segunda-feira, agosto 27, 2012

EM ALTA MIRA



Em Alta mira tento matar minha curiosidade. A cidade dos noticiários que abriga em seu leito o belo Monstro, ou a vista de belo Monte, não sei,  ao certo. Porém, mesmo diante de tanta curiosidade quase nada posso ver. As pessoas são estranhas, as ruas, os lugares os costumes. Apenas vejo gente que passa, carros e motos que se movimentam, ordenados ou desordenados. De capacete, ou sem, com pressa e sem pressa, mas passam. Enquanto cá dentro de mim a curiosidade continua. A energia se vai, a luz se apaga. Não é novidade. O que houve? Nada não, apenas, mas um transformador estourado e as luzes apagadas, naquela rua, naquele bairro, da cidade. Na escuridão, tento acalmar minha ansiedade... Mas é inútil. Saio às ruas e não vejo quase nada, tudo está escuro. Resta-me apenas a opção de fechar os olhos e dormir, e tentar acalmar minha preocupação. De  janela aberta, espero o sono enquanto ele não vem. O vento bate traz ventilação natural, perdida em meus pensamentos,  adormeço. Logo  amanhece e recomeça outro dia de lida, de vida...(graças a Deus) a cidade  acorda. A rotina de quem trabalha se inicia. Pego uma carona e sigo para o local do encontro. Logo de cara, observo uma estranha movimentação, do outro lado da rua, em frente a uma galpão vejo uma aglomeração, são dezenas de homens, talvez  uma centena, não sei  ao certo... Quantas interrogações se acumulam dentro do meu olhar em Alta Mira naquela ocasião. Quem são eles? Antonios, Joãos, Josés, Raimundos? De onde vieram? Piaui, Maranhão, Mato Grosso, Amazonas, Pará? Não sei. Não tenho a carteira de identificação. Apenas meu olhar está cheio de interrogações.  Fito o olhar na naquela concentração e em cada um que passa por mim  vejo risos, olhares curiosos, outros perdidos, serenos , descontraídos, firmes,  em cada rosto uma expressão. Anônimos. Porém, humanos e em cada um deles um coração a bater. O dia termina preciso voltar. Chamo um taxi. E enquanto passo rápido em meu trajeto, continuo a ver  homens,  eles são muitos, de diferentes aspectos, estaturas, uns altos, outros baixos,  que caminham de um lado para o outro, as vezes, parecem confusos e sem direção certa.. A busca de emprego, a sede de “vencer” se acenam do alto do “belo” Monte. Um monte que não avisto. Interrogo o taxista, e enquanto ele dirige vai respondendo minhas perguntas. São tantas... e tantas. Mas para minha alegria o homem é simpático e segue respondendo ou as vezes tentando dar uma resposta a minha inquieta ansiedade. A viagem é rápida, mas com  tempo suficiente para eu pelo menos, tentar saber a distancia que me separa dos caminhos do famoso e assustador  sr. belo Monte. São 40, 50, 80 quilômetros daqui, diz o taxista. E em meu silencio intrigante apenas  guardo pra mim o desejo de ver de frente o enredo que pagina tantos jornais e noticiários. Enquanto o taxista conversa, tenta descobrir  quem sou e de onde vim. Prossigo a observar em Alta Mira, quantas pessoas, carros, motos trafegam nesse lugar. Até tenho a impressão que tem muita gente pra pouco espaço... sei lá. E já sei que terei que voltar sem uma definição mais profunda da polêmica construção, que neste instante, deu outro aspecto a esse lugar. Não sei em que esse lugar se modificou de alguma forma. Só sei que por detrás de toda essa polêmica existem vidas, vidas de trabalhadores, famílias distantes que dependem da lida desses homens para manterem a vida com comida na mesa. No entanto, não posso esquecer de outras vidas que correm o risco de desaparecer. São nossos irmãos indígenas que a todo custo não querem ver sua Mãe Terra se perder e nem tampouco querem chorar a morte do Rio que os alimenta, os banha, os fornece a água que mata a sede germina as flores, faz fluir a plantação... e isso não posso esquecer. Não posso ser egoísta e fechar os olhos à situação.


Meu irmão índio lamenta a situação, esbraveja e grita pela interrupção da morte do Xingu, da dizimação dos peixes e da execução da história construída e consagrada naquele chão. Enquanto o “ Progresso” diante de seu mais alto escalão sentencia a construção. Enquanto eu procuro meu rumo e  em Alta Mira vejo em  cada homem branco e  em cada indígena  um rosto, em cada rosto uma vida, em cada vida uma história e em cada história um sonho em  construção. O vento passa forte,  derrubando torres, acionando alarmes, retirando a energia, desconectando meu olhar do resto mundo, enquanto as horas passam. O vento se foi, a energia se aproxima tímida e  a sra. internet nem dá sinal, de vida,  enquanto a vida continua.

 O tempo passa rápido e de repente já é hora de voltar. Arrumo minhas coisas e  sigo meu caminho, de poesia, deixando Altamira com seu povo, as centenas de trabalhadores e a população indígena. Volto ao meu rincão. De longe em sintonia com as informações sigo meu caminho sempre olhando com curiosidade em Alta Mira...o município de Altamira.Meu texto tem olhar poético, mas minha Alta Mira é real  e cá de longe apenas observo Altamira.

Socorro Carvalho

DOCE LOUCURA




É por te amar que eu canto essa canção
Por não poder esconder o meu coração
Por ser um só contra o lento veneno da solidão
Por estar abandonado à corrente
De um sentimento bem maior
Que tudo que o mundo nos deu
É por te amar que eu escrevo essa canção
Por não poder disfarçar tanta emoção
Por entender
Que os remédios do tempo
Não vão curar
Essa loucura mais doce
Que a gente
Tão de repente quis viver
Com tudo que a vida nos fez
Por tudo que a vida nos deu de melhor


14 BIS