sexta-feira, novembro 21, 2014

UMA EMOÇÃO QUE TRANSBORDA O PEITO...


O trabalho que realizo no Projeto Rádio pela Educação é algo fascinante. Trabalho com os sentidos de forma bem aguçada. Com  o tato, para escrever os programas e outras produções; com a fala,  para  apresentar os programas e falar de sentimentos; com o olfato, para sentir o cheiro das crianças e adolescentes que enchem de esperança os corredores da rádio e sala do projeto; com  a audição,  para ouvir o programa e fazer as devidas observações e com os membros superiores e inferiores que me proporcionam a oportunidade  de ir e vir, de andar e caminhar rumo a dias melhores e busca de um mundo mais justo.



O contato com os educadores, crianças e demais visitantes é sempre uma delícia. Porém, esses dias uma situação me deixou profundamente emocionada. Eu conto. No projeto temos diversas crianças que participam dos núcleos, de leitores, repórteres, embaixadoras etc. E dentre as escolas parceiras tem a escola Ecila Nobre dos Santos que é parceira do Rádio pela Educação e que tem no núcleo três crianças que além de leitoras do núcleo são também embaixadoras dos direitos das crianças na  Amazônia. Quem são elas? Larissa Silva – 09 anos de idade; Nicolle Barbosa – 10 anos de idade e Vitória Nascimento – 11 anos de idade. Semana passada, após uma visita da diretora Rosângela Teles a sede do Projeto solicitei que  ela levasse o gravador para que a Nicolle pudesse fazer uma entrevista com ela, a diretora. Ainda na Biblioteca do Rádio pela Educação Nicolle sugeriu que ao invés de o trabalho na escola ser feito só por ela seria interessantes que fosse feito de forma conjunta pelas três meninas. A sugestão foi acatada e lá se foram elas de volta pra escola com a diretora e a missão de entrevista-la.





Três dias depois recebo de volta o gravador e ao conferir o material fiquei em estado de choque. Extasiada de alegria e felicidade, tomada por uma sensação inexplicável de bons sentimentos. A entrevista com a diretora ficou maravilhosa no contraste de vozes de Nicolle, Larissa e Vitória. Depois outras trilhas com entrevistas com outros educadores e até alunos. Sinceramente foi um momento precioso em meu coração. Ao ouvir o trabalho  conjunto  e a forma como  cada uma delas realizou, foi mágico. A segurança nas palavras, a sequencia de perguntas, a organização das falas, o contexto às argumentações, entonações, introduções e finalizações foi demais, para o meu coração. Ao ouvir não contive as emoções e chorei muito de felicidade ao perceber o quanto essa turma já aprendeu em nosso projeto. Três meninas e apesar de tão pequenas já demonstrando uma maturidade e competência que nem sempre um acadêmico(a) tem ou que talvez , muitos e muitas, jamais o terão.



Enfim era emoção demais pra suportar sozinha e imediatamente liguei para professora Rosangela Teles, diretora da escola e compartilhei da minha emoção, ainda entre lágrimas. Lágrimas de ver lindas sementes germinando no jardim do Rádio pela Educação. E continuei a partilhar via sms às famílias de Larissa, Nicolle e Vitória. Depois a partilha com o nosso diretor de programação José Maria Gama e também com a colega Joelma Viana. Meu peito estava cheio de felicidade transbordando alegria e uma grande certeza de que nosso trabalho não é em vão. No final do dia agradeci a Deus pelo trabalho no Rádio pela Educação, pela  dádiva da infância e por cada criança e adolescente que compõem os núcleos desse projeto tão maravilhoso que aprendi a amar.



