Querido
Márlisson
Eu
me lembro quando era muito jovem, ouvia os adultos comentarem: fulano partiu.
Esta era a forma que eles achavam menos sofrida de falar que alguém havia
morrido, principalmente quando estavam perto de crianças. Era um jeito delicado
que eles tinham de citar a morte sem que ela parecesse tão chocante.
Cresci
e comecei também a falar assim – fulano partiu – acabei achando menos dolorido,
menos violento se referir à morte dessa maneira. Quando se diz que alguém
morreu, dá a impressão que se acabou, desapareceu e imaginar que alguém que
queremos bem acabou ou desapareceu pra sempre, é terrível. Dói mil vezes mais
do que precisar enfrentar a sua própria ausência.
Partiu
já é diferente, dá uma sensação de que em algum ponto da vida nos
reencontraremos com essa pessoa querida novamente. Fica mais fácil imaginar que
ela viajou, uma viagem sem data pra voltar, mas com retorno garantido. Enfim,
descobri recentemente, que existe outra categoria dentro desse universo. São
aqueles que nunca morrem e, portanto, jamais partem. São aqueles que embora
desapareçam de nossas vistas, eternamente se fazem presentes em nossa memória e
nosso coração.
Os
que nunca partem são as pessoas que nortearam nossos dias, colocaram um
significado importante neles e deixaram uma marca tão profunda em nós que não
importa onde estejam, porque ao nosso lado, de alguma forma, sempre estarão.
Morrer, partir são coisas simples, coisas do dia-a-dia. Acontece toda hora, em
todo lugar, com todas as pessoas. Os que nunca partem e os que nunca passam pela
dor de assistir alguém querido partir são os felizardos dessa vida.