sexta-feira, fevereiro 10, 2012

UMA SEMANA EM MAMIRAUÁ

Eu e a Samaúma. Foto: Nathan Shepard

“Quando o rio baixa, as famílias logo começam a plantar para dar tempo de colher. É sempre uma luta. Se a seca dura mais, a gente lamenta ter plantado pouco. Se a cheia vem forte antes do tempo, perdemos muito. Nunca sabemos direito, mas precisamos ser pacientes. Como minha mãe dizia, aqui na floresta a gente está sempre recomeçando”. Ednelza Martins fala calmamente, no ritmo da correnteza que passa às suas costas. Tem histórias para contar, receitas de remédio para ensinar, lendas e causos para instigar a criatividade do ouvinte. Há quatro anos ela é gerente da Pousada Uacari, localizada dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá.

Mamirauá fica a uma hora e meia de barco de Tefé e 600 km de Manaus, no Rio Solimões. A saga parece cansativa, mas é insignificante quando se chega à reserva. Visitamos duas comunidades, conhecemos sobre sua cultura, vimos muita vida na floresta, do macaco uacari a carapanãs (pernilongos) super poderosos, sapos, jacarés. De pequeninas frutas murumurus a cipós, pés de munguba e a gigantesca Samaúma.

Eu quase chorei quando estava lá, no meio da maior floresta equatorial do mundo, aquele clima quente e úmido, as comidas deliciosas, os peixes todos, a noite que passamos no meio da floresta com o guia (Sr. Chiquinho) na casa de palafitas envolta por telas. Os trovões e raios que nunca trouxeram chuva, mas que nos iluminaram a noite toda junto com inúmeros vaga-lumes. Os macacos guariba escandalosos. As cobras venenosas. As aranhas cabeludas, mas inofensivas. O cacau fresco que abrimos e cujas sementes degustamos quando, ao mesmo tempo, vimos o pôr do sol no Lago Mamirauá rodeados de pássaros.

Foram dez dias de conhecimento, novidades a cada bafo quente de vento, a cada respiro. A gente acordava e ia observar a vida na floresta.  “Chegar em Mamirauá é como chegar ao paraíso. Os botos saltando ao lado do barco, as borboletas e os pássaros saudando os novatos, aquela imensidão verde ao redor”, declara Deise Nishimura, bióloga paulistana que passou nove meses na reserva estudando os carismáticos botos cor-de-rosa. Opinião semelhante tem o fotojornalista Valdemir Cunha. “É o céu estrelado mais incrível que já vi”, afirma.

“É espetacular estar em uma canoa percorrendo a floresta inundada. Não tem comparação a nada que eu já tenha experimentado antes”, declara Nathan Shepard, estadunidense, em sua primeira experiência amazônica. Para o inglês Michael Leigh, “comparada à rotina da cidade, a lembrança mais forte que tenho desta viagem é de tranquilidade”.

Quem vai a Mamirauá volta diferente. Seja por ter conseguido avistar o raro uacari branco ou por ter passado uma noite na casa da floresta, visto o pôr do sol na canoa, conhecido moradores locais, conversado com pesquisadores, tentado enxergar o topo da gigantesca Samaúma, ter sido apresentado à munguba, ao pássaro alencorne, à osga (um réptil) ou simplesmente observado a natureza em sua máxima exuberância. Uma viagem à Amazônia nos ensina que, para apreciá-la ao máximo, como lembra a dona Ednelza, precisamos ser pacientes, mudar o olhar e recomeçar. Tudo muito intenso, justamente por ser novo para mim. Ou porque a floresta é intensa mesmo.

Christiane Kokubo é jornalista, trabalha com turismo e hotelaria e certamente nunca mais vai se esquecer de sua primeira viagem pela Amazônia


Fonte: O Eco

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