam de todos. Todos se queixam dos motoristas. A troca, no mínimo inusitada, possibilita um olhar novo e afetivo que muda todo o cenário.  Eu, no lugar do outro.


O que você faria se estivesse no meu lugar?  Isso já deu até filme. É um tema infinito, inesgotável.  Tenho meus motivos, razões, convicções.  O outro também.  Quero que os meus sejam escutados, validados e seguidos.  O outro também.


Desço do meu pedestal de único dono da razão.  Faço o exercício de treinar minha escuta para o que o outro tem a acrescentar.  Só assim uma mudança pode acontecer.


Essa relatividade de perceber que o meu lado é apenas um dos lados da questão dá mais leveza ao trato com o outro.  Saio do meu trono.  Não sou mais rei poderoso, dono de toda a razão.  Sou igual aos demais, donos da mesma rua.  Nem minha, nem dele. De todos.


Razão cada um tem a sua.  Eu respeito, nem faço questão de estar certa.  Tudo é meio relativo, nenhum fato é cru e puro.  Há alguns tons de azul que, para mim, são verdes.  Não sou daltônica.  Apenas é assim que meus olhos interpretam a nuance.  Mas se o verde do outro para mim é azul, pouco importa.  Quero a beleza da cor na mistura.


Toda questão tem pelo menos dois lados: o de dentro e o de fora.  Olhando de fora, temos uma percepção.  Mas é o avesso que me conta o que o direito não expõe.  No avesso é que há os emaranhados de linhas, os nós que amarraram o caminho, os arremates mal feitos, as gambiarras que a gente ajeita para que a vida siga como puder.  É o avesso que me conta as dores e os amores de cada um.