Às vezes é preciso uma
bofetada que – pleft! – nos devolva de volta à vida
Desilusão é uma
experiência terrível. Num momento qualquer, você está cheio de esperança. No
outro, seu mundo veio abaixo. Como uma repentina bofetada, a desilusão machuca,
desnorteia e humilha. É o evento dramático que, na vida amorosa, separa a
realidade do sonho, os homens dos meninos e os tolos dos sábios. A desilusão é nosso
diploma. Quem não passou por ela é um inocente. Ainda não sabe de nada.
Você, apaixonado,
sugere à namorada que talvez seja hora de fazer planos e morar juntos. Ela
responde, cheia de dedos, que talvez não esteja assim tão envolvida com você.
Pleft!
Encantada com o
sujeito, você pergunta, toda bonitinha, se o que rola entre vocês é um namoro –
e ele diz, sem hesitar, que também sai com outra garota e não quer compromisso.
Pleft!
Depois de cinco anos de
casamento, as coisas esfriaram ao ponto de congelamento. Você tem esperança e
propõe uma segunda lua de mel – então seu marido conta que tem saído com uma
colega, que está apaixonado e vinha se preparando para contar que pretende
morar com ela. Pleft!
Com essas histórias,
quero dizer, ao contrário das lamúrias frequentes, que desilusão é bom. Quem
nos desilude nos abre os olhos e nos descortina o mundo verdadeiro. Por isso,
nos presta um grande serviço.
O iludido acredita,
essencialmente, que o outro sente por ele o mesmo que ele sente pelo outro.
Vive a fantasia de ser amado ou, pelo menos, tem esperança de um dia ser
correspondido. É um sonhador que pode passar anos caminhando no interior do seu
sonho, vendo apenas o que deseja ver. A desilusão é o despertar. Deveria ser
saudada como libertação, mas costuma ser recebida com ressentimento. A pena de
si mesmo é maior que a gratidão.
Na verdade, o inimigo é
quem nos ilude. Faz mal aquele que, por fraqueza ou piedade – muitas vezes por
vaidade – alimenta nossos sentimentos infundados. Quem nos olha nos olhos e diz
a verdade merece nosso respeito. Demonstra respeito por nós, ainda que nos
magoe.
A verdade, é importante
que se diga, nem sempre é nítida. Quando se trata de afeto, somos criaturas
confusas, habitadas por dúvidas e contradições. Por isso, mais importante que
aquilo ouvimos é o que vemos. Mais importante que sentimentos, são ações. Se o
sujeito parece ter por você o maior carinho, mas é sua amiga que ele chama para
sair, parece que é da amiga que ele gosta – embora talvez nem saiba. As
decisões dele contam tudo que você precisa saber, desde que você as conheça.
Quem diz o que sente, mas esconde o que faz, ilude.
Eis uma boa máxima: não
me diga o que você sente, me conte o que você faz.
Da minha parte, tendo
vivido ilusões e desilusões, prefiro as últimas. Elas me salvaram de vexames
profundos, me tiraram de enganos demorados, me abriram portas que eu
desconhecia e me puseram no caminho certo. Tem sido assim com todos que eu
conheço. Os mais tristes, os mais dignos de piedade, são os que se agarram a
ilusões que todos em volta reconhecem, menos eles. A esses faz falta uma
desilusão. Uma boa bofetada – pleft! – que os devolva de volta à vida.
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