segunda-feira, janeiro 21, 2013

SEPARAÇÃO


Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é história do mundo. Ela o olhava com um olhar intenso, onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles.

Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação.

Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de seccionar aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.

Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela. Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias - um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.

De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde...

Vinicius de Moraes

MELHORIAS EM CRECHES E PRÉ-ESCOLAS

Estudantes da  Escola Professora Ecila Nobre dos Santos

O ProInfância – Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos da Rede Escolar Pública de Educação Infantil – foi criado para ampliar e melhorar as instalações das creches e pré-escolas, incluindo a compra de equipamentos, móveis e reformas que garantam a acessibilidade, como a construção de rampas, banheiros maiores e outras adequações. O programa faz parte do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) do MEC.

Com o ingresso do ProInfância, em 2011, na segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-2), serão financiadas 6.427 escolas de educação infantil distribuídas em municípios das cinco regiões até 2014.

O objetivo proposto é universalizar, até 2016, o atendimento escolar da população de 4 a 5 anos, e ampliar, até 2020, a oferta de educação infantil de forma a atender a 50% da população de até 3 anos."

 Fonte:  Ministério da Educação

INSENSATO PECADO


Dos meus poros sinto escorrer o desejo,
Meu corpo está em chamas!!
Em pleno inverno
Meu corpo é verão.
No arrepio da minha  pele, 
Paira a  saudade  do seus gemidos...
lembrança do seu amor bandido,
Mistura de medo e perigo.
Contraste do amor proibido.
Mas o amor é livre.
Nessa liberdade  me agasalho enquanto vivo.
Em minha pele está seu  o cheiro,
O sabor e o hálito  do beijo 
Ainda estão  comigo
Grudados em meus devaneios mais íntimos. 
A minha língua quente, a carícia leve, sobre seu corpo...
Corpo que  me envolve e resguarda
Templo único do meu intento e meu abrigo.
Na ânsia da   minha loucura 
Arranco  de seu corpo e de sua voz frêmitos e  rugidos,
Sucumbidos nos sussurros  do êxtase escondido.
Seu olhar bandido me desnuda, me devora
Acorda meus intentos e segredos mais bandoleiros.
Minha pele queima 
Acende o  fogo do  meu  mais puro e cínico desejo...
No segredo  quente de nosso encontro louco
Nos extasiamos outra vez...
Nesse prazer louco,  que feito visgo
Gruda-nos nesse desatinado  querer...
Ah, meu  insensato  pecado!!
Amo você.





Socorro Carvalho 

CANÇÃO DO ÓBVIO


Escolhi a sombra desta árvore para
repousar do muito que farei,
enquanto esperarei por ti.
Quem espera na pura espera
vive um tempo de espera vã.
Por isto, enquanto te espero
trabalharei os campos e
conversarei com os homens
Suarei meu corpo, que o sol queimará;
minhas mãos ficarão calejadas;
meus pés aprenderão o mistério dos caminhos;
meus ouvidos ouvirão mais,
meus olhos verão o que antes não viam,
enquanto esperarei por ti.
Não te esperarei na pura espera
porque o meu tempo de espera é um
tempo de quefazer.
Desconfiarei daqueles que virão dizer-me,:
em voz baixa e precavidos:
É perigoso agir
É perigoso falar
É perigoso andar
É perigoso, esperar, na forma em que esperas,
porquê esses recusam a alegria de tua chegada.
Desconfiarei também daqueles que virão dizer-me,
com palavras fáceis, que já chegaste,
porque esses, ao anunciar-te ingenuamente ,
antes te denunciam.
Estarei preparando a tua chegada
como o jardineiro prepara o jardim
para a rosa que se abrirá na primavera.

Paulo Freire
Genève, Março 1971.
In: Freire, P. Pedagogia da Indignação. São Paulo: UNESP, 2000.

QUANTA SAUDADE...


Ah, quanta saudade
 Ah, saudade do meu amor
 Não descanso um só momento
 Com você no pensamento
 Tá difícil de viver
 A saudade me maltrata
 O meu corpo sente a falta
 Sente a falta de você
 Ah, quanta saudade
 Ah, saudade do meu amor
 Eu preciso de você sempre comigo
 Minha vida sem você não tem sentido
 Não consigo viver sem você

Raça Negra