Eles seduzem, mas não devem ser
confundidos com cafajestes carentes
Virou moda falar mal dos homens que têm muitas
parceiras. Num mundo em que a opinião das mulheres é cada vez mais importante,
o sujeito comedor, galinha, cafajeste e sem vergonha tornou-se uma espécie de
inimigo público número 1. É o tipo de homem que as mulheres não desejam para a
sua amiga, odiariam ver ao lado da filha, mas, quem sabe, talvez ficasse bem no
sofá da sua própria sala, ou naquela mesa firme da cozinha... Mas, bem, eu
estou me adiantando.
O que eu queria dizer, primeiro,
é que esse julgamento severo contra os sedutores esconde moralismo raso e uma
forma utilitária de ver o mundo.
Qual o problema com o sujeito que
se relaciona com várias mulheres e não se fixa em nenhuma delas? Não existe lei
ou código de ética que obrigue o sujeito a namorar, casar e montar família se
ele não se sente inclinado a isso. É uma questão de estilo de vida e de escolha
pessoal. Há quem goste de viver acasalado, há quem goste de ser livre. Isso não
deveria ser material de debate ou julgamento. É um direito elementar.
Mas a recusa masculina em se
domesticar, sobretudo se parte de homens atraentes, desperta reações emocionais
violentas. Coletivamente, a solteirice deles é vista como um desperdício social
e genético. Como um cara desses se recusa a ser o meu príncipe encantado?
Pessoalmente, algumas mulheres ficam ofendidas porque o sujeito seduz e
envolve, mas não se deixa envolver e seduzir na mesma proporção. A recusa dele
magoa e faz sofrer as mulheres que ele conquista – e isso tornaria o sedutor
uma espécie de criminoso emocional. No mínimo, um predador de moças incautas.
Será?
Obviamente, o sujeito que transa
com todas as mulheres conta com a cumplicidade delas. Um galinha só consegue
ser galinha porque muitas mulheres gostam dele. Elas disputam a sua companhia e
lhe abrem a porta da sua intimidade. Em qualquer grupo de amigos ou local de
trabalho, todo mundo sabe quem é o cara que pega todas as garotas. Se ele
continua pegando é porque elas gostam – então é o caso de assumir a
responsabilidade moral por isso, em vez de jogar a culpa no sujeito. O século
XXI não é o das coitadinhas.
Aqui começa a segunda coisa que
eu gostaria de dizer: os caras que seduzem as mulheres não são todos iguais. Há
pelo menos dois tipos básicos, que têm pouco em comum entre si, mas costumam
ser injustamente confundidos.
O primeiro, que as mulheres
realmente desprezam, é o carente. Ele pode ser bonito e bom de conversa, mas é,
fundamentalmente, um cara que precisa patologicamente de atenção. Sexo com ele
é secundário e, segundo eu ouço, de segunda linha. O carente corre atrás das
mulheres porque não se aguenta sozinho por cinco minutos, não porque goste
especialmente delas. Se você deixá-lo no restaurante, vai xavecar a garçonete.
Se você for ao banheiro, ele vai dar em cima da sua mulher. O cara é
compulsivo, um bebezão desamparado que estica os braços para toda mulher bonita
que passa. Diz e faz o que for necessário para ganhar um colinho, depois tchau.
Esse tipo de sujeito, na verdade,
não presta muita atenção na mulher dele. Não por muito tempo, ao menos. Ele
está preocupado demais consigo mesmo e com a próxima mulher da vida dele, que
acabou de passar pela porta. Por isso a fila anda tão rápido. Ele precisa
renovar seus objetos de afeto para manter o interesse. E as mulheres também não
o aguentam por muito tempo. Na intimidade, esse tipo de cara parece ser um saco
de problemas, que elas logo se cansam de carregar. Ou não... Conheço mulheres
que ficaram apegadas por longo tempo, sofrendo como personagem de novela.
Voluntariamente.
Esse Dom Juan infantil e
compulsivo pouco tem a ver com o segundo tipo de sedutor, os caras que gostam
muito das mulheres. Esses são minoria em relação aos carentes e herdam parte da
má reputação que eles constroem. Mas não deveria ser assim. Como qualquer
mulher que já se envolveu com um deles pode atestar, o cara que gosta muito das
mulheres costuma ser uma excelente experiência, por várias razões.
A mulher é a prioridade dele.
Enquanto os outros homens se distraem com trabalho, futebol e leitura, esse
sujeito investe o tempo e a admiração dele no sexo oposto. Liga, frequenta,
cultiva. Tem energia para sair de noite, para esticar a conversa, para transar
quando os outros já estão dormindo. Ele mantém o foco. Não há risco de que
fique no sofá, vidrado na TV, enquanto a gatinha espera na cama de camiseta e
calcinha. Nem vai acontecer daquele fim de semana passar em branco porque ele está
exausto. O cara gosta demais do corpo, do jeito e do cheiro da mulher para
permitir que ela se entedie. Para ele, cada momento de intimidade com ela é uma
festa.
Esse tipo de sedutor tem sucesso
entre as mulheres porque é autêntico. Ele não finge sentimentos que não tem nem
faz promessas que não está disposto a cumprir. Joga limpo e entrega a
mercadoria que promete: muita atenção, sexo intenso e, quem sabe, um bom romance.
Por não ser um patológico, ele às
vezes se envolve, mas não é fácil mantê-lo por perto na exclusividade. Há
muitas mulheres irresistíveis no mundo para quem gosta tanto delas. Há muitas
mulheres dando mole para os homens que sabem fazê-las felizes. Eles são
concorridos. Mesmo assim, o homem que gosta muito das mulheres se apaixona. Ao
contrário do carente, que não sustenta nada emocionalmente, ele fica,
participa, constrói. Ainda que não dure para sempre, como quase nada dura. Se
durasse para sempre, aliás, talvez ele deixasse de ser o homem que gosta demais
das mulheres e se tornasse apenas um marido, com tudo de bom e mau que isso
implica.
Logo, eu pediria às mulheres que
tirassem esse tipo de sedutor da lista de procurados pela Polícia Federal. Eles
são do bem. Podem quebrar um coração ou outro ao longo do caminho, mas quem
nunca fez isso? Na conta geral, distribuem muito mais satisfação do que
provocam sofrimento. Eles ajudam marcar na régua a intensidade a que pode
chegar uma relação. Eles ficam na memória como coisa boa. Eles proporcionam,
com todos os seus problemas, um tipo de relação que todo mundo deveria ter
algum dia na vida: sem futuro, mas com um presente inesquecível.
Ivan Martins
Revista Época
Muito bom texto...parece de esta falando da minha historia...excelente.
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