A vida real não combina com cenas
hollywoodescas. Por muito que se espere por aquele primeiro beijo que nos faça
parar a respiração e dê início a um romance incandescente, o mais cedo é que o
primeiro roçar de lábios costuma ser vacilante, investigativo, diria mesmo
decente. Só minutos mais tarde se acende a labareda – se não acender fuja bem
depressa, imagine o resto se o beijo não foi bom – ou se percebe o erro.
Adiante.
Como não existe um George Clooney
(nem um homem como o pai das minhas filhas) para todas contentamo-nos com
engenheiros mecânicos, analistas de sistemas, jornalistas, personal trainers.
Mais do que um Clooney, o que toda a mulher aspira é alguém que a escute, que
faça rir, que a deseje (mesmo quando acorda despenteada), que a respeite e se
orgulhe das suas conquistas. Parece simples mas é mais complexo do que a
hipótese de Poincaré.
Permitam-me que vos apresente
três mulheres, três amigas. São mulheres bem-sucedidas, viajadas,
independentes, cultas, com uma carreira sedimentada e muitas histórias para
contar. Começo pela S. que viveu na India, no Nepal, no Sri Lanka, de mochila
às costas, dando aulas de inglês para se sustentar, como repórter cobriu
guerras várias, fala cinco idiomas e tem uma das gargalhadas mais bonitas que
conheço. A A., com quem partilhei quarto no Bornéu e na Malásia, é doutorada e
curadora de arte, vive no Cairo e em Bagdade, apesar de ser americana e católica.
A M. é professora universitária (Stanford diz-vos alguma coisa?), percorreu o
interior do Grand Canyon a pé, observou baleias no Alasca, prática ioga e
danças africanas. As minhas são muito atraentes, estão início dos quarenta, e
vivem sozinhas. Não necessariamente por opção. Todas se lamentam que os homens
têm medo de mulheres fortes, que não dançam conforme a música mas que compõem a
música com a qual querem dançar.
Conheço muitas mulheres como
elas, que têm tudo para fazer um homem feliz ( não precisam de “papás”, nem que
lhes paguem as contas, sabem mudar um pneu, são descomplexadas na hora do sexo
e sabem preencher os formulários dos impostos, têm a capacidade de se entregar
sem reservas ao homem que escolherem). E sabem o que penso? Acho que para um
homem aceitar a força e a independência de uma mulher necessita ser
verdadeiramente homem e não somente “macho”. Reconhecer e admirar a capacidade
de uma mulher, respeitar a sua liberdade – porque afinal ninguém é de ninguém –
é de homem com agá maiúsculo, uma espécie cada vez mais rara. Ou estou
enganada?