quarta-feira, maio 20, 2015

O DEVANEAR DE BOAS LEMBRANÇAS...



É sábado. A noite chega devagar... O ar se invade de nostalgia, enquanto, na “vitrola” Leonardo ( grande cantor sertanejo) com sua voz rouca e gostosa faz ressoar um ruído de saudade me trazendo lembranças, boas recordações do passado. São tantas coisas, momentos, pessoas... Inesquecíveis. No meu peito passeiam velhas histórias, loucas aventuras, sentimentos maravilhosos. As amizades, os amores, a distância de um tempo que não vem mais...


Oh, tempo bom! O viver sem compromisso de dias e noites intermináveis. O sonho, o conto de fadas, “estórias” contadas, mas que até hoje permanecem aqui, bem guardadas. A música é mesmo uma arte preciosa, nos permite a alegria de trazer para perto algo bom, ou mesmo, alguém que nos fez muito bem (mesmo que essa vinda seja somente em pensamentos, devaneios).


Ah, tempo, tempo... Como o vivi intensamente e como fui feliz. Cada instante, cada loucura, me eram sintonia, harmonia de um viver de novas descobertas. Em cada canto, um recanto de encontros. Um paraíso que roubava o meu agitado universo. E tudo era tão bom. Cada sabor de loucura tinha o fogo do amor, que animava, acordava minha mais pura adrenalina para aguçá-lo de novas experiências. Cada momento era um intenso viver.


Ah, saudade! Que vem no refrão, na canção, a tumultuar meus sentidos... O encanto de cada olhar, o riso lindo e leve, a voz, uma junção perfeita para minha composição. E tudo era tão bom. A liberdade do amar, a certeza do gostar,  me eram versos em cada por do sol e inspiração de cada manhã... Tempo bom e distante, que não volta jamais.


Hoje é mais um sábado e continuo sozinha em meio a tantas lembranças. Leonardo continua cantando: “... diz pra mim se é você que eu tanto quero, eu preciso descobrir se é você meu doce mistério”... São tantas interrogações perdidas num acaso fincadas num tempo de outrora. Quantas recordações dos sábados de vento na face, de praias desertas, ou mesmo um sorvete a beira da estrada numa forma de liberdade mais infinda, sem repressão, sem medos, sem falsos conceitos. Era o viver, simplesmente. E tudo era tão bom... Mas o tempo passou e hoje guardo em cada música as boas lembranças vividas num tempo que (ainda, não ) passou...


 Hoje é mais um dia de sábado e a noite estagnada nem percebe minha doida ansiedade. Ah saudade, de um tempo tão bom que não volta jamais... Enquanto Leonardo continua cantando:... “O tempo vai, o tempo vem, a vida passa e eu sem ninguém. Cadê você que nunca mais apareceu aqui”... E a noite vai seguindo indiferente a minha saudade e solidão... 



Enquanto espero você, ensaio poemas no passado. Enquanto imagino  você,  que na mais perfeita forma de liberdade ainda não permitiu lhe conhecer. Mesmo assim, sinto saudade. Saudade  só de imaginar você... Minha outra metade.

Socorro Carvalho

* Estou estudando o poeta Fernando Pessoa....compreensível, então, esse estranho devanear.