Que sociedade não anseia viver em
plena harmonia, respeitando algumas virtudes fundamentais como: prudência,
valor, temperança e justiça. Todos estes sentimentos visam gerar uma certa
ordem, limitando-nos a nossa consciência e o respeito ao próximo.
Com a evolução da espécie humana,
a formação da sociedade teve um papel fundamental, e com esta formação foi
necessário o advento de sentimentos tais como: bondade, dignidade, a busca do
bem estar dos seres que convivem num mesmo espaço. Todas as formas de cultura
elaboraram mitos para remir os procedimentos morais. A ética moderna evidencia
influências da psicanálise de Sigmund Freud e dos ensinamentos behavioristas.
Freud atribuiu o problema do bem e do mal em cada indivíduo à luta entre o
impulso do eu instintivo para agradar a todos os seus desejos e a necessidade
do eu social de controlá-los ou reprimi-los. O behaviorismo, por meio da
observação dos comportamentos animais, avigorou a idéia da probabilidade de
mudar a natureza humana, promovendo as condições que beneficia os desejos de
mudança. Tendo explanado desta forma, podemos ainda pensar no assunto da
globalização como um outro aspecto de mudança da cultura e por conseqüência
disso uma mudança na ética e na moral da humanidade.
Com o surgimento da globalização,
percebe-se que as pessoas estão cada vez mais independentes e egocêntricas,
pois prioriza-se o consumismo e a valorização profissional e pessoal em
detrimento de qualidade e virtudes como sociabilidade, respeitabilidade e
cordialidade. A globalização deriva da agilidade com que as informações são
processadas. Hoje temos a internet, como um papel transformador da sociedade
moderna, que integra o homem ao mundo, mas ao mesmo tempo o separa de
princípios fundamentais humanitários. O ser humano tem acesso a qualquer parte
do mundo, a quaisquer informações que anseia, estando conectado apenas por uma
linha telefônica instalada em seu domicílio, sendo assim, na tela do computador
surgem diversificadas notícias, fatos e acontecimentos, além de se ter acesso a
assuntos inúteis, que proporcionam distração àqueles que caem nesta “rede”, e
às vezes pela curiosidade se vêem enlaçados, presos a situações comprometedoras
e muitas vezes duvidosas. Não queremos dizer que somos contra a modernidade,
nem tão pouco estamos falando que a internet não proporciona boas informações,
mas estamos sim apresentando a questão como ela tem sido veiculada, e mesmo
como acadêmicas não podemos jamais dizer isso, pois muitas pesquisas podem ser
feitas pela internet, e muito se pode saber sobre avanços científicos e ações
realizadas em qualquer parte do mundo. Mas usando mais os fatos reais, e, ou
melhor, dizendo, tratando-se de Brasil, quantas pessoas têm realmente acesso à
internet, ou melhor, quantas pessoas têm acesso às informações básicas – neste
texto pretendemos retornar a esse assunto – sem falar nos avanços dos aparelhos
celulares e uma “parafernália eletrônica de última geração”.
Porém é necessário lembrar que
temos de estar atentos para não cairmos em ciladas. “O impacto de mercado
desregulado e internacionalizado em sociedades tão desiguais como a brasileira
tem produzido um elevado custo social e político por atingir desigualmente as
camadas sociais, penalizando mais aquelas já marginalizadas e excluídas,
historicamente”. (Vera Correa, 2000).
Não obstante, a globalização
padronizar o pensamento, ela ainda é “comercialista”, visa somente à
competitividade, à valorização do mercado através do capital, além de ressaltar
as peculiaridades regionais e não deixar dúvidas, nos consumidores, de que
aqueles que não detêm tecnologia estão excluídos do grande sistema que
ambiciona gerar um pensamento universal. Um dos primeiros sintomas que a
globalização gera é a exclusão, que não é só sentida socialmente, como também
psicologicamente, a pessoa opta pelo ostracismo, deixa de se interessar por
viver em sociedade e acaba por cair em depressão. Entretanto, resta ratificar
que ainda é cedo para avaliar todas as seqüelas que esta interação global terá
sobre as novas gerações e nomeadamente nas dos países do terceiro mundo. Mas já
se sabe que a vivência humana globalizada está criando uma nova forma de
pensamento, resta saber qual será o resultado deste novo contato.
