domingo, março 17, 2013

TEMPORADA 2013 DO PROJETO RÁDIO PELA EDUCAÇÃO



Amanhã, 18 de março,  entra no ar a Temporada 2013 do Projeto Rádio pela Educação com o Programa Para Ouvir e Aprender.

O primeiro programa da Temporada vai ao ar  a partir das 07h30 e às 14h10, pelas ondas da Rádio Rural de Santarém. Com duração de 30 minutos o Para Ouvir e Aprender  vai contar com  a apresentação da dupla  Nicole Ferreira e Rafael Corrêa, integrantes do Núcleo de Leitores do Projeto e participação da Equipe Técnica.

Após um período de férias o Rádio Pela Educação está de volta e novamente em parceria a com a Prefeitura Municipal de Santarém, por meio da Secretária Municipal de Educação.

Este ano  o Para Ouvir e Aprender  retorna à  Nova Temporada trazendo muitas novidades para envolver a população estudantil e educadores das escolas do Município, que são parceiras  do Projeto.

Nos primeiros programas  vamos  contar com a parceria do SESC – Serviço Social do Comércio – por meio do Projeto Ciranda de Jogos, Brinquedos e Brincadeiras. Dentro dos programas Egon Pacheco – arte educador do SESC vai ter uma participação especial através de Contação de Estórias.

Na Rádio Rural  às 07h:30 vai ao ar  o primeiro Para Ouvir e Aprender de 2013. Alexandre Von -  Prefeito e  Irene Scher -  Secretária de Educação de Santarém são convidados do programa e vão falar da parceria firmada e da importância do projeto Rádio Pela Educação no Município.

O Para Ouvir e Aprender é reprisado no horário da tarde a partir das 14h:10 após o Rural Notícia das 14h: 00. 

Avisamos aos diretores e diretoras que o cadastro e o recadastramento de escolas prosseguem na sede do Projeto na Rádio Rural de Santarém.

Em breve estaremos de volta com o blog institucional do Projeto atualizado e você ficará por dentro de todas as atividades do Projeto e do Programa.


Socorro Carvalho
Coordenadora de Produção do Rádio Pela Educação

SABEDORIA INDÍGENA: O SILÊNCIO

Gedeão Arapyú - estudante de Letras da Ufopa

Nós os índios, conhecemos o silêncio.  Não temos medo dele.
Na verdade, para nós ele é mais poderoso do que as palavras.
Nossos ancestrais foram educados nas maneiras do silêncio e eles
nos transmitiram esse conhecimento.
"Observa, escuta, e logo atua", nos diziam.
Esta é a maneira correta de viver.
Observa os animais para ver como cuidam se seus filhotes.
Observa os anciões para ver como se comportam.
Observa o homem branco para ver o que querem.
Sempre observa primeiro, com o coração e a mente quietos,
e então aprenderás.
 Quanto tiveres observado o suficiente, então poderás atuar.
Com vocês, brancos, é o contrário. Vocês aprendem falando.
Dão prêmios às crianças que falam mais na escola.
Em suas festas, todos tratam de falar.
No trabalho estão sempre tendo reuniões
nas quais todos interrompem a todos,
e todos falam cinco, dez, cem vezes.
E chamam isso de "resolver um problema".
Quando estão numa habitação e há silêncio, ficam nervosos.
Precisam  preencher o espaço com sons.
Então, falam compulsivamente, mesmo antes de saber o que vão dizer.
Vocês gostam de discutir. 
Nem sequer permitem que o outro termine uma frase.
Sempre interrompem.
 Para nós isso é muito desrespeitoso e muito estúpido, inclusive.
Se começas a falar, eu não vou te interromper.
Te escutarei.
Talvez deixe de escutá-lo se não gostar do que estás dizendo.
Mas não vou interromper-te.
 Quando terminares, tomarei minha decisão sobre o que disseste,
mas não te direi se não estou de acordo, a menos que seja importante.
 Do contrário, simplesmente ficarei calado e me afastarei.
Terás dito o que preciso saber.
Não há mais nada a dizer.
Mas isso não é suficiente para a maioria de vocês.
Deveríamos pensar nas suas palavras como se fossem sementes.
Deveriam plantá-las, e permiti-las crescer em silêncio.
Nossos ancestrais nos ensinaram que a terra está sempre nos falando,
e que devemos ficar em silêncio para escutá-la.
Existem muitas vozes além das nossas.
Muitas vozes.
 Só vamos escutá-las em silêncio.

