Quem nunca
sentiu em plena luz do dia o mundo cinzento e circunspecto à sua volta, levante
a mão. As palavras saindo da boca sem ordem e sem juízo. O discurso
atrapalhado, estendendo os braços por detrás de sentenças inteiras sobrepostas
umas sobre as demais.
Brincadeira
ainda verde de cabra-cega, esgueirando os restos de infância através de um
corpo decididamente maduro. Quem nunca ansiou compor de quietude seus gestos e
de apaziguamento sua mente? Confesse enquanto há tempo.
Afinal, qual
a diferença entre solidão e o se sentir solitário?
Solidão é
algo imenso, calmo, às vezes até grandioso. Uma nobreza ímpar — tingida, com
frequência, de um lilás bem clarinho.
Uma cor que se mantém delicada e transparente mesmo em dias de vento
forte. Em um de seus líricos desabafos, Machado de Assis sentenciou:
“Desesperado, cuidei que o ar e a solidão me aplacassem o ânimo”.
Os
dicionários comentam da qualidade feminina e substantiva da solidão.
Entretanto, há controvérsias que se agitam nas definições. Alguns arriscam
entendê-la como um “estado de quem está totalmente só; imerso em Isolamento
moral e interiorização espiritual”. Outros atribuem modalidades ásperas,
ariscas, queixumes de abandono a esta palavra, que se preenche inteira de suas
singulares percepções.