sexta-feira, novembro 23, 2012

O HOMEM E A MULHER


O homem é a mais elevada das criaturas.
A mulher é o mais sublime dos ideais.

Deus fez para o homem um trono.
Para a mulher, um altar.
O trono exalta.
O altar santifica.

O homem é o cérebro; a mulher é o coração.
O cérebro fabrica a luz; o coração produz Amor.
A luz fecunda.
O Amor ressuscita.

O homem é forte pela razão.
A mulher é invencível pelas lágrimas.
A razão convence.
As lágrimas comovem.

O homem é capaz de todos os heroísmos.
A mulher, de todos os martírios.
O heroísmo enobrece.
O martírio sublima.

O homem tem a supremacia.
A mulher, a preferência.
A supremacia significa a força.
A preferência representa o direito.

O homem é um gênio; a mulher, um anjo.
O gênio é imensurável; o anjo, indefinível.
Contempla-se o infinito.
Admira-se o inefável.

A aspiração do homem é a suprema glória.
A aspiração da mulher é a virtude extrema.
A glória faz tudo grande.
A virtude faz tudo divino.

O homem é um código.
A mulher, um evangelho.
O código corrige.
O evangelho aperfeiçoa.

O homem pensa.
A mulher sonha.
Pensar é ter no crânio uma larva.
Sonhar é ter na fronte uma auréola.

O homem é um oceano.
A mulher um lago.
O oceano tem a pérola que adorna.
O lago, a poesia que deslumbra.

O homem é a águia que voa.
A mulher é o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço.
Cantar é conquistar a alma.

O homem é um templo.
A mulher é o sacrário.
Ante o templo nos descobrimos.
Ante o sacrário nos ajoelhamos.

Enfim, o homem está colocado onde termina a terra.
E a mulher onde começa o céu.


Victor Hugo


Na foto: Christian Costa (meu colega da Ufopa) e namorada

POÉTICA DA NATUREZA


O tempo passa voando e  mais um tempo se finda.
O  lindo contraste das cores,  no fim do dia.
Céu cobrindo-se de suave penumbra...
Poesia e rima.
A noite faceira seduz o dia, abraça o sol com seus mistérios  e beleza.
Sob o olhar de remansos, banzeiros e correntezas.
Na paisagem indecifrável, o cenário de amor eterno.
Entre o dia e a noite!
O sol e a lua!
A brisa passa acariciando os pensamentos.
Fazendo aflorar  devaneios e  sentimentos.
Mas o pescador anônimo, sentado no banco da canoa,
Preocupa-se apenas em arrumar o anzol e a malhadeira...
Enquanto ouve o som dos cardumes  cortando o enigmático  silencio.
Pescador, personagem ímpar das paisagens amazônicas.
Por do sol caindo  sobre o Rio Tapajós...
Mágica, magna beleza,
Singeleza e poética da  natureza.



Socorro Carvalho

Foto: Mizael Santos 

O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS



Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água, pedra, sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos,
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.




Manoel de Barros 


O VALOR DOS GESTOS DE AMOR


   
    Um garoto pobre, com cerca de doze anos de idade, vestido e calçado de forma humilde, entra na loja, escolhe um sabonete comum e pede ao proprietário que embrulhe para presente.     “É para minha mãe”, diz com orgulho.

    O dono da loja ficou comovido diante da singeleza daquele presente. Olhou com piedade para o seu freguês e, sentindo uma grande compaixão, teve vontade de ajudá-lo.

    Pensou que poderia embrulhar, junto com o sabonete comum, algum artigo mais significativo. Entretanto, ficou indeciso: ora olhava para o garoto, ora para os artigos que tinha em sua loja.

    Devia ou não fazer? O coração dizia sim, a mente dizia não.
    O garoto, notando a indecisão do homem, pensou que ele estivesse duvidando de sua capacidade de pagar.

    Colocou a mão no bolso, retirou as moedinhas que dispunha e as colocou sobre o balcão.
    O homem ficou ainda mais comovido quando viu as moedas, de valor tão insignificante. Continuava seu conflito mental. Em sua intimidade concluíra que, se o garoto pudesse, ele compraria algo bem melhor para sua mãe.

    Lembrou de sua própria mãe. Fora pobre e muitas vezes, em sua infância e adolescência, também desejara presentear sua mãe. Quando conseguiu emprego, ela já havia partido deste mundo. O garoto, com aquele gesto, estava mexendo nas profundezas dos seus sentimentos.
    Do outro lado do balcão, o menino começou a ficar ansioso. Alguma coisa parecia estar errada. Por que o homem não embrulhava logo o sabonete?

    Ele já escolhera, pedira para embrulhar e até tinha mostrado as moedas para o pagamento. Por que a demora? Qual o problema?

    No campo da emoção, dois sentimentos se entreolhavam: a compaixão do lado do homem, a desconfiança por parte do garoto.

    Impaciente, ele perguntou: “Moço, está faltando alguma coisa?”

    “Não”, respondeu o proprietário da loja. “é que de repente me lembrei de minha mãe. Ela morreu quando eu ainda era muito jovem. Sempre quis dar um presente para ela, mas, desempregado, nunca consegui comprar nada.”

    Na espontaneidade de seus doze anos, perguntou o menino: “Nem um sabonete?”

    O homem se calou. Refletiu um pouco e desistiu da idéia de melhorar o presente do garoto. Embrulhou o sabonete com o melhor papel que tinha na loja, colocou uma fita e despachou o freguês sem responder mais nada.

    A sós, pôs-se a pensar. Como é que nunca pensara em dar algo pequeno e simples para sua mãe? Sempre entendera que presente tinha que ser alguma coisa significativa, tanto assim que, minutos antes, sentira piedade da singela compra e pensara em melhorar o presente adquirido.
    Comovido, entendeu que naquele dia tinha recebido uma grande lição. Junto com o sabonete do menino, seguia algo muito mais importante e grandioso, o melhor de todos os presentes: o gesto de amor!

    Autor desconhecido