segunda-feira, abril 01, 2013

EU QUERIA UM JUDAS PARA MALHAR


A gente vai ficando velho e nos começa surgirem esquisitices. Mas não é que amanheci o sábado com vontade de malhar um judas! E veja que vivo há mais de 34 anos em Belém e nunca fui à Cremação ver a tradição, pelo menos a pretexto de fazer uma reportagem, dar uma clicada, nada. Mas a cabeça, com suas sinapses, é simplesmente fantástica. Lembrei-me que em idos que o Sarapó, o Mário, nem deve imaginar, fomos ao abandonado Cristo Rei, em Santarém, preparar um judas – aquela turma da Barão era 10. Não recordo quem era a vítima! Não me recordo mesmo.

Bem, deve ser isso. Provavelmente um desejo inconsciente de voltar àquela infância em que descobria as belezas da Pérola tenha me transportado a essa é que uma das raras atitudes de rebeldia na minha vida, o desejo de protestar contra algo ou alguém.

O primeiro nome que me veio à cachola foi do Dudu. Todo mundo anda falando mal dele por tudo de ruim que fez à mangueirosa, como diria o Juvêncio. Mas refleti sobre a atitude do alcaide de me enviar, no final do mandato, uma carta pessoal agradecendo o apoio que eu havia dado à sua administração. Agradecia até mesmo as minhas críticas. Mas eu? Fiquei sem jeito, até porque, vendo fotos aqui no PC, comparei a 14 de Março de antes e de depois do Dudu. Achei melhor deixá-lo para lá. Que tal o Jatene, que até agora não “tene” nada? Ele anda meio adoentado, e não é de bom caráter falar mal das pessoas nessa condição. Pode até comprometer a recuperação das mesmas.

 Pensei nos padres pedófilos. Padres pedófilos? Convivo desde fevereiro de 1952 com sacerdotes, entre os quais tenho grandes amigos. A maioria , acredito, é feita de quase santos. Não dá! Então vamos falar mal de pastor, desse, o Feliciano, que meio mundo andou malhando mesmo antes do dia da tradição. É um pastor homofóbico e racista, merece mesmo ser escorraçado. Procurei as provas e não encontrei nada que, segundo minha parca sabedoria, me levasse a afirmar que o sujeito é o anhanga. Égua! Percebi, também, que sou evangélico e que tenho uma penca de amigos pastores. Que diriam eles?

Coragem! Vou escolher um indivíduo da turma BGLT pra ver a coivara arder. Sem medo de ser feliz, comecei a enumerar um sem-fim de nomes que há muito saíram do armário. Como diria o Chico, qual o quê, os caras e as caras são recobertos de açúcar e de afeto. Bicho, quanto refresco e broa eu consumi à entrada do Aderbal Corrêa, depois Elinaldo Barbosa. Quanta gente acima de qualquer suspeita saboreava aquele refresco com os olhos brilhando de felicidade, e ninguém, nunca, levantou a mão contra. Não foi falta de coragem, foi ausência de um bom motivo para criar uma encrenca danada com o tal Jean Wyllys.

Imaginei alguém da política grande, gente bem distante da província. Que tal a Dilma? Quem? A mãezona? Só se a demência já tivesse dominado por completo estes 0,001% que funciona debaixo do meu cocuruto. Nos ribas da vida não adianta: quanto mais batem nos caras mais eles crescem. Experimentei uma viagem mais longa, pois assuntos não faltam. Mas é ir longe de mais, por exemplo, tentar chegar Coreia, ao belicoso Kim. Também seria malhar em ferro frio. Que falta faz o Bush, o filho.

Diante de tanto muro, abri a gaveta da minha desgastada cômoda, pequei um paletó quadriculado e uma calça boca-de-sino que usei para apresentar uma das Feiras da Cultura Popular, e guardava como recordação, e os vesti no saco de socar do Tom. Amarrei no cordame que o prende ao teto uma copia feita na HP Deskjet de uma foto desta minha cara angulosa e cheia de sulco que nem uma sapopema e mandei ver: apanha para aprenderes a ter pelo menos coragem de escolher um judas para malhar.


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