A gente vai ficando velho e nos começa surgirem
esquisitices. Mas não é que amanheci o sábado com vontade de malhar um judas! E
veja que vivo há mais de 34 anos em Belém e nunca fui à Cremação ver a
tradição, pelo menos a pretexto de fazer uma reportagem, dar uma clicada, nada.
Mas a cabeça, com suas sinapses, é simplesmente fantástica. Lembrei-me que em
idos que o Sarapó, o Mário, nem deve imaginar, fomos ao abandonado Cristo Rei,
em Santarém, preparar um judas – aquela turma da Barão era 10. Não recordo quem
era a vítima! Não me recordo mesmo.
Bem, deve ser isso. Provavelmente um desejo inconsciente de
voltar àquela infância em que descobria as belezas da Pérola tenha me
transportado a essa é que uma das raras atitudes de rebeldia na minha vida, o
desejo de protestar contra algo ou alguém.
O primeiro nome que me veio à cachola foi do Dudu. Todo
mundo anda falando mal dele por tudo de ruim que fez à mangueirosa, como diria
o Juvêncio. Mas refleti sobre a atitude do alcaide de me enviar, no final do
mandato, uma carta pessoal agradecendo o apoio que eu havia dado à sua
administração. Agradecia até mesmo as minhas críticas. Mas eu? Fiquei sem
jeito, até porque, vendo fotos aqui no PC, comparei a 14 de Março de antes e de
depois do Dudu. Achei melhor deixá-lo para lá. Que tal o Jatene, que até agora
não “tene” nada? Ele anda meio adoentado, e não é de bom caráter falar mal das
pessoas nessa condição. Pode até comprometer a recuperação das mesmas.
Pensei nos padres
pedófilos. Padres pedófilos? Convivo desde fevereiro de 1952 com sacerdotes,
entre os quais tenho grandes amigos. A maioria , acredito, é feita de quase
santos. Não dá! Então vamos falar mal de pastor, desse, o Feliciano, que meio
mundo andou malhando mesmo antes do dia da tradição. É um pastor homofóbico e
racista, merece mesmo ser escorraçado. Procurei as provas e não encontrei nada
que, segundo minha parca sabedoria, me levasse a afirmar que o sujeito é o
anhanga. Égua! Percebi, também, que sou evangélico e que tenho uma penca de
amigos pastores. Que diriam eles?
Coragem! Vou escolher um indivíduo da turma BGLT pra ver a
coivara arder. Sem medo de ser feliz, comecei a enumerar um sem-fim de nomes que
há muito saíram do armário. Como diria o Chico, qual o quê, os caras e as caras
são recobertos de açúcar e de afeto. Bicho, quanto refresco e broa eu consumi à
entrada do Aderbal Corrêa, depois Elinaldo Barbosa. Quanta gente acima de
qualquer suspeita saboreava aquele refresco com os olhos brilhando de
felicidade, e ninguém, nunca, levantou a mão contra. Não foi falta de coragem,
foi ausência de um bom motivo para criar uma encrenca danada com o tal Jean
Wyllys.
Imaginei alguém da política grande, gente bem distante da
província. Que tal a Dilma? Quem? A mãezona? Só se a demência já tivesse
dominado por completo estes 0,001% que funciona debaixo do meu cocuruto. Nos
ribas da vida não adianta: quanto mais batem nos caras mais eles crescem.
Experimentei uma viagem mais longa, pois assuntos não faltam. Mas é ir longe de
mais, por exemplo, tentar chegar Coreia, ao belicoso Kim. Também seria malhar
em ferro frio. Que falta faz o Bush, o filho.
Diante de tanto muro, abri a gaveta da minha desgastada
cômoda, pequei um paletó quadriculado e uma calça boca-de-sino que usei para
apresentar uma das Feiras da Cultura Popular, e guardava como recordação, e os
vesti no saco de socar do Tom. Amarrei no cordame que o prende ao teto uma
copia feita na HP Deskjet de uma foto desta minha cara angulosa e cheia de
sulco que nem uma sapopema e mandei ver: apanha para aprenderes a ter pelo
menos coragem de escolher um judas para malhar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Agradeço sua visita, com breve retorno!! Seu comentário vem somar mais versos em minhas inspirações... grande abraço. Se quiser pode escrever diretamente para o meu email: socorrosantarem@gmail.com