segunda-feira, novembro 09, 2009

SERENATA

Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.


Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.


Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.




Cecília Meireles

HÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAM


Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.


Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.


De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.


(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)


Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.





Alexandre O'Neill

ESSA É FORTE...


"Não existe nenhum disfarce
que possa esconder o amor durante muito tempo onde ele existe,
ou simula-lo onde ele não existe."

(La Rochefoucauld)

SOBRE A PAIXÃO...

"As paixões são como ventanias que sopram as velas dos navios, fazendo-os navegar; outras vezes podem fazê-los naufragar, mas se não fossem elas, não haveriam viagens, nem aventuras, nem novas descobertas."



(Voltaire)

A TARDE


Era a hora em que a tarde se debruça
La na crista das serras mais remotas...
E d'araponga o canto, que soluça,
Acorda os écos na sombrias grotas;
Quando sobre a lagôa, que se embuça,
Passa o bando selvagem das gaivotas...
E a onça sobre as lapas salta urrando,
Da cordilheira os visos abalado.



Era a hora em que os cardos rumorejam,
Como um abrir de bôcas inspiradas,
E os angicos as comas espanejam,
Pelos dedos das auras perfumadas...
A hora em que as gardênias, que se beijam,
São tímidas, medrosas despojadas;
E a pedra...a flôr...as selvas...os condôres
Gaguejam...falam... cantam seus amores!



Hora meiga da tarde! Como és bela
Quando surges do azul da zona ardente!
- Tu és do céu a pálida donzela,
Que se banha nas termas do oriente...
Quando é gôta do banho cada estrêla,
Que te rója da espádua refugente...
E- prendendo-te a trança a meia lua
Te enrolas em neblinas semi-núa!



Eu amo-te ó mimosa do infinito!
Tu me lembras o tempo em que era infante.
Inda adora-te o peito do precito
No meio do martírio excruciante;
E se não te dá mais da infância o grito,
Que menino elevava-te arrogante,
E' que agora os martírios foram tantos,
Que mesmo para o riso só tem prantos!...



Mas não me esqueço nunca dos fragedos
Onde infante selvagem me guiavas,
E os ninhos do sofrer que entre os silvedos
Da embaíba nos ramos me apontavas;
Nem mais tarde, dos lânguidos segredos
Do amor do nenufar que enamoravas...
E as tranças mulheris da granadilha!...
E os abraços fogosos da baunilha!...



Eu te amei tanto - cheia de harmonias,
A murmurar os cantos da serrana,
A lustrar o broquel das serranias,
A dorar dos rendeiros a cabana...
E te amei tanto - á flôr das aguas frias
Da lagôa agitando a verde cana,
Que sonhava morrer entre os palmares,
Fitando o céu ao tom dos teus cantares!...



Mas hoje, da precela aos estridores,
Sublime, desgrenhada sobre o monte,
Eu quisera fitar-te entre os condôres
Das nuvens arruivadas do horizonte...
- Para então - do relâmpago aos livores,
Que descobrem do espaço a larga fronte,
Contemplando o infinito... na floresta,
Rolar ao som da funeral orquestra!
Foto: Ronaldo Ferreira
Poema: ANTONIO DE CASTRO ALVES- Poeta brasileiro, nasceu na Bahia a 14 de março de 1847 e faleceu a 6 de julho de 1871.

O DIREITO DE SER FRÁGIL

Não é possível falar de crescimento humano se antes não falarmos de reconhecimento dos nossos limites. O bom treinador é aquele que vai saber salientar a qualidade do atleta, mas, sobretudo, vai saber encaminhá-lo para a superação dos limites. O primeiro passo é reconhecer onde a gente precisa melhorar.


É um grande desafio para todos nós porque, lamentavelmente, as pessoas não estão preparadas para nos educar para a coragem. Pois, muitas vezes os incentivos que nos são dados estão mais voltados para esquecermos as nossas fragilidades. Quando mostramos as nossas fragilidades, há uma série de repreensões diante de nós.


Você já reparou que a gente não deixa a criança chorar? Já reparou que quando o recém-nascido chora, nós fazemos de tudo para calar a boca dele.

Nós, humanos, temos uma dificuldade imensa de lidar com a fragilidade do outro – ainda que seja filho da gente. Nós gostamos é de todo mundo feliz. Não estamos preparados para encarar a fragilidade. Parece que a nossa educação está sempre voltada para nos revestir de uma coragem que nos faz esquecer o limite.


São Paulo nos fala para que o seu espírito não se enchesse de orgulho e vaidade, foi lhe colocado um "espinho na carne".(2Cor 12,1-10). Ter coragem é descobrir onde está a nossa fragilidade e ali trabalhar com um empenho um pouquinho maior. É não desconsiderar o que temos de bom, mas é também colocar atenção naquilo que ainda temos que melhorar. Estamos em processo de feitura. Não estou pronto, eu não sou perfeito, estou sendo feito aos poucos e neste processo aos poucos eu vou descobrindo onde é que dói este espinho.


Para você retirar um espinho, às vezes, é preciso deixar inflamar. É como se o seu corpo dissesse: “Isso não me pertence”. De qualquer jeito, nós temos que tirar aquilo que não nos pertence. Tem algumas inflamações do espírito, da personalidade que tem gente que é tão aborrecida que a gente não pode nem encostar. São aquelas inflamações que se alastram.


E aí é que entra a grande contribuição do Cristianismo, numa proposta antropológica. Deus não quer que você seja um anjinho na terra. Ele quer te mostrar as inflamações para que você lute.

Cara feia, arrogâncias, isso é complexo de inferioridade. Sabe qual é o espinho? O medo, a insegurança. Quanto mais uma pessoa está aperfeiçoada no processo de ser gente, maior é a facilidade de conhecer limites.


A pior ignorância é aquela que finge que sabe! Temos medo de mostrar que não aprendemos, que somos frágeis. Quantas vezes na nossa vida, por medo, perdemos a oportunidade de aprender.

Às vezes, por medo de expor a nossa fragilidade, perdemos o direito de chorar.

Nós somos todos iguais. Nós, padres, somos todos iguais. Não adianta a gente fingir que é forte, ou ficar fingindo que não sente e que não tem medo. Eu não sei se você tem mais de cinco pessoas que conhecem os seus segredos. Pessoas que te enxergam por dentro são raras.


Conversão é isso. É você educar o seu filho para ele poder te contar onde estão os espinhos. O espinho não é o defeito, mas é a seta que nos mostra onde temos que trabalhar para ser melhor.


Há tantas situações que nos deixam com o “coração na boca”. Às vezes, nós colocamos muito mais atenção naquilo que as pessoas estão achando de nós, do que no que nós pensamos de nós mesmos.


Examine-se, você é uma pessoa que consegue levar o outro à cura. Em última instância, o que vai sobrar de nós é a nossa vontade de amar. Vamos descobrir o que hoje em nós está "infeccionado", porque é preciso sangrar, é preciso reconhecer-se frágil.




Pe. Fábio de Melo
É professor no curso de teologia, cantor, compositor, escritor e apresentador do programa "Direção espiritual" na TV Canção Nova.



UMA FRASE...

" Os anos enrugam a pele, mas renunciar ao entusiasmo faz enrugar a alma".

Albert Schweitzer