Os guerreiros
da imensa floresta amazônica, os povos indígenas yanomami, comemoraram, no dia
25 de maio, 20 anos de homologação da Terra Indígena Yanomami. A comemoração
vem marcar os 20 anos de luta, conquista e resistência de um povo indígena, habitante
da maior terra indígena já homologada no Brasil, com mais de nove milhões de
hectares, por meio do Decreto s/n de 25 de maio de 1992.
O momento
simbólico fez parte da programação do Encontro Regional da Hutukara Associação
Yanomami (HAY), realizado no período de 22 a 25 de maio, na Aldeia Novo Demini,
Terra Indígena Yanomami, compreendida entre os estados de Roraima e Amazonas.
Participaram do evento mais de 600 índios, de diversas Aldeias da região, com a
presença de representantes da Coordenação Regional da FUNAI de Boa Vista/RR,
Coordenação da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami Ye’kuana (FPEYY) e
Secretaria Especial da Saúde Indígena (SESAI).
O Encontro teve como objetivo discutir assuntos como saúde,
educação e proteção territorial. Na ocasião, no dia 25, houve um espaço
dedicado aos 20 anos de homologação do território tradicional, com os líderes
indígenas, Davi Kopenawa, Levi Yanomami e Geraldo Yanomami, que tiveram
participação histórica na luta em favor da demarcação e homologação da Terra
Indígena Yanomami. O evento oficial dos 20 anos está sendo organizado para o
mês de outubro deste ano.
Com a
presença de adultos, jovens e crianças no Encontro, as lideranças indígenas
apresentaram um breve histórico de todo o processo de luta pela demarcação, que
foi marcada pelo sofrimento, mortes, invasões e conflitos entre índios e
garimpeiros. Além da ausência do Estado Brasileiro, que a princípio foi omisso
às questões dos povos indígenas Yanomami.
O líder Davi
Kopenawa, conhecido mundialmente pela luta que sempre travou em defesa do seu
povo, recordou que a emblemática luta, iniciada na década de 80, perpetua-se
principalmente em defesa da preservação da floresta e da vida do povo yanomami.
Lembrou do grande protetor e guerreiro da floresta, Chico Mendes, sendo um
parceiro, um amigo que sempre esteve junto dos povos indígenas yanomami. Um
guerreiro que foi perseguido e morto, porque defendia a floresta dos invasores
(garimpeiros, pescadores, madeireiros e outros).
Uma árdua
luta, que a princípio foi amparada pela Organização das Nações Unidas (ONU),
que ao contrário do Estado Brasileiro, reconheceu e teve a iniciativa de
prestar apoio aos yanomami, iniciando-se assim, uma das maiores lutas pela demarcação
e homologação territorial indígena do Brasil.
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A homologação da TI Yanomami foi a primeira e principal
conquista dos povos da floresta que consequentemente buscaram o reconhecimento,
junto ao Estado brasileiro, o direito pela preservação e proteção do seu
território, que mesmo homologado, continua sendo alvo de garimpeiros que
insistem em permanecer no território cultural e tradicional. Além desse
direito, os índios yanomami reivindicam saúde de qualidade, educação
diferenciada, um modelo próprio educacional e principalmente o respeito à
valorização da cultura e tradição yanomami.
Neste
sentido, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), por meio da unidade regional de
Boa Vista/RR e da FPEYY, planeja e executa ações voltadas para o melhor
atendimento das reivindicações dos yanomami. Ações construídas de forma
coletiva com os índios yanomami e parceiros, nas áreas de etnodesenvolvimento,
educação, saúde e principalmente de proteção territorial.
O Coordenador
Regional de Boa Vista/RR, André dos Santos Vasconcelos, destacou o compromisso
da unidade institucional em buscar alternativas para a melhoria da qualidade de
vida dos yanomami, considerando que para alcançar tal objetivo é necessário que
os próprios indígenas participem, juntamente com os demais órgãos federais,
responsáveis pelas diversas demandas que envolvem as questões indígenas.
João Batista Catalano, Coordenador da Frente de Proteção
Etnoambiental Yanomamo Ye`kuana (FPEYY), reforçou o compromisso da instituição
em intensificar cada vez mais as ações de proteção territorial,
sustentabilidade, valorização e preservação da cultura yanomami, sendo esses um
dos objetivos dessa nova instância da FUNAI.
O evento foi encerrado, com uma grande festa cultural, danças
e cantos tradicionais, um gesto de união e fortalecimento dos povos yanomami,
que mesmo diante a tantos desafios, continuam firmes e fortes na certeza de que
poderão viver e usufruir os seus costumes e tradições, conforme o artigo 231 da
Constituição Federal, com respeito e dignidade, atingindo mais 20 anos de luta,
conquista e resistência, como verdadeiros donos da imensa floresta
amazônica.
Por: Mayra Celina Wapichana
Coordenação Regional - Boa Vista/RR