sexta-feira, outubro 08, 2010

TERRAS CAÍDAS ASSUSTAM MORADORES DO ARAPEMÃ.



Moradores que vivem na comunidade de Arapemã, região da várzea, às margens do rio Amazonas, serão obrigados, mais uma vez, a deixar suas casas para não ser engolidos pelas águas do rio Amazonas, por causa das Terras Caídas – um fenômeno natural, da região Amazônica, comum durante a vazante do rio, que arrasta, pela força da água, grandes quantidades de terra das margens de muitas comunidades da várzea.


Por causa da vazante do imenso Amazonas, o drama de muitas famílias aumenta a cada dia. Para fugir das Terras Caídas, os moradores constroem suas casas no centro da comunidade. Atualmente, cerca de 15 famílias vivem sob a ameaça do fenômeno e tão breve deverão desmontar suas humildes casas para reconstruí-las em um local mais distantes.

Minha ida até essa comunidade se deu por um simples motivo: estou procurando um cenário perfeito para as gravação do meu primeiro filme amador, intitulado “TapaZonas”, que vai destacar o fenômeno das Terras Caídas. Passei a manhã do último sábado (02/10) nessa comunidade, conversando com alguns moradores que relataram fatos impressionantes a respeito desse fenômeno. A comunidade apresenta um cenário perfeito para as gravações e, se Deus quiser, é lá que pretendo realizar as filmagens. Mais isso ainda precisa ser discutido e analisado pela equipe.

Percorrendo a comunidade, encontrei a viúva Maria da Silva, que mora na comunidade há mais de 35 anos. A viúva deixou um pouco o trabalho que estava fazendo (capina do terreno onde está situada a sua casa) e conversou um bom tempo comigo, relatando fatos presenciados por ela em relação a Terras Caídas. De acordo com dona Maria da Silva, o fenômeno das Terras Caídas começou a atingir a comunidade do Arapemã há uns 20 anos. Aos poucos, as áreas que ficavam nas margens do rio Amazonas começaram a ser derrubadas, levando árvores, plantações e até animais. Ela contou que várias vezes já viu a terra sendo arrastada pelas águas e confessou ter muito medo dessa situação. Na semana passada, de acordo com ela, uma pequena parte da margem da comunidade foi derrubada pela força das águas do Amazonas. “O estrondo foi tão grande que balançou as casas. A gente já tem aquele nervoso. Se tivesse para onde ir eu ia embora”, disse. Dona Maria contou que uma das causas das Terras Caídas pode ser uma cobra grande que vive debaixo da terra, debaixo da comunidade. Ela garantiu ter visto esse grande animal, certa vez, boiando na frente da comunidade. “Nós estamos aqui em cima e não sabemos o que se passa debaixo da terra”, falou. A viúva é uma das pessoas que ainda resistem na área próxima ao rio Amazonas porque, segundo ela, o local para onde estão indo morar as famílias do Arapemã fica distante da margem do rio. Além do mais, a área também favorece o aparecimento de animais como jacaré e cobra sucuriju. Mas, não haverá outra saída daqui a algum tempo, quando será obrigada deixar a área onde mora para não ser engolida pelas águas do Amazonas.

Celso dos Santos Lima que mora na comunidade há mais de 20 anos contou que certa vez um irmão dele que estava colhendo frutos de uma árvore de ingá foi arrastado juntamente com árvore pelas Terras Caídas. “Ele sumiu debaixo da água. Quando cai assim parece que terra vai puxando tudo para o fundo do rio. De repente ele boiou lá no meio do rio, veio nadando e chegou à beira”, relatou. Em outra ocasião, ele e mais alguns homens que trabalhavam na retirada de argila das margens do rio Amazonas foram surpreendidos pelo fenômeno. “Quando nós demos aquela terra arriou em cima dele. Foi preciso a gente cavar para tirar o homem. Quase ele morre. Ele ficou todo quebrado. É muito perigoso. A gente sobe e desce para pegar água, mas tem que ficar o tempo todo de olho. Porque de vez em quando ela tá caindo”, falou Celso. A casa onde o agricultor mora com a família está bem perto da margem do rio e ele já planeja remanejar a casa, onde mora com a mulher e os seis filhos, para uma área mais distante. O agricultor nos levou a um local próximo à margem do rio. Lá, nos mostrou no chão algumas rachaduras. Sinal que muito em breve o terreno vai desmoronar e ser levado pelas águas do imenso Amazonas.



Zenaide Santos Vasconcelos mora na comunidade há mais de 40 anos recorda que o local era muito bonito e farto de plantação. “A comunidade tinha muitas laranjeiras, coqueiros, manga e outras frutas. Mas, quando a terra começou a cair tudo foi se acabando. Agora, se precisar comer uma fruta tem que comprar na cidade”, disse. Hoje, a comunidade mantém somente pequenas plantações de jerimum e melancia. Dona Zenaide conta que o medo é tão grande que ela e suas filhas vão rapidamente à beira do rio pegar a água para as atividades domésticas e tomar banho. “Eu tenho muito medo da terra cair em cima da gente. É muito feio, arriscado”.

Aldenice Santos de Vasconcelos, servente da escola da comunidade, é mãe de seis filhos e também não esconde o medo das Terras Caídas. “Principalmente quando eles (as crianças) vão tomar banho. Eles têm o vício de pular no rio. De repente a terra cai em cima e como eu vou saber se eles estão debaixo da terra?”. Por isso, a servidora pede aos filhos que tomem banho rápido e tenha o máximo de cuidado porque a terra não tem hora para cair. “A rachadura no chão é um sinal que a terra tá pra cair. Mas, os meninos são teimosos, né. Eu, principalmente, tenho medo de ir à beira do rio”, confessou.
Ketelen Gabriele Santos Vasconcelos, 13 anos, estudante da 7ª série, filha de dona Aldenice, também contou ter presenciado a ação das Terras Caídas. Certa vez, enquanto lavava roupa com a mãe, viu cair uma grande porção de terra. “Quase alaga uma canoa que tava perto. Fez igual a uma tromba d’água. Deu bastante medo”, contou a estudante.
São histórias que, sem dúvida nenhuma, rendem um bom documentário e uma boa história. Espero poder destacar esse rico cenário em TapaZonas que em breve começa a ser gravado na região.

 
Por Udirley Andrade
Editor do Jornal da Manhã/Rádio Rural
Assessor de Comunicação da PMS
Acadêmico de Jornalismo do IESPES
E a caminho de ser um  Grande Cineasta Santareno

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