Houve uma época em que eu pensava
que as pessoas deviam ter um gatilho na garganta: quando pronunciasse — eu te
amo —, mentindo, o gatilho disparava e elas explodiam. Era uma defesa
intolerante contra os levianos e que refletia sem dúvida uma enorme insegurança
de seu inventor. Insegurança e inexperiência. Com o passar dos anos a idéia foi
abandonada, a vida revelou-me sua complexidade, suas nuanças. Aprendi que não é
tão fácil dizer eu te amo sem pelo menos achar que ama e, quando a pessoa
mente, a outra percebe, e se não percebe é porque não quer perceber, isto é:
quer acreditar na mentira. Claro, tem gente que quer ouvir essa expressão mesmo
sabendo que é mentira. O mentiroso, nesses casos, não merece punição alguma.
Por aí já se vê como esse negócio
de amor é complicado e de contornos imprecisos. Pode-se dizer, no entanto, que
o amor é um sentimento radical — falo do amor-paixão — e é isso que aumenta a
complicação. Como pode uma coisa ambígua e duvidosa ganhar a fúria das
tempestades? Mas essa é a natureza do amor, comparável à do vento: fluido e
arrasador. É como o vento, também às vezes doce, brando, claro, bailando alegre
em torno de seu oculto núcleo de fogo.
Ferreira Gullar
Foto: Google
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