domingo, setembro 16, 2012

O POETA E A LUA

 

Em meio a um cristal de ecos

O poeta vai pela rua

Seus olhos verdes de éter

Abrem cavernas na lua.

A lua volta de flanco

Eriçada de luxúria

O poeta, aloucado e branco

Palpa as nádegas da lua.

Entre as esferas nitentes

Tremeluzem pelos fulvos

O poeta, de olhar dormente

Entreabre o pente da lua.

Em frouxos de luz e água

Palpita a ferida crua

O poeta todo se lava

De palidez e doçura.

ardente e desesperada

A lua vira em decúbito

A vinda lenta do espasmo

Aguça as pontas da lua

O poeta afaga-lhe os braços

E o ventre que se menstrua

A lua se curva em arco

Num delírio de volúpia.

O gozo aumenta de súbito

Em frêmitos que perduram

A lua vira o outro quarto

E fica de frente, nua.

O orgasmo desce do espaço

Desfeito em estrelas e nuvens

Nos ventos do mar perpassa

Um salso cheiro de lua.

E a lua, no êxtase, cresce

Se dilata e alteia e estua

O poeta se deixa em prece

Ante a beleza da lua.

Depois a lua adormece

E míngua e se pazígua...

O poeta desaparece

Envolto em cantos e plumas

E nquanto a noite enlouquece

No seu claustro de ciúmes.


Vinícius de Moraes
 

RETRATO EM BRANCO E PRETO


'Já conheço os passos dessa estrada
 Sei que não vai dar em nada
 Seus segredos sei de cor
 Já conheço as pedras do caminho
 E sei também que ali sozinho
 Eu vou ficar, tanto pior
 O que é que eu posso contra o encanto
 Desse amor que eu nego tanto
 Evito tanto
 E que no entanto
 Volta sempre a enfeitiçar
 Com seus mesmos tristes velhos fatos
 Que num álbum de retrato
 Eu teimo em colecionar'
 
João Gilberto

COSTUMES

 
“E então eu me vejo sozinha como estou agora
 E respiro toda a liberdade
 Que alguém pode ter

 De repente ser livre
 Até me assusta
 Me aceitar sem você
 Certas vezes me custa
 Como posso esquecer dos costumes
 Se nem mesmo esqueci de você”

 Roberto e Erasmo Carlos


QUASE SEM QUERER



“Tenho andado distraída
 Impaciente e indecisa
 Ainda estou confusa só que agora é diferente
 Tô tão tranquilo e tão contente


Quantas chances desperdicei
 Quando o que eu mais queria era provar pra todo mundo
 Que eu não precisava provar nada pra ninguém

 
Me fiz em mil pedaços pra você juntar
 E queria sempre achar explicação pra o que eu sentia
 Como um anjo caído fiz questão de esquecer
 Que mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira”

                                                                                                                                                       Maria Gadú