Em
cada verso me realizo. Sinto-me feliz em escrever. A escrita me liberta. As
palavras me dão asas. Permitem-me a liberdade de sonhar, expressar sentimentos,
me realizar. Quando escrevo, uma
excitação me doma e cada poema é um
gozo. Na simplicidade dos meus versos contemplo as mais intimas emoções. Em
cada momento ímpar uma suave inspiração. O amor e todos os sentimentos bons enchem
de vida minha poesia. Às vezes sou rima e em outras, nem tanto...
Se
estou feliz ou triste, escrevo. Escrever me dá prazer, me faz retratar melhor o pulsar feliz do meu coração. A escrita transcende as fronteiras da felicidade e me permite narrar o êxtase com suas mais
íntimas explosões e peculiaridades. A
escrita também acalma é paz e minha única companheira nas horas de solidão. Não sou poeta, mas rascunho versos. Brinco de
fazer poesia. Escrever é uma arte. Arte de saber brincar com as palavras
traduzindo versos em plena melancolia ou mesmo transcrever a mais pura e louca
sensação de prazer e alegria.
A
escrita, em minha vida, é uma mistura de boas sensações. Penso que a escrita tem também um significado ou uma necessidade para escritores, estudiosos e poetas.
Por exemplo, para José Saramago: "No fundo, todos temos necessidade de
dizer quem somos e o que é que estamos a fazer e a necessidade de deixar algo
feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma
de eternidade."(
José Saramago)
.Concordo
com o pensamento de Saramago, muito embora, apenas escreva como sentimento de
desabafo, não para agregar meu nome a história mas escrevo como forma de expressão dos pensamentos e sentimentos. Isso
me basta.
Penso que em muitos casos me identifico um pouco com a poetisa Clarice Lispector , que era um tanto louca, despojada
e escrevia pelo simples prazer: "Eu
escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera
em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente
está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." ( Clarice Lispector) Tenho, também, a
convicção de que escrevo apenas para
libertar o que está preso.
Enfim, escrever me dá paz. Gosto da simplicidade
e da riqueza ao lidar com as palavras
que se juntam nas frases. Longe de ter a presunção de ser a melhor na
escrita, afinal, o que escrevo é íntimo e faço pelo simples prazer de primeiro
me realizar intimamente. O contentamento externo vem como brinde desse
envolvimento. Portanto, certo ou errado. Guarde seus comentários e correções.
Eles não me interessam. Gosto de
escrever. Escrever sobre a poesia que encontro nos olhos das pessoas, sobre o
sorriso bonito no rosto de uma criança. Gosto de escrever a leveza e beleza das
flores. Gosto de escrever sobre o arrepio da pele que o sexo causa, a
extremidade do gozo... etc. Gosto muito de
escrever sobre minha alegria mais extasiante e tristeza mais profunda. Não tenho ganâncias,
nem interesse de dominar ou ser a dona do mundo, não. Tudo nessa vida é
passageiro. Só os bons sentimentos são eternos. Mas o que fazer se até mesmo
eles estão ali diante de meus olhos, enterrados no cemitério. E me são
inspiração de cada instante, para que a cada dia eu seja melhor. Não quero a
peso da ganância, da arrogância, da prepotência. Prefiro ser feliz com a leveza
do riso e a rima alegre da minha rústica poesia. Prefiro a simples alegria de
viver e encontrar inspiração nas pequenas coisas ao meu redor, sem me deixar perder da minha própria essência.
Se,
neste momento, tivesse que explicar esse amor pela delícia da linguagem escrita
diria apenas que gosto de escrever, simplesmente. Gosto de encontrar e sentir
êxtase na simplicidade das palavras e frases. Quintana, um dos grandes poetas já dizia: “Viver é acalentar sonhos e esperanças, fazendo da fé a nossa
inspiração maior. É buscar nas pequenas coisas, um grande motivo para ser
feliz!” (Mário Quintana). Num último
instante, empresto do poeta Ferreira Gullar o poema - Traduzir-se,
um pouco do meu eu, nessa escrita que me
consome, afinal de contas quando escrevo...
“Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se
uma parte
na outra parte
- que é uma questão
uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte”?
será arte”?
Escrever
é uma arte. Arte que me fascina, então, que eu continue encontrando inspiração,
na simplicidade da minha existência e, em especial, na serenidade gostosa dos
seus olhos...
Socorro
Carvalho