sexta-feira, julho 13, 2012

NO DIVÃ DA QUIMIOTERAPIA...


Quem disse que não dar para fazer terapia no “Divã da Quimio” ?!!! Nem tudo dá para escolher não é mesmo? Um Divã terapêutico ocupacional é bem melhor, mas “Diva que é Diva”, não pode perder o Divã! Uma referência a uma grande obra teatral “Divas nos Divã”, da psicóloga e atriz Chris Linhares. Esse, da quimioterapia, também é confortável, uma poltrona fofinha: deita, senta, levanta, inclina, puxa e vai!!


Bem, a proposta aqui não é falar, dessa vez, das poltronas da quimioterapia, mas, falar, falar, falar, fofocar...Pronto falei! Quanta fofoca, nas poltronas das quimioterapias... Pelo amor de Deus, entenda que “fofoca” é sinônimo de terapia ocupacional e super alto astral, ou seja, quando várias mulheres estão juntas! 
Onde se passa? Num lugar tranquilo, na Rua 3 de Maio, no Bairro do Brás, aqui em Belém, na Clínica toda verdinha, cor da esperança, do meu oncologista Sâmio Pimentel. Não é Merchandising gente, apenas para situar onde essas mulheres, incluindo a minha pessoa, se encontram em várias tardes, para as sessões de quimioterapiaaaaaaaaaaaaaa!!! RA RA RA RA RA RA


Não é assustador, nem tão pouco dolorida, exceto quando a alma tem problemas em sentar no Divã e deixar os seus medos, suas angústias e deixar-se conduzir pela forte vontade de olhar a vida adiante. Mesmo que seja permitido também, sentir medo ou não querer sentar a esse Divã, ou se permitir a mais, onde tem muita gente para ouvir, especialmente a equipe médica e enfermeiros que se dedicam longamente para te deixar à vontade no Divã. 


Então, lá vamos nós, para mais uma quimioterapia coletiva...Sento sempre na poltrona da ponta, é que menos frio nesse cantinho. Enquanto as terapeutas(enfermeiras) preparam nossos frasquinhos com quantidades suficientes para derrubar um lindo elefante, risos...Mesmo sabendo da pancada dessas “droguinhas”, a gente espera tranquila no Divã, sabendo que nelas, estão a esperança de uma vida melhor, de voltar a encher a alma de coragem e força...Ficamos observando o cair de cada gotinha, isso quando de tão “grog” a gente num cai no sono. Cada uma de nós faz a viagem que quer. 


Tem o papo cabeça, literalmente cabeça! O papo de quem gosta de peruca, de chapéu, de lenços...As carecas começam a ferver!!! Tem uma colega, que adora peruca. Ela tem uma irresistível peruca loira “Marilyn Monroe”. Outra coleguinha, que chegou recente ao time, abalou num estilo “Cleópatra”, pretinho ao longo dos ombros. Nosso oncologista nem reconheceu a pequena! A outra, já vem com os novos e originais cachos. Curtinho ainda, mas deixou de lado os lenços e perucas. É que ela já está avançando no ciclo do tratamento, quando não caem mais os cabelos. Como os meus, que estão crescendo...
Agora, uma curiosidade que disseram no Divã: algumas mulheres confessaram que não nasceram mais como eram antes. Umas loiras são ruivas, outras que tinham lisinhos, são afros. Que bacana! Adorei a idéia de que os meus renasçam afros, em homenagem à Bel... 

Ah, agora vem outro papo cabeludo! Aliás, “descabeludo”. É que tudo cai gente! Os pêlos, por alterações hormonais, provocadas pelo tratamento, especificamente do Câncer de Mama, caem mesmo. A maioria das mulheres têm queda capilar, mas tem outro cantinho que cai tudo....lá....é...lá embaixo!!! Os pêlos pubianos, localizados precisamente na nossa “amiga-mor” vagina. Particularmente, não gosto muito desse nome científico, e tem muita gente que concorda que dá um monte de nome para nossa amiga: Thuca, Shera, Acorda Alice, Barbie...E por ai vai! Dá uma tese linguística. Voltandoooo para os pêlos...


Então, descobri que muitas adoraram a queda desses pelinhos, uma economia estética significativa, mesmo sabendo que depilação é coisa séria gente! Os pêlos pubianos ou não, têm uma função importante de defesa dos órgãos. Mas, como é por uma boa causa, a gente compartilha de tudo no Divã...
Há, mas têm aquelas que não caem tudo, chamamos de “Neimar”, estilo moicano mesmo! Hahahhahaha O difícil é encarar o estilo Neimar lá embaixo.


Nessas horas a quimioterapia vira uma sessão de risadas e você pode imaginar... Quando o assunto anima, esquecemos as gotas bombásticas da quimio. Para você ver que o difícil é sentar no Divã, é começar, mas quando você decide procurar ajuda, falar de sua dor, angústia, tudo fica mais leve...
Seja no Câncer, ou em qualquer situação da vida, procure sentar ao Divã... De um amigo, alguém da sua família, um especialista. O ruim é quando não olhamos para os lados, para frente e só queremos enxergar o passado ou parar...


O nosso Divã, da quimioterapia, tem um sentido profundo em minha vida. Lá, somos mulheres em tratamento de um câncer de mama, com vários estágios de tratamento. Mas, somos mulheres, mães, avós, tias, irmãs, amigas, esposas, donas de casa, profissionais. Enfim, levamos ao Divã, não só nossos medos, angústias, dores, mas risos, emoções, sentimentos, afeto, amizade, esperança, vitórias, fatos do dia a dia, nossa luz e a vontade de viver. Isso basta sentar ali! 


Nos risos, nas trocas, ou mesmo nas dores entre uma agulhada ou outra, pois os braços ficam doloridos por tantas agulhadas, damos força umas paras outras e mostramos que a vida real, pode sim ser dura, difícil, dolorida, às vezes sem volta, ou nos deixa sem chão. 


Mas, como diz a canção: “Se chorei, ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”. Mesmo que os sonhos, os projetos, forem atropelados no caminho, a vida precisa continuar, ainda que no Divã da Quimioterapia...



Leíria Rodrigues
É jornalista santarena

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