quarta-feira, abril 10, 2013

O ROMANTISMO É ESSENCIAL



Domingo eu me peguei com lágrimas nos olhos assistindo Across de the universe, aquele musical de 2007 feito com músicas dos Beatles. Na última cena, Jude, o protagonista, está no terraço de um edifício e canta All we need is love, pá, pá, rá, ri, rá. A garota que ele ama, Lucy, ouve a voz dele lá de baixo, da rua, e sobe até a cobertura do prédio vizinho. O filme, deliciosamente romântico, nostalgicamente anos 60, termina com os dois se olhando à distância, tendo ao fundo os prédios de Nova York e o refrão inesquecível – All we need is love, pá, pá, rá, ri, rá...

Não sei quanto a vocês, mas eu ainda acho, ainda sinto, que o romantismo é totalmente essencial. Digo ainda porque aos 20 anos ele nos brota na pele. Aos 30 ele nos derruba e a gente imagina, erroneamente, que em algum momento ele vai se esgotar. Mas não. O tempo passa, na verdade ele voa, mas um pedaço enorme de nós anseia permanentemente pela vertigem amorosa – e se debruça feliz sobre o abismo quando ela aparece. Aos 40 anos, aos 50 e seguramente, depois.

O romance é uma forma de oxigênio existencial: se eu respiro, vivo; se eu me apaixono, me sinto vivo.

Há um tremor de aventura e novidade em estar apaixonado. Você se debruça sobre a criatura amada e sente que ela é única. O sexo acabou faz alguns minutos, mas você ainda se sente ligado a ela por um cordão dourado e intangível. Ou então ela sofre, tem uma dor qualquer, e você a toca, abraça, consola – e teme. E se aquele corpo sumisse, levando nele o seu amor e seu desejo, o que seria de você?

Às vezes eu entendo as pessoas que fogem da paixão e do romance. Quando ele acaba é terrível. Esperar por uma chamada telefônica que nunca vem é atroz. Sentir-se ignorado, repelido, indesejado. Ou saber que acabou, realmente acabou, mirar o outro como um fantasma e sentir em você o vazio se abrindo como um abismo, a sensação de que não há futuro, não há presente, apenas a dor, enchendo todos os buracos como uma água fria. Quem pode possivelmente gostar disso? 

Antes que o fim aconteça – é bom que a gente lembre – vem a aventura da paixão. Há um momento luminoso em que a gente se percebe apaixonado. É quando você não pode ter o suficiente do outro. Quando não se cansa dele. Quando sente falta, sente saudades, algo em você pede aquela presença. Esse outro não é fonte de dor, é causa de alegria. Ela aparece e você vibra. Ela fala com você e o seu coração canta. Vocês conversam interminavelmente, riem, conversam ao telefone, trocam mensagens. Sua mão procura a dela num gesto irrefreável de ternura. Você é tímido, mas adora falar para ela, adora olhar nos olhos dela, adora ver o corpo dela que vem, o corpo dela que balança quando vai. Ela passa as mãos nos cabelos, ela tira os sapatos – meu deus! – e seus olhos se perdem naqueles gestos mínimos. Quanto se pode desejar o corpo do outro? Muito.

Há sentimentos mais nobres, claro. A paixão é banal, egoísta, possivelmente reacionária e frequentemente se opõe a sentimentos mais generosos, como a amizade. Ao mesmo tempo, ela é essencial, no sentido que de emana de nós com dolorosa naturalidade. Talvez seja parte da nossa essência, como o medo, a ira e o riso. Parece ser uma aspiração permanente que, mesmo a contragosto, nos preenche. Não há como lutar contra algo tão básico.

Ontem eu fui ver um documentário sobre Philip Roth, um dos meus escritores favoritos. Ele tem mais de 80 anos e a melancolia da morte – dele e dos que vivem ao seu lado – se manifesta na fala dele (como na obra dele) de forma inevitável. Ainda assim, mesmo diante dessa sombra incontornável, ele fala de sexo e erotismo com vivacidade e humor. Está lá também a atriz Mia Farrow, uma das suas inúmeras amigas, ainda bonita aos 68 anos, para elogiar esse homem notável, que foi e segue sendo um grande sedutor. A vida continua enquanto há vida.

Por isso eu vou continuar me comovendo com filmes românticos como Across the universe. Por isso você vai parar de respirar quando ela tirar os sapatos ou prender os cabelos. Por isso ela vai sentir uma vontade irrefreável de dizer que ama no meio do dia. Assim somos nós, criaturas feitas de desejo e de vontade de amar, gente incompleta destinada a buscar nos outros, permanentemente, aquilo que nos falta.

IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA 
                                                                                                 Fonte: Revista Época

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