 
"Neither Wolf nor Dog. On Forgotten Roads with an Indian Elder" - Kent Nerburn



CADÊ O MEU PIRÃO

O comunicador Santino Soares "fabricando" farinha ....


Farinha é um dos alimentos que jamais pensei que pudessem me faltar na hora de comer. Mas que nada! Estou, nesta altura da vida, tentando encontrar um meio de agradar o paladar e preencher um permanente vazio no estomago. Já o conhecia de fome de verdade. Agora é diferente. Mesmo saciado, com bucho para arrebentar, e ele lá! À espera do quê? Da farinha.

Talvez para o povo dos dias de hoje, acostumado às guloseimas das mais diversas origens, formas e gostos nem saiba da importância da farinha na alimentação de um caboclo vivido e curtido nas beiradas de rios e nos centrões; nessas paragens onde há muito se descobriu a importância de Mani, fruto das desilusões de uma paixão que foi transformada em vida, lá pelos lados de Santarém.

Ainda curuminzinho, sem que os olhos estivessem abertos totalmente, já se intercalava o leite materno com uma papinha de carimã; alguns dias depois era mingau de farinha mesmo, que formaria o homem e a mulher de fibra, capazes de enfrentar endemias, bichos, sol direto no cocuruto, chuva de fazer tremer os ossos e todos os tipos de adversidades próprias deste imenso rincão amazônico. É claro que muitas vezes aquele mingau vinha rico com o vinho da bacaba, uma castanha, um pouco de leite do Amapá ou com legumes, principalmente o jerimum. De lamber os beiços!

Na mesa cabocla a farinha sempre foi o prato principal: farinha com peixe, farinha com carne, farinha com frutas. E ainda, para engrossar o caldo do peixe e da carne.

Até na doença que levasse o cidadão a uma fraqueza de matar o remédio era o caribé, que, como sempre foi proclamado, levanta até defunto.

Quando acabava a abundância da caça e da pesca, quando escasseava a coleta dos frutos, chegava a hora do irmão chibé. O tal era tão considerado que mesmo nas épocas das farturas o mesmo era servido como uma espécie de sobremesa.

Agora estes hábitos tão saudáveis estão severamente ameaçados pelo preço que o produto alcançou. Parece que muita gente pensa que o amarelo da cor da puba é ouro puro. Está mais cara que o frango e até mesmo que alguns cortes da carne bovina.

Num desses dias perdi um ouvinte do meu programa de rádio ao comentar que o preço da farinha estava me proibindo de cosumir o produto. Ele mandou-me uma mensagem demonstrando todo o seu desapontamento. Dizia ele: agora que estamos ganhando um dinheirinho com a nossa produção tu te danas a fazer propaganda contra? Não te ouço nunca mais. Não tiro a razão dele, e inconformado perdi a farinha e o ouvinte.

Entrevistei um técnico do governo e ele, como era de se esperar, me deu uma explicação técnica, afirmando que o preço da farinha um dia vai baixar. Eu espero que ele esteja certo pelo menos na última parte, pois dizer que o preço aumentou porque a produção caiu por causa das condições climáticas não me convenceu.

É claro que vivi a época em que uma terrível estiagem conseguiu secar as roças de mandioca e faltou farinha. Foi um tempo muito difícil. Da capital, Belém, madavam para o interior uma farinha que parecia mais uma massa de carimã, de tão fina. Não chegava a quebrar o galho, mas a gente ia comento. Um dia, porém, correu a notícia que pelas bandas de Oriximiná um bode teve o bucho arrebentado depois de comer um saco da surui e bebido água em seguida. Pronto, ninguém mais quis comer o pó que vinha da capital com medo de espocar como o bode.

Se pudesse me mudaria para o Norte da África, onde, segundo um amigo meu que mora em Paris, estão fabricando em abundância uma farinha de alta qualidade. Mas fico pensando: será que se pode confiar no gosto de um caboclo que está mais para francês?

Resta-me uma esperança: um decreto do poderoso governo mandando todos aqueles que até ontem cultivavam Mani e produziam a insubstituível farinha, voltem a fazê-lo. Poder para isso o governo tem. Então, valeria a explicação do técnico: quanto maior oferta de farinha, tanto menor o preço. 

Santino Soares
Radialista santareno. Ex locutor da Rádio Rural.
Atualmente militando na imprensa de Belém, onde reside.
Diga-se de passagem , Santino Soares é dono de uma das vozes mais maravilhosas que já ouvi na comunicação... e chamando meu nome... então... é demais!! rsrs

Lindo texto Santino. Parabéns!!