Não é fácil
enfrentar um tempo marcado por propostas estimulantes de consumismo e com
requinte de esbanjamento. A questão é tão grave que chega até a provocar
desequilíbrio social, complicando a vida de muitas pessoas em condições
financeiras desconfortáveis. Há uma insaciável febre de compras, induzida pela
força e pertinência da mídia.
Seria saudável
se todas as pessoas tivessem o necessário para o próprio consumo, mas com
capacidade também para certas renúncias, concretizando uma vida de desapego e
capacidade de partilha fraterna. Apego exagerado a determinadas riquezas pode
denotar sintoma de injustiça, de incapacidade para viver em comunidade e de
enxergar o vazio na vida de muitos outros.
Não encarar o
desapego de forma concreta pode levar o rico a ficar cada vez mais rico e o
pobre cada vez mais pobre. Com isto aumenta o fosso existente entre uma classe
social e outra, ocasionando uma sociedade que experimenta “na pele” o mundo da
violência, do inconformismo e da insegurança. Com isto, sofrem os ricos e os
pobres e toda a sociedade com eles.
Existem
administradores desonestos e inescrupulosos, agindo de forma escandalosa e
injusta com todos. É uma esperteza que clama aos céus, provocando a ameaça e o
confronto da justiça. Sabemos que, quem pratica o mal, mais cedo ou mais tarde,
poderá sofrer as consequências. A injustiça, em muitos casos, é percebida por
quem de direito que, às vezes, toma providências.
É importante
agir com inteligência diante dos bens que o mundo coloca à nossa disposição.
São repugnantes as fraudes que se cometem na administração pública e nos atos
privados, deixando transparecer apego a realidades que pertencem a outros. Diz
o Mestre Jesus que os filhos das trevas são muito espertos.
O desapego faz
as pessoas serem ricas diante de Deus, porque a vida do mundo passa e tudo fica
por aí. A grande riqueza é a vida em todas as suas dimensões, na integridade e
gratuidade diante da natureza e do Criador. A riqueza pode criar vazio, porque
ela é passageira.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.