Em Alta mira
tento matar minha curiosidade. A cidade dos noticiários que abriga em seu leito
o belo Monstro, ou a vista de belo Monte, não sei, ao certo. Porém, mesmo diante de tanta
curiosidade quase nada posso ver. As pessoas são estranhas, as ruas, os lugares
os costumes. Apenas vejo gente que passa, carros e motos que se movimentam,
ordenados ou desordenados. De capacete, ou sem, com pressa e sem pressa, mas
passam. Enquanto cá dentro de mim a curiosidade continua. A energia se vai, a
luz se apaga. Não é novidade. O que houve? Nada não, apenas, mas um
transformador estourado e as luzes apagadas, naquela rua, naquele bairro, da
cidade. Na escuridão, tento acalmar minha ansiedade... Mas é inútil. Saio às
ruas e não vejo quase nada, tudo está escuro. Resta-me apenas a opção de fechar
os olhos e dormir, e tentar acalmar minha preocupação. De janela aberta, espero o sono enquanto ele não
vem. O vento bate traz ventilação natural, perdida em meus pensamentos, adormeço. Logo amanhece e recomeça outro dia de lida, de
vida...(graças a Deus) a cidade acorda.
A rotina de quem trabalha se inicia. Pego uma carona e sigo para o local do
encontro. Logo de cara, observo uma estranha movimentação, do outro lado da
rua, em frente a uma galpão vejo uma aglomeração, são dezenas de homens,
talvez uma centena, não sei ao certo... Quantas interrogações se acumulam
dentro do meu olhar em Alta Mira naquela ocasião. Quem são eles? Antonios,
Joãos, Josés, Raimundos? De onde vieram? Piaui, Maranhão, Mato Grosso,
Amazonas, Pará? Não sei. Não tenho a carteira de identificação. Apenas meu
olhar está cheio de interrogações. Fito
o olhar na naquela concentração e em cada um que passa por mim vejo risos, olhares curiosos, outros
perdidos, serenos , descontraídos, firmes,
em cada rosto uma expressão. Anônimos. Porém, humanos e em cada um deles
um coração a bater. O dia termina preciso voltar. Chamo um taxi. E enquanto
passo rápido em meu trajeto, continuo a ver
homens, eles são muitos, de
diferentes aspectos, estaturas, uns altos, outros baixos, que caminham de um lado para o outro, as
vezes, parecem confusos e sem direção certa.. A busca de emprego, a sede de
“vencer” se acenam do alto do “belo” Monte. Um monte que não avisto. Interrogo
o taxista, e enquanto ele dirige vai respondendo minhas perguntas. São
tantas... e tantas. Mas para minha alegria o homem é simpático e segue
respondendo ou as vezes tentando dar uma resposta a minha inquieta ansiedade. A
viagem é rápida, mas com tempo
suficiente para eu pelo menos, tentar saber a distancia que me separa dos
caminhos do famoso e assustador sr. belo
Monte. São 40, 50, 80 quilômetros daqui, diz o taxista. E em meu silencio intrigante
apenas guardo pra mim o desejo de ver de
frente o enredo que pagina tantos jornais e noticiários. Enquanto o taxista
conversa, tenta descobrir quem sou e de
onde vim. Prossigo a observar em Alta Mira, quantas pessoas, carros, motos
trafegam nesse lugar. Até tenho a impressão que tem muita gente pra pouco
espaço... sei lá. E já sei que terei que voltar sem uma definição mais profunda
da polêmica construção, que neste instante, deu outro aspecto a esse lugar. Não
sei em que esse lugar se modificou de alguma forma. Só sei que por detrás de
toda essa polêmica existem vidas, vidas de trabalhadores, famílias distantes
que dependem da lida desses homens para manterem a vida com comida na mesa. No
entanto, não posso esquecer de outras vidas que correm o risco de desaparecer.
São nossos irmãos indígenas que a todo custo não querem ver sua Mãe Terra se
perder e nem tampouco querem chorar a morte do Rio que os alimenta, os banha,
os fornece a água que mata a sede germina as flores, faz fluir a plantação... e
isso não posso esquecer. Não posso ser egoísta e fechar os olhos à situação.
Meu irmão índio lamenta a situação, esbraveja e grita pela interrupção da morte
do Xingu, da dizimação dos peixes e da execução da história construída e
consagrada naquele chão. Enquanto o “ Progresso” diante de seu mais alto
escalão sentencia a construção. Enquanto eu procuro meu rumo e em Alta Mira vejo em cada homem branco e em cada indígena um rosto, em cada rosto uma vida, em cada
vida uma história e em cada história um sonho em construção. O vento passa forte, derrubando torres, acionando alarmes,
retirando a energia, desconectando meu olhar do resto mundo, enquanto as horas
passam. O vento se foi, a energia se aproxima tímida e a sra. internet nem dá sinal, de vida, enquanto a vida continua.
O tempo passa rápido e de repente já é hora de
voltar. Arrumo minhas coisas e sigo meu
caminho, de poesia, deixando Altamira com seu povo, as centenas de trabalhadores
e a população indígena. Volto ao meu rincão. De longe em sintonia com as informações
sigo meu caminho sempre olhando com curiosidade em Alta Mira...o município de
Altamira.Meu texto tem olhar poético, mas minha Alta Mira é real e cá de longe apenas observo Altamira.
Socorro
Carvalho
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