Após fazermos uma breve
apresentação sobre a ética e a globalização, queremos agora analisá-las na
visão da escola. Até os 12 anos de idade a criança é ensinada a dividir seus
brinquedos, a ser boa, a respeitar os outros, respeitar as diferenças, conviver
com as diferenças de cada ser, a cooperar sempre que isso estiver ao seu alcance,
e isso geralmente tem sido ensinado dentro da escola – visto que a instituição
família tem se eximido da responsabilidade conceder tais ensinamentos. A escola
passa a ter o papel de instruir as crianças no caminho moral, e ainda
encher-lhes de conhecimentos.
Após essa idade de 12 anos a
escola muda de papel, deixando de ser humanitária e passando a ser
comercialista. Passa então a ensinar de forma diferente para que o adolescente
veja o mundo como um palco para a competição, onde será cobrado do aluno um
destaque com relação aos demais em avaliações e pesquisas. A visão agora é ser
o melhor possível, pois são dessas pessoas que o mercado de trabalho precisa.
Começa-se a “produzir seres humanos em série” que devem esquecer sentimentos,
pensamentos, e todo o cansaço do corpo para satisfazerem o “Grande Mestre”: O
Mercado.
Deixando de lado esta “veia”
marxista que muito nos atrai e voltando ao assunto, queremos explorar mais
sobre como a escola pode tratar este contexto.
A partir deste ponto a criança,
foco em questão, passa a ver o mundo da seguinte maneira: “até certo ponto, ou
melhor, socialmente falando, sou amável e bem dócil, mas quando se fala em
levar vantagem utilizo o ditado ‘olho por olho, dente por dente’, e a partir
daí salve-se quem puder”. O menino que sai do ensino fundamental, acostumado a
tratar a professora como “Tia”, passa a ver o mundo de forma bem diferente,
ouve os adultos falarem: “o mundo é para os melhores”, ou “quem tem dinheiro
tem tudo”, ou mesmo “preciso trabalhar e estudar o dobro para ser alguém na
vida” ou ainda, “estamos num país pobre é melhor nos acostumarmos com essa
situação, precisamos nos conformar com nossa pobreza”. Chocam-se, então, dois
pensamentos tão apregoados pelas instituições educacionais: de um lado a ética
que nos leva a averiguar as possibilidades, os limites, as restrições, o
respeito da individualidade e da coletividade, o sentimento de cooperativismo,
e até mesmo o apreço e respeito pela natureza, de outro lado o mundo global que
só garante futuro para o sujeito que se encaixa com destaque no mercado da
competitividade, e por conseqüência deixa de lado todas as virtudes humanas
citadas acima.
Ao mesmo tempo a própria escola
assume dois papéis tão diferentes em um espaço de dois meses (período de férias
dos alunos, exatamente no período em que a criança passa do Ensino Fundamental
para o Ensino Médio), na primeira cena a escola faz ensinamentos morais e numa
segunda, leva a criança ao encontro de um mundo cuja globalização já se tornou
irreversível. Não queremos colocar a escola como ré do processo de formação do
indivíduo, mas queremos mostrar que ela ainda pode ser um instrumento de
mudança, uma referência para todos que nela ingressam. Pode fornecer não só uma
mudança intelectual, mas uma mudança da situação de exclusão em que muitos
vivem, ainda mais se tratando de um país como o Brasil, onde a diferença de
classes ainda é acentuada em dois pólos: ricos e pobres. A escola precisa
resgatar seus sentimentos para a visão humanística, resgatar sentimentos morais
e éticos, deixando bem claro as condições do país em que vivemos e que
precisamos sim de uma mudança, mas que ela venha com dignidade, não nos
excluindo mais, ou colocando isso em evidencia a todo o momento, mas nos
fazendo uma nação. Sabemos que mudar a posição da escola com relação ao assunto
aqui proposto é algo muito complexo, pois ela sofre uma influência estatal,
influência que é mais de interesse político. O estado não está preocupado com a
defasagem escolar ou com o caos que a escola tem enfrentado. O que realmente
tem preocupado as últimas políticas que se fizeram vigentes no Brasil é o “Faz
de Conta”, faz de conta que se ensina e que não se tem crianças em trabalho
escravo, simplesmente por que o Brasil precisa de dinheiro do FMI (Fundo Monetário
Internacional). Com isso tem-se iludido um país inteiro e ainda o próprio FMI
com números elevados em relatórios bem ilustrados de uma Educação de boa
qualidade, relatório esse de conclusão do processo escolar das crianças, ditas
bem preparadas para o mundo, para encarar a globalização, quando na verdade a
educação que tem sido oferecida não leva o jovem a lugar nenhum a não ser à
marginalidade, evidenciando ainda mais a exclusão.
