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Espanhol Manuel Calvo Hernando foi fundador da Associação Ibero-Americana de Jornalismo Científico e seu curso na ECA-USP, em 1972, estimulou a criação da Associação Brasileira de Jornalismo Científico(manuelcalvohernando.es) |
O jornalista espanhol Manuel Calvo Hernando, conhecido pelo
trabalho pioneiro com divulgação científica, morreu aos 88 anos no dia 16 de
agosto, em Madri.
Dedicou-se ao
jornalismo científico desde a década de 1950. Foi um dos fundadores da
Associação Ibero-Americana de Jornalismo Científico, em 1969, da qual foi
secretário-geral, e da Asociación Española de Periodismo Científico, em 1971,
da qual foi presidente de honra – a entidade é atualmente conhecida como
Asociación Española de Comunicación Científica.
Nascido em
Fresnedillas de la Oliva, nos arredores de Madri, Calvo Hernando começou sua
carreira como redator do jornal Ya, no qual chegou a redator-chefe e
subdiretor. Foi o responsável pela comunicação no Instituto de Cultura
Hispánica. Em 1999, aos 75 anos, doutorou-se em Jornalismo Científico.
Autor de mais de 30
livros e centenas de artigos sobre jornalismo científico, foi vice-presidente
da Asociación de la Prensa de Madrid e professor na Universidad CEU San Pablo,
em Madri. Em 2008, foi homenageado pelo Conselho Superior de Investigações
Científicas da Espanha pelo trabalho com a divulgação da ciência.
“Se queremos
realmente uma sociedade democrática, é preciso que todos entendam a ciência”,
disse Calvo Hernando em entrevista à revista Ciência e Cultura em 2005.
A respeito da
formação dos jornalistas científicos, disse: “Como os campos científicos são
muito específicos, não me parece adequado que os jornalistas sejam formados em
cursos de ciência. Mas os jornalistas deveriam fazer uma disciplina de história
da ciência e metodologia científica e, depois, fazer como fiz: escolher quatro
ou cinco disciplinas – como física, latim, filosofia ou matemática – que, mais
tarde, possam servir de base para todo o resto. A partir do momento em que os
comunicadores entenderem e souberem o que é a ciência e o método científico,
poderão se especializar na área de seu interesse”.
Repercussão no Brasil
“A morte de Manuel
Calvo Hernando representa uma lacuna significativa no campo da divulgação
científica, pelo papel de incentivador e animador que ele vinha exercendo,
desde 1955, quando se destaca como jornalista devotado à cobertura da ciência e
da tecnologia”, disse José Marques de Melo, professor emérito da Universidade
de São Paulo (USP) e diretor da Cátedra Unesco de Comunicação na USP, à Agência
FAPESP.
“Tive o privilégio de ser um dos seus alunos de
pós-graduação, no curso que frequentei em 1965, no Centro Internacional de
Estudios Superiores de Periodismo para América Latina, sediado pela
Universidade Central do Equador. Suas lições foram basilares para a
aprendizagem e o exercício crítico do jornalismo científico”, disse.
“Convidei-o a
conhecer o Brasil, quando o visitei em Madri, em 1970, ocasião em que
manifestou o seu respeito e admiração por José Reis. Nesse mesmo ano veio a São
Paulo e, na Escola de Comunicações Culturais da USP, ministrou um curso
pioneiro sobre Jornalismo Científico, frequentado pela vanguarda desse setor em
nosso país. Retornou em várias outras ocasiões, sempre entusiasmado com a
formação das novas gerações”, disse Marques de Melo.
“Foi por inspiração
de Calvo Hernando que se fundou, em 1977, a Associação Brasileira de Jornalismo
Científico (ABJC), reunindo profissionais e acadêmicos, bem como ajudando a
integrá-la na comunidade internacional. Seus livros sobre jornalismo científico
constituem fontes indispensáveis aos jovens que se iniciam nesse ambiente”,
disse.
O médico e jornalista
Julio Abramczyk, também importante divulgador da ciência, é outro que conheceu
bem Calvo Hernando. "Para ele não era suficiente usar adequadamente o
idioma na divulgação científica. Era necessário empregar também uma linguagem
jornalística, isto é, clara, breve, concisa e simples”, disse o colunista de a
Folha de S.Paulo.
“Calvo Hernando se
destacou por incentivar em vários países da América Latina, por meio de quase
uma centena de cursos e palestras, o desenvolvimento e a criação de associações
de jornalismo científico”, disse Abramczyk.
“Graças ao seu
empenho, São Paulo foi a sede, em 1982, do 4º Congresso Ibero-Americano de
Jornalismo Científico, realizado concomitantemente com o 1º Congresso da ABJC,
cuja repercussão resultou, na década de 1980, na criação de editorias de
Ciência e Tecnologia nos principais jornais do país”, destacou.