Querido
Márlisson
Eu
me lembro quando era muito jovem, ouvia os adultos comentarem: fulano partiu.
Esta era a forma que eles achavam menos sofrida de falar que alguém havia
morrido, principalmente quando estavam perto de crianças. Era um jeito delicado
que eles tinham de citar a morte sem que ela parecesse tão chocante.
Cresci
e comecei também a falar assim – fulano partiu – acabei achando menos dolorido,
menos violento se referir à morte dessa maneira. Quando se diz que alguém
morreu, dá a impressão que se acabou, desapareceu e imaginar que alguém que
queremos bem acabou ou desapareceu pra sempre, é terrível. Dói mil vezes mais
do que precisar enfrentar a sua própria ausência.
Partiu
já é diferente, dá uma sensação de que em algum ponto da vida nos
reencontraremos com essa pessoa querida novamente. Fica mais fácil imaginar que
ela viajou, uma viagem sem data pra voltar, mas com retorno garantido. Enfim,
descobri recentemente, que existe outra categoria dentro desse universo. São
aqueles que nunca morrem e, portanto, jamais partem. São aqueles que embora
desapareçam de nossas vistas, eternamente se fazem presentes em nossa memória e
nosso coração.
Os
que nunca partem são as pessoas que nortearam nossos dias, colocaram um
significado importante neles e deixaram uma marca tão profunda em nós que não
importa onde estejam, porque ao nosso lado, de alguma forma, sempre estarão.
Morrer, partir são coisas simples, coisas do dia-a-dia. Acontece toda hora, em
todo lugar, com todas as pessoas. Os que nunca partem e os que nunca passam pela
dor de assistir alguém querido partir são os felizardos dessa vida.
Dores
momentâneas, saudades e ausências à parte, felizes daqueles que amaram alguém
nessa vida a ponto de jamais deixá-los partir de seus corações. Se quando eu me
for, por desígnio de Deus, uma única pessoa não me deixar partir me guardando
dentro do seu peito, eu direi que valeu a pena ter passado por aqui e que minha
estada nessa vida não foi em vão. Mas enquanto ainda estou aqui, só tenho a
dizer que dentro de mim moram pessoas que nunca deixei que partissem
verdadeiramente, assim, como não deixarei que partam, jamais, algumas que ainda
estão por aqui.
Os
que nunca partem são aqueles que descobriram o segredo de brilhar na terra,
mesmo antes de chegarem ao céu e se tornarem estrela. Para mim a Marlice é hoje
uma estrela que brilha no céu, porque enquanto esteve aqui na terra tinha muita
alegria no coração. Alegria pela família, pelos amigos, pelo trabalho, pelos
estudos, por suas lutas e por sempre sentir a presença de Deus. Ela era uma
pessoa muito amorosa, guerreira, batalhadora e sempre ia em busca de seus
direitos.
Imagino
Márlisson hoje a falta que sua mãe lhe faz. Não deve estar sendo fácil nem para
você, nem para os parentes de sua mãe, suportar ausência dela. Marlice era
mulher alegre que sempre me tratou com muita satisfação, sorriso e muito
respeito. Me chamava de Tetê. Eu a conhecia muito, de longas datas.
Praticamente te vi nascer, ela foi minha aluna no curso de Letras na UFPA e por
isso vivenciamos momentos intensos de aprendizagem e troca de experiências.
Esses momentos foram suficientes para sentir o quanto ela gostava de viver e o
quanto ela te amava, se preocupa contigo e tinha sentimentos verdadeiros pelos
seus entes queridos. Percebi que a Marlice era uma mulher que queria o melhor
para todos os seus, uma mãe preocupada, dedicada, muito zelosa e imbuída de
valores sociais e religiosos. Fiquei pensando nisso e conclui o quanto isso é
verdadeiro, pois você Márlisson demonstra esses valores.
Nesse
momento de reflexão que nos traz a lembrança de Marlice temos que evocar as
coisas boas que ela fez na vida. Sei que ela deve ter trabalhado
incansavelmente para lhe criar. Sei também que ela tinha amigos que lhe queriam
muito bem e que por isso, amarrou laços de amizades muito fortes, pois no
facebook dela e no seu pude sentir essas amizades manifestando sentimentos de
tristeza pela sua partida. Esses elos sentimentais vão ficar para sempre.
Jamais se apagarão. Estarão sendo sempre verdadeiros enquanto evocarem o nome
da Marlice. Por isso, que um poeta disse que: “Uma pessoa nunca morre enquanto
habitar no coração de alguém”. Sei que agora, mais do que nunca, sua mãe está
bem presente no seu coração e no coração daqueles que realmente a amam
intensamente. As palavras de Marlice, os seus ensinamentos, as suas
preocupações, os seus trabalhos, as suas obras, a sua vontade de viver, a sua
vontade de ver você Márlisson, seu filho vencer na vida, a fé em Deus, a crença
na união da família e todos os seus desejos serão concretizados nos seus gestos
e na sua personalidade, por que voce é o seu filho. Tudo que você fizer, de
hoje em diante, será um desejo da Marlice que estará realizando.
Os
filhos são as heranças que deixamos na terra para mostrar que demos a nossa
colaboração na criação do mundo e na luta por um mundo melhor. Você Márlisson é
a grande herança, o grande legado que a Marlice deixa nesse mundo. Tenho
certeza que você tudo fará para honrar o nome dela e a memória dela. Guarde no
seu coração os momentos bons, os momentos de alegria, os aniversários, os
natais, as comemorações em família e todos os bons momentos que com ela
vivenciou. Fale dela para seus futuros filhos e netos que ela estará
recompensada nessa lembrança e nas suas palavras.
Marlice
está agora dando continuidade a sua viagem. Uma viagem rumo ao paraíso livre de
dores, de angústia, de decepções e de sofrimentos. Uma viagem que lhe dará toda
recompensa das coisas boas que fez aqui na Terra. Uma viagem que libertará sua
alma de tudo que possa impedí-la de dar continuidade a sua missão como cristã e
como pessoa tão humana que era. Ela caminha para o Éden e de lá estará rogando
por você, pelos seus sobrinhos, sobrinhas, pela família e pelos seus amigos. De
lá estará torcendo pelo sucesso de todos nós. De lá estará intercedendo pelo
bem da sua família e da humanidade, por que a Marlice era uma pessoa muito
solidária e queria o bem a todas pessoas que com ela se relacionavam.
Minhas
palavras estão ficando aqui no sentido de fazer uma meditação sobre o quanto a
morte apesar de trazer dores, lágrimas e saudades traz também reflexões
importantes para nossa vida e que por isso devemos tirar dela todo proveito
possível. Devemo-nos tornar mais compressíveis, mais sensíveis, mais humanos,
mais solidários, mais amorosos, mais generosos, mais complacentes, mais
bondosos e unidos com toda nossa família e com todos os nossos irmãos em
Cristo. E como disse um poeta cantor Renato Russo que também já partiu, “é
preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.” Lembremos disso todos os dias,
todas as horas e em todos os momentos. Gostaria de estar ai nesse momento, mas
estou em Campinas.
Esses
são os meus sinceros sentimentos pela partida da Marlice, sua mãe Márlisson.
Abraços
consoladores, fica com Deus!
Terezinha
de Jesus Dias Pacheco
Carta emprestada da página do facebook da professora Terezinha Pacheco - Ufopa.
É isso mesmo:
ResponderExcluir"É preciso amar...como se não houvesse amanhã"
E também:
"É preciso recordar...como se não tivesse havido ontem!"
Bj amigo