segunda-feira, junho 21, 2010

A LITERATURA SEM SARAMAGO


 Aos 87 anos, morre José Saramago, expoente da literatura do século vinte. O escritor José Saramago escreveu que, generosa e inesgotável, a imaginação é o único preenchimento das lacunas de ocasiões perdidas que marcam o longo percurso da humanidade.

Hoje, quando corpo e matéria do autor português começam a despedir-se de nosso mundo, tem-se a certeza da permanência duradoura de seu o seu talento inventivo e de sua genialidade criativa.

Saramago morreu neste dia 18 de junho, aos 87 anos de idade, vítima de uma pneumonia crônica. Deixou a vida em sua residência, em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, na presença de sua esposa.

A imaginação, que fez de Saramago um dos mais significativos nomes da literatura contemporânea em todo o mundo, também o levou a defender que um escritor deve ter posicionamento perante a vida em sociedade. “Depois de morto, o escritor será julgado segundo aquilo que fez. Reivindiquemos, enquanto ele estiver vivo, o direito a julgá-lo também por aquilo que é”, escreveu no ensaio Sobre literatura, compromisso e transformação social. Talvez por isso, Saramago utilizou a literatura para enfrentar as lacunas que se apresentam na sociedade de forma sutil ou disfarçada, mas que levam as pessoas a confiarem no mundo sem mudanças, tornando normal e pétrea a desigualdade, a injustiça e a opressão entre homens e mulheres.

Escritor engajado na vida política e social, especialmente em favor dos direitos humanos, José Saramago não deixou de denunciar aqueles que, disfarçados entre as causas justas, promovem os interesses dos poderosos ou refreiam.

As marcas de sua obra são o elevado domínio e conhecimento da língua, o uso fácil e fluente da narrativa e o mergulho profundo na condição humana e na história do mundo. Desde o lançamento de Memorial do Convento, em 1982, José Saramago tornou-se autor de obras importantes da literatura do Século XX. Em 1998, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, com o seu livro O evangelho segundo Jesus Cristo. A sua última publicação, Caim, ocorreu no ano passado, constituindo-se numa leitura de fina ironia sobre o Velho Testamento bíblico. Como no livro que redeu-lhe o Nobel, Caim foi muito criticado pela igreja, instituição que Saramago combateu ao longo de toda a sua vida.

Outra obra de fôlego, editada em 1995, O ensaio sobre a cegueira marcou definitivamente o reconhecimento do romancista José Saramago. O livro mostra as perversidades que ocorrem entre os homens e que aviltam a razão humana. “Escrevi Ensaio sobre a cegueira para recordar a que o leria que usamos perversamente a razão quando humilhamos a vida, que a dignidade do ser humano é insultada todos os dias pelos poderosos de nosso mundo, que a mentira universal ocupa o lugar das verdades plurais, que o homem deixou de respeitar-se a si mesmo quando perdeu o respeito a seu semelhante”, deixou escrito.

De família humilde, o que o impediu o escritor de concluir os seus estudos e o levou a trabalhar já aos doze anos de idade, José Saramago nunca abandonou as suas origens, sempre fazendo referências ao seu passado difícil e à sua vida em família. Ao receber o prêmio Nobel, referiu-se ao seu avô assim: “O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler e nem escrever”. Com isso, Saramago também demonstrou que não a cultura não está presente apenas na academia ou na educação formal, como defendem alguns.

Pouco antes de morrer, José Saramago anunciou que já trabalhava em um novo livro, onde iria abordar a indústria armamentista, os interesses envolvidos neste ramo e a banalização da vida humana.

Saramago se foi. A aventura humana continua, assim como permanece a procura: “Dentro de nós há uma coisa que não tem nome. Essa coisa é o que somos”.




PRESIDENTE LULA PRESTA SOLIDARIEDADE
AO POVO PORTUGUÊS PELA MORTE DE SARAMAGO



"Ele contribuiu de maneira decisiva para valorizar a língua portuguesa. De origem humilde, tornou-se autodidata e se projetou como um dos maiores nomes da literatura mundial. Recebeu o Prêmio Camões, distinção máxima conferida a escritores de língua portuguesa, e o Prêmio Nobel de Literatura. Nós, da comunidade lusófona, temos muito orgulho do que o seu talento fez pelo engrandecimento do nosso idioma. Intelectual respeitado em todo o mundo, Saramago nunca esqueceu suas origens, tornando-se militante das causas sociais e da liberdade por toda a vida. Neste momento de dor, quero me solidarizar, em nome dos brasileiros, com toda a nação portuguesa pela perda de seu filho ilustre", escreveu Lula em comunicado à imprensa.




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