Foto: Marquinho Mota |
Uma coisa é amar por necessidade
e outra é amar por valor
Uma das características da
infância é a incapacidade de dividir coisas. Uma criança não pode dividir
porque não se possui, porque ainda não sabe o que ela é. Você começa a
identificar a maturidade a partir do momento em que uma criança consegue
perceber as regras de um joguinho.
A maturidade faz parte de um
processo. Em um processo não podemos queimar etapas. Ele é lento, chato e
demorado.
Uma criança passa por um momento
de amadurecimento a partir do momento em que começa a brincar. A maturidade
acontece quando tomamos posse do que nós somos, para aí então podermos nos
dividir com os outros. Isso faz parte desse processo de amadurecimento.
Não nascemos amando, pelo
contrário, queremos ter a posse dos outros. Essa é a forma de amar da criança,
pois ela não consegue pensar de maneira diferente. Ela não consegue entender
que o outro não é ela. Quantas pessoas, já adultas, ainda pensam assim,
trata-se da incapacidade de amar devido à falta de maturidade.
Todos os encontros de Jesus
Cristo levam à implantação do Reino de Deus. Mas só pode implantá-lo quem é
adulto e já entende que só se começa a amar a partir do momento em que eu não
quero mudar quem eu amo.
Geralmente quando tememos alguém
ruim ao nosso lado é porque nos reconhecemos naquela pessoa. Jesus não tinha o
que temer porque era puramente bom, por isso contagiava os que estavam ao lado
d'Ele.
Na maturidade de Jesus você
encontra a capacidade imensa de amar o outro como ele é. Amar significa amar o
outro como ele é. Por isso quando falamos em amar os outros podemos perceber o
quanto deixamos de ser crianças. Devemos nos questionar a todo o momento com
relação à nossa maturidade.
A santidade começa na
autenticidad, por essa razão Cristo nos pede que sejamos como as crianças, que
são verdadeiras e simples. É nisso que devemos manter da nossa infância e não a
forma de possuir as coisas para nós mesmos.
Você tem condições para perceber
a sua maturidade. É só observar se você é obediente mesmo quando não há pessoas
ao seu redor. Você não precisa que ninguém o observe, pois você já viu aquilo
como um valor.
Pessoas imaturas sofrem dobrado.
Pessoas imaturas querem modificar os fatos; ao passo que pessoas maduras deixam
que os fatos as modifiquem. A maturidade nos faz perceber que não podemos mudar
os fatos. Um imaturo ganha um limão e o chupa fazendo careta. O maduro faz uma
limonada com o limão que ganhou.
Muitas vezes, os nossos
relacionamentos de amizade são uns fracassos porque somos imaturos. Amigos não
são o que imaginamos, mas o que eles são e com todos os defeitos. Amizade é
processo de maturidade que nos leva ao verdadeiro encontro com as pessoas que
estão ao nosso lado. Elas têm todos os defeitos, mas fazem parte da nossa vida
e não as trocamos por nada deste mundo. Isso porque temos alma de cristão e
aquele que tem alma de cristão não tem medo dos defeitos dos outros, porque
sabemos que esses defeitos não serão espelhos para nós; mas seremos
instrumentos de Deus para que os superem.
Padre só pode ser padre a partir
do momento em que é apaixonado pelos calvários da humanidade. Se você não
consegue lidar com os limites dos outros, é porque você não consegue lidar com
os seus limites. A rejeição é um processo de ver-se.
Toda vez que eu quero buscar no
outro o que me falta, eu o torno um objeto. Eu posso até admirar no outro o que
eu não tenho em mim, mas eu não tenho o direito de fazer dele uma representação
daquilo que me falta. Isso não é amor, isso é coisa de criança!
O anonimato é um perigo para nós.
É sempre bom que estejamos com pessoas que saibam quem somos nós e que decisões
nós tomamos na vida. É sempre bom estarmos em um lugar que nos proteja.
Amar alguém é viver o exercício
constante de não querer fazer do outro o que nós gostaríamos que ele fosse. A
experiência de amar e ser amado é, acima de tudo, a experiência do respeito.
Como está a nossa capacidade de
amar? Uma coisa é amar por necessidade e outra é amar por valor. Amar por
necessidade é querer sempre que o outro seja o que você quer. Amar por valor é
amar o outro como ele é quando ele não tem mais nada a oferecer, quando ele é
um inútil e, por isso, você o ama tanto. Na hora em que forem embora as suas
utilidades você saberá o quanto é amado.
Tudo vai ser perdido, só espero
que você não se perca. Enquanto você não se perder de si mesmo você será amado,
pois o que você é significa muito mais do que você faz.
O convite da vida cristã é este:
que você possa ser mais do que você faz!
Padre Fábio de Melo, sacerdote da
Diocese de Taubaté, mestre em teologia, cantor, compositor, escritor e
apresentador do programa "Direção Espiritual" na TV Canção Nova.
Fonte: Canção Nova