domingo, maio 26, 2013

Amor , Cinismo e Psiquiatria

Certa vez você me perguntou o porquê de eu te querer tanto. Fiquei calado, fazendo entender que meu silêncio seria a melhor resposta. Você insistiu, aliás, como sempre, persiste em não raciocinar.

Por falar em raciocínio, finalmente eu vou dizer por que te quero tanto. É que gosto das tuas estrias e celulites, do teu corpo que jamais foi à academia, quer seja de ginástica ou uma faculdade de Educação Física, ou mesmo de Teologia.

Eu quero tanto é poque sem escada sabes trepar, no poste, ligar o interruptor e ascender as luzes das avenidas dos nossos corpos que desfilam nas passarelas e somos aplaudidos pelo silêncio da nossa incompetência.

Eu te quero tanto é porque por cima ou baixo você jura que vai ficar de quatro. Eu insisto e você finge que não escuta. í eu saio do sério, de repente, lembro: não somos um casal, somos a porralouquice na sua mais distante comparação humana.

Persegue-me à posição de quatro, porque quatro são as estações do ano. Aprendi a te querer na primavera, quase morro de amor em pleno verão, no inverno minha alma teve incêndio e os ventos do outono fizeram de mim pobre gari. Mesmo assim, juntei todas as folhas do chão e, num sopro mágico, elas foram para o infinito e desceram como forma de crepúsculo, anunciando o amanhecer dos teus seios siliconados pela angústia e quedados pelas frustrações.

Eu te quero tanto é porque você deixou a Matemática e converteu-se em todos os problemas.
Eu te quero tanto é porque és cinica e teu cinismo serve como tese para o meu doutorado em psiquiatria.

Eu te quero tanto mesmo que todos os dias você me aporrinhe até demais e nas noites você some e eu me embriago, daí a sombra do meu corpo brinca de esconde-esconde, causando mal-estar à lua, e as estrelas eu nem as vejo.

Eu te quero tanto é porque mentes e tua mentira é tão verdadeira que eu já nem sei mais o que é verdade.

Eu te quero tanto é porque falas de boca cheia, cospes na rua, estalas os dedos em público, deixas o celular ligado na igreja e falas que me ama, justamente no dia em que recebo meu contracheque.

Eu te quero tanto, tanto, tanto, que dentro de mim não existe mais um homem, e sim um instrumento desafinado, um palco deteriorado, o teatro fechado. Ai pode aparecer alguém para tocar o instrumento e de todas as notas musicais somente sairá o 'dó'. Dó de mim, dó de você. Dó de quem tem dó de nós, que nunca aprendemos a simples e doce razão do ser eu.

Paulo Renato Bandeira - Jornalista
Publicado em O Liberal de 2 de outubro de 2006

Fonte: Arquivo pessoal do autor

Da janela...


Da janela do apartamento vejo a cidade
Carros que passam apressados...
A paisagem é concreta...
Concreta de prédios e construções.
Raras pessoas caminham
Todas andam em passos rápidos nas duas direções.
Da janela...
Vagueio entre tantos pensamentos distantes.
Será saudade?
Ou apenas uma terra estranha diante dos meus olhos
Roubando minha imaginação.
O tempo está  frio!
Sinto falta do calor, do aconchego, do abraço.
Devaneios...
Ah, os devaneios!!!

Deixo-os de lado.
Da janela
Contemplo o céu,
A chuva caindo, molhando o chão,  fertilizando sentimentos, segredos.
A poesia enche de vida meus olhos.
De repente,
Sinto brotar uma leve  inspiração de dentro do meu coração.
Rascunho versos.
Para em seguida rasgá-los.
Preciso me livrar da nostalgia.
Lá fora a vida passa...
O tempo não espera.
As horas vão passando rápidas.
E meu silêncio vai se ampliando... Cada vez mais.
Em cada instante ouço minha  íntima voz
Dialogo   com  meu próprio eu.
Enquanto a solidão se despede...
Adormeço no sono.



Socorro Carvalho