domingo, fevereiro 16, 2014

TRADUÇÃO DOS MEUS VERSOS...


Olho tudo ao meu redor e em cada paisagem sinto, nos lábios,  sabor de doce poesia. Ouço em cada som uma suave  canção de amor, que me contagia o coração. A flor que brota enfeitando meu quintal.


A chuva que vem nesta  manhã de domingo enquanto, da janela,  a contemplo molhando o meu chão. O cheiro de vida, de fertilidade invade meu respirar como fragrância a perfumar meu encanto. E a chuva segue forte caindo sobre meu teto, molhando e alicerçando  minhas possibilidades e sonhos. Na gaveta guardadas antigas recordações e no rádio velhas canções ressoam  provocando-me lembranças inesquecíveis. 


O ruído da chuva  se mistura com o pulsar do meu coração e dentro do  peito maravilhosas sensações. Um sentimento de felicidade, misturado com a alegria e o amor. A saudade vem de mansinho, visitar meus pensamentos. Saudade boa,  de momentos bons e encontros  bem vividos. A chuva continua caindo e eu, da janela,  só aprecio. Na mente versos escondidos nas entrelinhas do meu universo. 


No espelho vejo meu rosto, meu rosto de completa felicidade de amor retribuído e sentimentos recíprocos. Uma sensação fascinante toma conta do meu peito neste instante. Na janela do meu querer a chuva continua caindo, traduzindo meus versos. 


Ah, como é boa essa sensação,  que ora me toma o peito, invade meu coração e se derrama em forma de  poesia natural surgida da minha mais singela  inspiração...Tradução dos meus versos, nesta linda manhã de domingo quando o amor e a felicidade enchem de vida e esperança esse meu louco  coração...


Socorro Carvalho 

A RUA DAS RIMAS

    A rua que eu imagino, desde menino, para o meu destino pequenino
    é uma rua de poeta, reta, quieta, discreta,
    direita, estreita, bem feita, perfeita,
    com pregões matinais de jornais, aventais nos portais, animais e varais nos quintais;
    e acácias paralelas, todas elas belas, singelas, amarelas,
    douradas, descabeladas, debruçadas como namoradas para as calçadas;
    e um passo, de espaço a espaço, no mormaço de aço baço e lasso;
    e algum piano provinciano, quotidiano, desumano,
    mas brando e brando, soltando, de vez em quando,
    na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala;
    e, no ar de uma tarde que arde, o alarde das crianças do arrabalde;
    e de noite, no ócio capadócio,
    junto aos lampiões espiões, os bordões dos violões;
    e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata...);
    e depois o silêncio, o denso, o intenso, o imenso silêncio...
    A rua que eu imagino, desde menino, para o meu destino pequenino
    é uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer
    é uma rua, como todas as ruas, com suas duas calças nuas,
    correndo paralelamente, como a sorte diferente de toda gente, para a frente,
    para o infinito; mas uma rua que tem escrito um nome bonito, bendito, que sempre repito
    e que rima com mocidade, liberdade, tranquilidade: RUA DA FELICIDADE...

Guilherme de Almeida

PRECISO DO TEU SILÊNCIO

Preciso do teu silêncio
cúmplice
sobre minhas falhas.
Não fale.
Um sopro, a menor vogal
pode me desamparar.
E se eu abrir a boca
minha alma vai rachar.
O silêncio, aprendo,
pode construir. É um modo
denso/tenso
- de coexistir.
Calar, às vezes,
é fina forma de amar.


 Affonso Romano de Sant’Anna

PÁSSARO AZUL



há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica aí dentro,
não vou deixar
ninguém ver-te.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu despejo whisky para cima dele
e inalo fumo de cigarros
e as putas e os empregados de bar
e os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele se encontra
lá dentro.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica escondido,
queres arruinar-me?
queres foder-me o
meu trabalho?
queres arruinar
as minhas vendas de livros
na Europa?



há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado esperto,
só o deixo sair à noite
por vezes
quando todos estão a dormir.
digo-lhe, eu sei que estás aí,
por isso
não estejas triste.
depois,
coloco-o de volta,
mas ele canta um pouco lá dentro,
não o deixei morrer de todo
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é bom o suficiente
para fazer um homem chorar,
mas eu não choro,
e tu?


(Charles Bukowski)

VERSÃO ORIGINAL:

"Bluebird"



there’s a bluebird in my heart that
wants to get out
but I’m too tough for him,
I say, stay in there, I’m not going
to let anybody see
you.
there’s a bluebird in my heart that
wants to get out
but I pour whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he’s
in there.

there’s a bluebird in my heart that
wants to get out
but I’m too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
you want to screw up the
works?
you want to blow my book sales in
Europe?
there’s a bluebird in my heart that
wants to get out
but I’m too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody’s asleep.
I say, I know that you’re there,
so don’t be
sad.
then I put him back,
but he’s singing a little
in there, I haven’t quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it’s nice enough to
make a man
weep, but I don’t
weep, do

you?

(Charles Bukowski)