Cada vez mais tenho certeza de que o Rádio pela Educação é um projetor e aperfeiçoador de talentos promovido pela Diocese de Santarém, bem  no coração da Amazônia. Isso é o que sinto em cada vez que vejo e que sinto a evolução de nossas crianças e adolescentes dentro do projeto.
Dentro do Rádio pela Educação tem calor, tem cor, tem sentimentos bons, tem amizade, toque de  mãos, abraços, afagos, partilha de alimentos, de sentimentos, diálogos. Apesar da tecnologia que está invadido o Mundo, o nosso mundo do Rádio pela Educação ainda tem o olhar nos olhos. O tudo bem? O cuidar. Tem uma coordenadora chata mas que sempre tem a frase: “ Vá lá e faça. Você é capaz e eu acredito em você”. E essa certeza dá a essa turma segurança,  coragem e inspiração para topar o desafio e fazer  bonito. E o mais legal é que eles sempre fazem bonito, mesmo. E eu só me surpreendo com tanto crescimento. Com eles e elas aprendo muito  da mesma forma que ensino. E é essa troca que  fortalece-nos e torna mais humana nossa convivência diária naquele espaço tão pequeno e ao mesmo tão grande por abrigar tanto vigor e alegria oriunda do rosto e coração daquela turminha linda, que eu amo muito. Amo o espaço e cada ser humano de um jeito muito especial. No entanto, continuo lá porque me apaixonei pela causa, pelas ações, pelo espaço e porque foi lá que encontrei portas abertas para aperfeiçoar meu profissionalismo. E eu sou extremamente grata a cada uma das pessoas que contribuíram para que eu pudesse chegar ao Projeto Rádio pela Educação. Por lá já passaram grandes profissionais, aprendizes, muitas crianças e adolescentes e de um jeto especial aprendi a gostar e respeitar cada um e cada uma delas. O tempo passou e essa turma se foi, porém minha inspiração de estar lá e me dedicar ao que faço continua firme, pois o que mais encanta é fazer parte desse espaço. Até quando, não. Porém, de uma coisa tenho certeza.  Esteja eu onde estiver vou sempre amar esse espaço de construção de ideias, de pensamentos, conhecimentos, mas quem em minha opinião deve ter limites e bom senso para que de lá saia pessoas boas, não monstros imersos de ganancia e soberba;



A emoção que me inspira é singular e dentro do Rádio pela Educação cada pessoa é ímpar, única. Porém, por  todos e todas tenho a maior gratidão, pois é junto deles e delas que revigoro meu estímulo para seguir nas horas de adversidades. É com o sorriso, o bom dia, o beijo, o abraço que arranjo forças para seguir firme nessa luta que tanto fascina minha criação, inspira meu conhecimento e instiga-me a acreditar que todo trabalho quando realizado com amor é possível CRER E FAZER.



Socorro Carvalho 

PRAZO DE VALIDADE...



Ser romântico no início raramente é um problema. O problema é ser romântico no fim – recusar-se a perceber que as coisas acabaram, persistir, contrariar a realidade, a inteligência e os próprios sentimentos. Não interessa se é uma semana, um mês ou se são 10 anos depois do primeiro beijo. Quando as coisas terminam, deveríamos ser capazes de perceber e aceitar. Raramente é o caso. Recusamos-nos, coletivamente, a reconhecer o prazo de validade de sentimentos e relações. Queremos que durem para sempre.


Há um paradoxo aí. Aquilo a que nos apegamos no final nada tem a ver com a beleza do que sentíamos no início. O encantamento pelo outro sumiu. O desejo tomou um ônibus e foi morar em Barra do Piraí. A paciência, o carinho, o prazer de estar perto do outro quase desapareceram. Os planos estão cada vez mais turvos, enquanto as conversas se tornam cada vez mais ásperas. Ainda assim, nos agarramos. A quê? Provavelmente ao pavor da solidão e a suas implicações sociais, que não são pequenas.


Nessas horas, sinto que nos falta coragem e memória. Coragem para saltar no escuro insondável do futuro. Memória para lembrar que já fizemos isso antes, dezenas de vezes, com enorme sucesso, desde que éramos bebês e começamos a nos aventurar longe do colo da mãe. O mundo sempre foi uma sequência misteriosa de deslumbramentos e decepções que se renovam. É preciso acreditar e caminhar. De certa forma, há que ser romântico também no fim. Quando tudo em volta parece ter virado plástico, é preciso sonhar, sair e recomeçar.


Uma das coisas que acontecem quando perdemos contato com o amor é secretamente deixarmos de acreditar nele. Afundados na rotina insípida da sobrevivência emocional, ou mergulhados na solidão brutalizante, passamos a dizer a nós mesmos que aqueles sentimentos de exaltação e esperança que chamamos de amor não existem. A lembrança da existência deles é tão dolorosa que preferimos negá-la. Tratamos o assunto como ilusão, imaturidade, pieguice. Nos esquecemos, espantosamente, que um mês antes, um ano antes, dez anos antes, nos sentíamos apaixonados – e não pela primeira vez. Perdemos a memória de um sentimento que deveríamos cultivar com carinho. Ela nos permitiria comparar. Também poderia nos guiar quando fosse a hora de procurar de novo.


