segunda-feira, outubro 04, 2010

MARQUETEIRO DE TIRIRICA


O candidato a deputado federal Francisco Everardo Oliveira Silva (PR), o palhaço Tiririca, é o grande fenômeno das eleições de 2010 para a Câmara Federal como todos imaginávamos e como todas as pesquisas apontavam.

Mas não há ilusões. Depois que deixar a TV Record, do bispo Edir Macedo, onde é funcionário, e assumir seu novo trabalho em Brasília, em 2011, infelizmente terá o mesmo fim dos outros candidatos caricatos que tiveram votações expressivas e sumiram nos corredores do Congresso Nacional.

Ainda assim, o caso não é desprezível. Verdade matemática é que Tiririca teve mais votos que o candidato a deputado federal de 1986, Luiz Inácio Lula da Silva, um recordista – na época -com 650 mil votos. Ressalta-se, no entanto, que o atual presidente Lula teve essa expressiva votação em 1986, quando o colégio eleitoral no Estado de São Paulo era bem menor do que é hoje.

A verdade histórica é que a votação de Tiririca este ano ultrapassou com sobra também a de Paulo Maluf, em 2006, quando foi eleito deputado federal com 739 mil votos, e Clodovil Hernandez, que no mesmo ano chegou a quase 500 mil votos. Em termos absolutos, Tiririca só perdeu para Enéas Carneiro, que assumiu a Câmara Federal em 2002, graças a 1,5 milhão de votos.

O Tiririca “político”, no entanto, tem um pai. Ele é a criatura. O criador desse fenômeno das urnas de 2010, que seduziu quase 1,5 milhão de eleitores, aquele que conseguiu dar existência e consistência a esse novo integrante do Congresso Nacional foi o marqueteiro Valdemar Costa Neto, um dos líderes nacionais do Partido da República (PR).

Político, mas também marqueteiro, Costa Neto é responsável pela criação do PR, fusão de parte do Partido Liberal (PL) – que tinha como um de seus líderes em São Paulo, Guilherme Afif Domingues -, com o Partido da Reedificação da Ordem Nacional (Prona), presidido por Enéas Carneiro.

Neste episódio histórico da votação de Tiririca, Costa Neto desfrutou de tanta autoridade e desempenhou um papel tão considerável, que merece destaque. Sua atuação teve início no primeiro dia de gravação para o horário político do PR. Francisco Everardo Oliveira Silva chegou ao estúdio de terno e gravata. Valdemar não vacilou e simplesmente determinou: “Você é o Tiririca, pode mudar de roupa e vestir a de palhaço”. Foi decretada e certificada, ali e assim, a invenção do marqueteiro.

Sem comentar, aqui e agora, o papel e as atividades políticas de Valdemar Costa Neto, preferi analisar neste artigo o que ficará consagrado na política brasileira. A votação de Tiririca foi produto de marketing do Boy, como Valdemar é conhecido na Cidade de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Conhecendo como ninguém as necessidades do consumidor, Boy adaptou o produto ao mercado.

Acredito e identifico que esse fenômeno Tiririca só pode ser encarado como fruto de um momento certo. Ou seja: uma jogada de oportunidade, utilizando um pequeno espaço de tempo, um instante ou um ponto no tempo, cedido pelo horário eleitoral. Foi o suficiente. “Pior que está não fica” foi a frase que sintetizou melhor a idéia de momento dos eleitores em relação aos nossos deputados federais.

Tiririca 2010 lembra o momento em que os eleitores deram 95 mil votos ao rinoceronte Cacareco, candidato a vereador em São Paulo, em 1959. Ou a eleição em que 400 mil cariocas, três décadas depois, escolheram o macaco Tião para prefeito do Rio de Janeiro, transformando-o, segundo o livro Guinness dos Recordes, no chimpanzé mais votado no mundo. Neste quadro, outro “cacareco simbólico” foi a figura de “Meu nome” é Enéas em 2002.

O interesse pelo palhaço Tiririca foi tanto que, a partir do início do horário político na televisão, seu nome foi um dos mais procurados na internet. Cacareco, Macaco Tião, Enéas e Tiririca representam o protesto, mas também a face divertida e moleca da política brasileira.

Mas, no jargão da política, só Tiririca poderá ser identificado no bloco dos candidatos biombos. Só ele esconde – sob sua lona - quem serão os outros deputados que irão pegar carona nessa avalanche de votos que foram confiados a esse palhaço.

Por Alberto Luchetti, jornalista



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