quinta-feira, agosto 27, 2015

UMA REFLEXÃO SOBRE FELICIDADE...

Esses dias, a convite de minha comadre Rute Sampaio, eu estive na vila de Alter do Chão passando um final de semana. Contagiada pela alegria e jeito despojado de minha comadre,  me embalei  no carimbó, aderi aos vestidos e saias longas, contemplei o por do sol, o nascer do sol entre as flores, além é claro de desfrutar da deliciosa companhia de minha afilhada Natalie e meu postiço sobrinho Luan. Junto deles falamos de tudo, de fé, religião, filosofias de vida, política, geografia, biologia e outras coisas mais. Enfim, em tão pouco tempo desfrutei de bons e grandes momentos. Encontro perfeito com um dos seres mais preciosos da natureza, o ser humano. Mas enfim, deixando um pouco Natalie e Luan de lado, quero falar aqui de algo que me trouxe essa reflexão de vida, justo em um dos momentos não muito bons da minha vida. Um momento que a dúvida me cercava os sentidos e me domava  por uma louca vontade de  mandar tudo e todos “para a puta que pariu”,  só que isso faz parte de outro departamento, contexto e que não me convém expressar neste momento.



Porém, em meio a essa minha busca louca imposta por esse sistema desajustado de tanta ganancia, disputa de egos, algo muito forte me chamou a atenção em Alter do Chão. Nas três noites em que fui à praça apreciar e dançar o carimbo,  pude observar e refletir sobre o modo de viver e de ser feliz. Aqui me refiro ao sentimento de liberdade, que muitas vezes não podemos usufruir, ou expressar. Por N motivos... Seja pela condição social, profissional, pessoal ou algo assim. O que nos priva o desfrute de grandes e especiais momentos. Dessa forma seguimos sob as fortes grades de um sistema,  que nos oprime e sufoca nesse incessante desejo de ter sem nos permitir  ser.



Ao falar em ter, falo agora do que observei e que me levou a vir aqui escrever. o povo hippie, que faz  circo, e mora em Alter do Chão.  Entre o toque do tambor e da calorosa voz de mestre Chico Malta e banda, regado a uma estúpida Tijuca gelada, de longe, observava aquele povo atentamente. Homens, mulheres, jovens, até crianças ali unidas, todos juntos, como uma comunidade ordenada naquele espaço. Cada um e cada uma com uma função dentro do imaginário circo armado e lá se apresentava com seu equilibrismo, seus malabares. Porém,  em cada ação movida por eles e elas minha mente viajava nas muitas reflexões. Observava quantos sorrisos, sorriso  em cada rosto que  dava o ar e a graça da arte. A alegria de estar ali partilhando o que de melhor eles sabem fazer o circo, a arte. Tudo isso,  apenas bonificados pela gorjeta de alguns fregueses contagiados, como foi o caso do pequeno JP que ia no ouvido da avó pedi o trocado para levar ao rapaz equilibrista,  que no microfone  também narrava cada cena do espetáculo. E ao final, o mais gratificante, foi vê-los  pegar  aquele pouco que ganharam, comprar pizza e essa ser  cortada em dezenas de pedaços e  com todos e todas ser  partilhada. Bela lição de vida aquela turma me dava, mesmo no anonimato!!  Enquanto,  lá da mesa, sentada,  apenas observava cada passo, cada gesto daquele povo tão livre e ao mesmo tempo  tão  feliz. O cheiro forte de suor dos corpos suados, da roupa suja ou mal lavada, eram detalhes que pouco me importava,  naquele momento. Só estava focada na felicidade que estava expressa no rosto daquele povo ali sentado na calçada, com rostos e expressões únicas. Mesmo sem banho perfumado, sem roupa de grifes,  em cada um e em cada uma, além do brilho pessoal, se somava ao brilho da noite cariciada pelo  sereno a contagiá-lo (la), em meio, aqueles doces e breves momentos.