Como saber que essa hora chegou? Cada um tem seu jeito de perceber.


Há quem use o termômetro do desejo: acabou, já era. Mas o desejo pode ser vítima de um zilhão de circunstâncias alheias ao relacionamento. Às vezes, basta um fim de semana tranquilo para renová-lo. Como saber? Outros usam o carinho, tão essencial no dia a dia de quem vive próximo. Mas ele está sujeito aos diferentes temperamentos e humores de nossa vida profissional e familiar. Há que levar em conta essas circunstâncias. Muitos se fiam na queda nos padrões de paciência e no outro lado da moeda, a irritação com o outro. É um bom teste, mas poucos casais que partilham a intimidade há muitos anos resistiriam a ele. Rabugice passa a ser quase uma norma.


Não é fácil. Mais simples, acho, é captar o conjunto da obra e os sinais emocionais que ela nos manda.
Quando o olhar do outro não nos comove mais, quando seu corpo não nos diz mais nada, quando ouvir não é mais um prazer, quando falar parece um cansaço inútil, quando a beleza que se via antes não se acha, quando a personalidade vira resmungo, quando chegar em casa parece um saco, quando sair para encontrar torna-se um fardo, quando já não se ri, já não se enternece, já não se tem vontade de chorar na despedida, parado na esquina, abraçados – bem, então talvez tenha chegado a hora de acabar e começar de novo. Cheio de dor, cheio de esperança, cheio de medo e excitação pelo futuro que há de vir.


Ivana Martins

QUIMERAS NOTURNAS ...

Meu coração tem quimeras que não sei traduzir. Há um desejo contido que tento sufocar. E o tempo passa indiferente aos meus conflitos. 

No olhar de contemplação,  o vislumbre de paisagens quase sem cores, vejo em tom preto e branco. No arrebol,  uma necessidade  de amar se vitaliza sem trégua insistente,  em permanecer. Na teimosia dos versos,  rimas sem sabor são  oriundas de poemas esquecidos sobre a noturna penumbra do quarto.

Em cada canto,  uma ausência de inspiração faz carente a  poesia. Enquanto os pensamentos transportam-se na miragem de uma ardente paixão. A  ânsia de sentimentos ancora no porto da solidão. Cá no peito a necessidade efêmera de viver uma louca paixão. Incendiar-se de emoção, numa  loucura sem razão. Sem medo ou explicação. 

O silêncio camufla o desejo quente,  guardado no peito carente. Na poética, uma bruta vontade de sentir o corpo queimar. Incêndio no olhar, a me penetrar por  entre as  fagulhas da paixão. Há no peito uma saudade do encantamento de outrora, ora engavetado no comodismo da emoção. 

No ápice do poema,  um forte desejo de rimar fulgor, calor, amor,  com  ardor no olhar. Vontade de amar, se apaixonar, saudade de corpo ardente, palavras salientes a me incendiar.  

A pele despida de abraços procura calor no olhar. Tudo está cálido. Nenhuma quimera traduz  tal  descontentamento nessa caçada insaciável de amar. Já não há  poema no olhar. Já não há flores para enfeitar os devaneios. 

Ah, esse frio devastador me consome. Ele precisa de imediato ser aquecido, provocar sensações, fazer o coração pulsar outra vez,  ao ritmo gostoso da arte de se apaixonar...  Há lacunas em meu olhar, nesse tempo estagnado e  insatisfeito de tamanha espera...

Hoje quero a poesia mais louca. Quero o verso mais ousado. Quero aquela canção de amor tocando suave fazendo meu coração acelerar. Quero a loucura daquele sussurro ímpar. Quero o calor dessa boca degustando minha pele nua. 

Hoje quero sentir o fogo ardente da paixão, acordando  antigos sentimentos  de um jeito diferente, saliente. Para esse querer  nunca mais se acomodar e novamente voltar a ser lareira e   em chamas   aquecer meus mais insanos versos de amor ...


Socorro Carvalho