Tem gente que mia, tem gente que ronrona, tem gente que
arrulha, como fazem as pombas. Intimidade tem dessas coisas. Quando você
percebe, já está fazendo barulhinhos para o seu amor. Ao telefone, quando ela
entra em casa, na cama. Muito antes disso, claro, já vieram os apelidos.
Constrangedores, embaraços, irreveláveis. Neste particular, felizmente, nada
tenho a declarar. Assim como o Romário, que nunca broxou, eu jamais chamei
alguém de Jujubinha, ou coisa que o valha. Vocês riem, mas eu me pergunto o que essas pequenas
esquisitices revelam sobre nossas necessidades afetivas.
Uma delas, que me parece óbvia, é o brutal desejo de
exclusividade. Não basta morar com a Joana e transar com ela três, quatro,
cinco vezes por semana. Não basta sentar de mão dada com o João no cinema,
escolher a camisa que ele vai usar no casamento, ouvi-lo desafinar em falsete
embaixo do chuveiro. A gente inventa um nome que é só nosso, um ruído que só a
gente faz, uma intimidade que ninguém nuca teve ou terá com ele ou com ela. Nossos
apelidos expressam a vontade de construir um mundo único, onde só caibam dois,
onde tudo comece do zero, inclusive o nome de batismo e os balbucios.