“Ainda que fosse só a boa conversa, a química eletrizante, o
sexo livre. Ainda que fosse só a atração física, a admiração das ideias ou os
beijos encaixados.
Você já me valeria à pena.
Mas não é. Tem isso e ainda todo o resto. Escuto as pessoas
se queixarem repetidamente que o amor completo anda escasso no mercado.
Encontra-se, às vezes, só a beleza, a afinidade ou o sexo inesgotável. Falta o
resto. Ou ainda, a paciência, o companheirismo, o aconchego. Mas a
incompletude, ainda sim, reina.
E os pessimistas, dizem que não é possível achar alguém do
jeitinho que você quer. Alguém que te complete, que te baste, que te encante
repetidamente. Eu, insisto no contrário. Porque amores incompletos, não saciam
a fome. É como uma dieta só de proteína – você se sustenta por um tempo, se
engana, inventa que o buraco no estômago está saciado – bebe água, fuma um
cigarro. Mas, a falta de carboidrato, cedo ou tarde, pega. E você volta pro
início.
Eu nunca quis um amor perfeito.
Eu quero mesmo é um amor cheio de erros, que vai sendo
alinhado durante o caminho. Porque se tudo já começa certo, não vive-se o
prazer da vitória.
Eu quero um amor quentinho, daqueles de aconchego no fim de
tarde, de colo depois de um dia de cão, de beijo no nariz ao acordar.
Eu quero um amor livre – sem a ideia desajustada que um
pertence ao outro. Com menos regras ditadas – e mais pontos de vista ouvidos.
Eu quero alguém com o qual possa fazer sexo sem regras – em
nome das descobertas. Porque sexo bom de verdade, é aquele com instinto e sem
razão.
Eu quero um amor com respeito. Não daquele tipo das “moças
de respeito” que querem seu patrimônio corporal preservado. Eu quero aquele
respeito que te permite ver o outro como um outro ser – cheio de vontades e
desejos. Respeito é aceitar que o outro é diferente de você.
Eu quero um amor que me ajude crescer. Por que o essencial,
faculdade nenhuma ensina. O essencial aprende-se na troca de ideias, no debate,
nos pontos de vista trocados.
Eu quero um amor que me valorizasse. Não somente pelas
coisas cotidianas, mas principalmente pelas qualidades que poucos enxergam.
Eu quero um amor que me enxergue. Mas não que enxergue
somente as coisas óbvias – porque, de obviedades, a vida está cheia. Eu quero
alguém que me enxergue lá no fundo – e, ainda, sim, goste de mim.
Eu quero alguém que queira ouvir verdades – e falar, também,
na mesma proporção. Porque meias-verdades não interessam. Difícil mesmo é achar
alguém que esteja pronto pra ouvir até o mais pesado, até o mais doído e
retribuir na mesma moeda.
Eu quero alguém que me ache “gostoso” – mas que entendesse
que gostosura, mora mesmo nas entrelinhas.
Eu quero um amor que me mostre caminhos – invés de impor
trajetórias.
Eu quero um amor que não me reprima – pelo contrário, que me
provoque para que eu consigua mostrar o que vive escondido lá no fundo.
Eu quero um amor que sonha junto. E que corra atrás dos
sonhos comigo. Não por imposição, mas por vontade de seguir a mesma trilha.
Eu quero alguém que não tenha jeito pra joguinhos. Porque
deles, eu já me desencantei na adolescência.
Eu quero alguém que me ganhe nos detalhes. Alguém ao qual eu
não consiga resistir. Alguém que traga brilho pros meus olhos a cada nova
atitude, a cada nova ideia a cada novo sorriso.
Eu quero alguém pra ficar junto – alguém que entenda que pra
estar junto não é preciso estar perto o tempo todo, mas sim do lado de dentro.
Por que a proximidade física nem sempre completa tanto quanto a do coração.
E não sei se vai acontecer por insistência ou merecimento –
mas esse amor um dia virá… antes do esperado, contrariando os que dizem que
amor completo é coisa rara. E hoje, entendo, que o amor bom é o amor livre –
que se recicla todos os dias como energia renovável. O quanto vai durar – não
sei. Prefiro a provisoriedade completa, do que a permeabilidade vazia.
Por que eu quero… “
Desconheço o autor(a)