quarta-feira, maio 09, 2007

O HOMEM VAZIO


Lá vai ele.
Como um saco plástico, desses de supermercado.
Levado pelo vento e pela poeira, alça vôo, a alguns metros acima do calçamento da via pública,
como um pássaro de plástico.
Vai numa grotesca e atabalhoada coreografia, levado pela sua própria leveza oca e pelo vento.
Sobe, desce, dá piruetas e cambalhotas.
Sempre na mesma direção.
Sempre no mesmo sentido, ou na falta de sentido – e de rumo.
O homem vazio é aquele saco plástico.

Lá vai o homem vazio caminhando seus próprios (des)caminhos, cumprindo seus dias.
Lá vai ele, completamente vazio: apenas pele, ossos e vísceras.
Segue inerte, sem sentido e rumo, movido pelo acaso ou pelos ventos.
Tal qual o saco plástico da nossa metáfora.


Segue.
Alheio ao cantar dos pássaros.
Alheio à lua-cheia; ao pôr-do-sol.
Alheio à vida. Alheio ao amor.
Alheio a tudo que é essencial.
Vazio de idéias, sentimentos.
Vazio de caráter.
Como que destituído de ânima, de emoções.

O homem vazio está em todos os caminhos e lugares, em todas as vias.
Está no Congresso.
Está no executivo estadual e municipal – mas também pode chegar um dia ao executivo federal
(nas últimas eleições, um homem vazio quase se elegeu presidente da República).
Está também no Judiciário – no Supremo, inclusive.
Pode ser até mesmo o prefeito da maior cidade de seu país.
Pode ser um governador de Estado.
Pode ser um senador da República; um deputado; um vereador.


O homem vazio está também nas empresas – grandes, médias e pequenas; públicas e privadas.
Geralmente ocupa cargos de chefia, onde executa sua pantomima infame, vazia, ordinária – quase sempre manietado por um político ou empresário.
E assim torna vazia a vida de seus funcionários.

O homem vazio também está nas Redações, nos jornais e revistas; na internet.
Está nas escolas! Sim, dezenas, centenas de homens vazios estão, nesse preciso instante, nas salas de aula,
ensinando nossas crianças e jovens a serem,
como eles, vazios.
Homens vazios estão nas faculdades formando professores,
engenheiros, médicos, jornalistas vazios.

É preciso que identifiquemos e nos livremos dos homens vazios.
É preciso colocar o necessário “enchimento” nos homens para que estes deixem de ser vazios.
É preciso cuidar do homem para que deixe de vagar, vazio, ao sabor do acaso.


Crônica - Lula Miranda (Carta Maior)

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