O mais interessante ainda era ver a qualidade do amor próprio que há em cada um e cada uma, se ninguém aplaudia logo pediam aplausos e a plateia se contagiava. Enquanto os demais hippies vibravam entusiasmados em cada novo espetáculo. Quanta amizade e solidariedade há naquele povo. Então, cada vez mais curiosa, fiquei com vontade de saber o que seria felicidade para eles. Então, em particular,  chamei uma das moças  hippie e perguntei baixinho: o que é felicidade para você? E ela sorrindo me olhou e simplesmente respondeu: “Felicidade é viver”. Agradeci a resposta e ela me brindou com um sorriso mais lindo ainda. E na simplicidade daquela resposta e gesto encontrara eu,  o cicatrizante de minhas maiores dores e a cura das feridas que estavam a atormentar minh’alma. “Felicidade é viver”. Frase essa que , a todo instante, ficava se repetindo em minha mente.  Realmente a vida é o sentido de tudo. Se esquecermos de viver não seremos  felizes.



Enquanto buscamos tanto para adquirirmos essa tal felicidade tão almejada, aquele povo sendo ali  absurdamente feliz com tão pouco.  Para eles e elas o que importa é somente a liberdade de  viver. E alguns presunçosos diriam: “ áh, são mesmo é um bando de  maconheiros, fedorentos, desleixados”, não tenho vergonha nenhuma de dizer, que também pensava assim. Porém, hoje os tenho como inspiração de vida, do sentido  de ser feliz com tão pouco. Se eles e elas não usam perfumes, eu pergunto: quem disse que o perfume é essencial? O sistema foi que  nos impôs  esses costumes mercantilistas, o hábito de se depilar, se perfumar, ter casa para morar etc. E eu tão preocupada com tantas coisas supérfluas, enquanto tenho em meu ser e ao meu redor tantas coisas preciosas para desfrutar...



Ver o por do sol, conhecer gente de outros estados, fazer novas amizades  foi muito  maravilhoso. Porém, melhor que isso foi à reflexão que trouxe na mente, de que posso ser feliz com esse monte de coisas que tenho. A exemplo deles e delas, após desfazer o cenário do  circo, se despem da fantasia e se deixam embalar pelo ritmo do carimbó esbanjando a mais pura alegria. Assim seguem desfrutando da vida e de tudo que ela dá dia a  dia, a graça de viver.



 Sinceramente foi revigorante estar em Alter do Chão, mesmo sem ir à praia, sem tomar banho no Rio Tapajós, voltei de alma bronzeada de muito amor, compreensão e o mais interessante, voltei  com a áurea renovada e novos pensamentos a respeito da vida. Às vezes, nos importunamos tanto por  um ego ferido  e, ou  melindragem tão insignificantes que nos esquecemos de olhar novos horizontes com novas dimensões e que vão além de tudo isso. Nunca me senti uma pessoa egoísta, gananciosa, mesquinha, mal amada ou coisa assim, mas muitas vezes já me senti angustiada por me julgar impotente diante de situações tão simplórias, mas que o fato de não ter me fizera  revoltada, enfim isso poderá ser narrado em outro texto. Por enquanto quero só  desmontar o circo, tirar a fantasia e a exemplo do povo hippie,  me embalar na alegria da vida, no sentido pleno de viver e ser feliz, como bem disse Michelle,  com um  belo sorriso naquele  rosto suado após muitos passos carimbolados... Não me tornarei uma hippie, claro,  mas certamente  a partir de agora olharei a vida, ainda,  com mais sentido e  significados. Um olhar concreto, de que viver ser feliz é um grande barato... Então, senhoras e senhores, um brinde a vida, um brinde à felicidade, vai começar o espetáculo...



Obrigada meu Deus, pela felicidade intensa que me proporciona em cada novo dia em que posso acordar e ver uma nova manhã, e viver...

Socorro Carvalho