Sabemos que no campo empregatício
essa globalização tem gerado ondas de desemprego que assolam o país, como
afirmou Vera Correa em seu livro: “Globalização e Neoliberalismo: O que isso
tem a ver com você professor?”;
“O que queremos aqui destacar é o
fato de que os países ditos periféricos foram mais duramente atingidos pelas
acentuadas mudanças no mercado de trabalho e, consequentemente, nas condições
de vida da maioria da população. Dadas essas diferenças, mesmo que o
desemprego, por exemplo, tenha também atingido os países centrais, isso ocorreu
em menor escala e sob outras condições. Temos acompanhado através de
seminários, encontros, e publicações em periódicos especializados e da mídia
como essas transformações tem agravado principalmente os problemas sociais e
políticos já existentes, tais como o argumento do desemprego, da miséria
absoluta, da fome, do retorno de doenças consideradas erradicadas, do descaso
com a educação pública, a pesquisa, etc.” (Vera Correa, 2000).
Essa questão do desemprego tem
assolado a todos os países, assim chamados por Vera Correa de periféricos. Nem
mesmo a classe dos professores está imune ao desemprego. É exatamente por isso
que é necessário se tomar uma postura mais humanista e menos mercantilista,
pois o que estamos vendo é a doação do saber sendo encarada como mercadoria. É
necessário mudar esta situação para que seja possível gerar um país que
respeite as desigualdades verdadeiramente e não somente de fachada. Os
professores devem ensinar a seus alunos a importância das ações e regras da
ética e da moral, para que possam ocorrer mudanças nas condições de vida dos
alunos, alterando o cenário de exclusão em que vivem e fazendo com que vivam de
cabeça erguida, conscientes de que devem cumprir seu papel dentro da sua
sociedade.
É necessário que se modifique a
maneira de pensar com respeito à educação, e o primeiro passo é alterar a
concepção que a classe de professores tem de si mesma, concepção esta que
valoriza menos os professores do Ensino Fundamental, conferindo mais valor ao
professor do Ensino Médio. E isso fica cada vez mais explícito quando um aluno
chega a uma série sem as informações que parecem ser necessárias, mas que
deveriam ser ensinadas na série anterior. Limita-se a ministrar o conteúdo
oficial da grade curricular, não indo além desta nem tampouco revisando
matérias de séries anteriores. Posturas como estas, além de serem antiéticas,
são ainda excludentes, pois o professor pensa só no seu papel de ensinar a
matéria que esta direcionada para aquela série, não se deixando desviar para
revisão ou mesmo para acrescentar conhecimentos.
Os professores podem ser
eficientes instrumentos de mudança na sociedade. Foi assim com todos os que se
tornaram mestres assim como Platão, Sócrates e outros. Presentemente é preciso
retomar os caminhos de mudança, que colocam em prova, checa e ao mesmo tempo
choca, analisa e transforma. Mesmo que as mudanças levem muito tempo para
surtir efeito. É preciso esta nas mãos dos professores além do giz e livros
estar à base para as maiores mudanças para o mundo.
Miriam Pacheco da Silva Seixas &
Mirlene Pacheco Alves
Referências Bibliográficas:
CORRÊA, Vera. Globalização e
Neoliberalismo: O que isso tem a ver com você, professor?. Rio de Janeiro:
Quarter, 2000. Cap.1, p.30-47.