Aceso está o fogo
prontas as mãos
o dia parou a sua
lenta marcha
de mergulhar na
noite.
As mãos criam na água
uma pele nova
panos brancos
uma panela a ferver
mais a faca de cortar
Uma dor fina
a marcar os
intervalos de tempo
vinte cabaças deleite
que o vento trabalha
manteiga
a lua pousada na
pedra de afiar
Uma mulher oferece à
noite
o silêncio aberto
de um grito
sem som nem gesto
apenas o silêncio
aberto assim ao grito
solto ao intervalo
das lágrimas
As velhas desfiam uma
lenta memória
que acende a noite de
palavras
depois aquecem as
mãos de semear fogueiras
Uma mulher arde
no fogo de uma dor
fria
igual a todas as
dores
maior que todas as
dores.
Esta mulher arde
no meio da noite
perdida
colhendo o rio
enquanto as crianças
dormem
seus pequenos sonhos
de leite.
Paula Tavares
Poetisa angolana
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