Quem
apaga a própria personalidade comete alguma espécie escandalosa de suicídio
Falávamos,
eu e o amigo, de uma mulher que ambos conhecemos. Moderna, inteligente, bonita.
Disponível, além de tudo. Pergunto por que ele nunca tentou namorá-la. “Ao
conviver com ela, perdi o interesse”, ele responde. “Toda vez que namora, ela
vira uma sombra obediente do sujeito com quem está. Parece que não tem
personalidade própria. Para mim, perdeu a graça.”
Suponho
que vocês conhecem gente assim, submissa. Acontece com homens e mulheres. A pessoa
passa a vida esperando por gente que mande nela. Quando um alguém aparece, (e
pode ser qualquer um), ela se anula, se submete e se torna, para quem a
conheceu, mais ou menos irreconhecível. Quer dizer: é a mesmíssima pessoa, mas
dá impressão de ter pendurado suas opiniões e sentimentos num cabide.
Apaixonada – ou apaixonado - age como bichinho obediente e temeroso. O mais
importante passa a ser a aprovação do Fulano ou a Sicrana.
Homens
legais não gostam desse tipo de alma apagada. Suponho que mulheres também não.
Alguma deferência aos desejos e às ansiedades do parceiro está na conta (seria
estranho, aliás, estar com alguém e portar-se como se os sentimentos da pessoa
não importassem). Mas quem deleta a sua personalidade em nome do outro comete
alguma espécie escandalosa de suicídio. No longo prazo, o resultado é broxante.
Nada mais inevitável do que enjoar de gente sem luz própria, que está no mundo
apenas para nos servir. Exceto, talvez, no universo peculiar do sexo.
Outro
dia, li um texto feminino que descrevia, minuciosamente, os prazeres da
submissão sexual. Não era sadomasoquismo. Parecia uma moça normal, contando
como lhe dava prazer curvar-se aos desejos do parceiro, portar-se como gueixa,
ser usada pelo seu homem. Não havia violência, apenas irrestrita e libidinosa
devoção. Mesmo não sendo minha praia, achei tocante. Talvez nesse caso, se o
parceiro curtir a mesma viagem, a submissão não seja enjoativa. Até o
contrário.
Mas
sexo, apesar das ilusões conservadoras, não tem a ver com caráter. A mesma moça
que rasteja por prazer pode ser um mulherão altivo e resoluto fora do quarto.
Na intimidade vicejam fantasias frequentemente opostas ao que se é no
dia-a-dia: a personalidade dominante encontra prazer em ser submissa; a tímida
explode de excitação ao assumir o comando do sexo. Ou tudo ao contrário e
misturado. Lá no fundo, onde se engendra o desejo, somos criaturas cheias de
mistério.
Na
vida em pé e vestida, haverá quem prefira uma pessoa servil para servir-se, mas
assumo que sejam as exceções. Relacionamentos costumam ser melhor com duas
personalidades envolvidas. É pelo menos mais rico. As diferenças de tom e de
andamento nos divertem. As discrepâncias de estilo, de idade, de renda, de
gosto e cultura formam uma colcha de retalhos sob a qual dormimos enlaçados e
nus. Nós e nossos sonhos separados. Nós e nossas lindas personalidades
fraturadas. Duas pessoas que se tornam uma apenas no mais fugaz e elusivo dos
momentos. Não parece muito, mas é tudo que temos.
Olá Socorro!!
ResponderExcluirSeu texto está perfeito, principalmente quando fala sobre a submissão feminina, que muitas vezes leva a violência contra à mulher.
Parabéns pelo blog e posts abordados. Já estou te seguindo.
Abraços.Sandra
anular-se..NUNCA..nem por amor!!
ResponderExcluirNão deve haver submissão!
ResponderExcluirDevemos caminhar lado a lado...mesmo por
trilhos diferenciados...mas na mesma direção!
É um tema pertinente!
olá..
ResponderExcluirvim agradecer a visita e palavras..
conhecer por aqui..
tema para reflexão.. bem escrito.
beijos e vou vendo tudo devagar.
Passando para te desejar uma ótima sexta!!
ResponderExcluirAbraços.Sandra