Sandro Flores me concedeu entrevista em Brasília - DF e já veiculamos no Para Ouvir e Aprender |
Por muito tempo, nós jovens
indígenas estivemos guardados da cultura não indígena. Nossas avós e nossos
pais nunca nos deixaram falar em nome de nosso povo, mas, a partir dos anos 90
lideranças juvenis se levantaram. Os parentes conservadores proibiam a nossa
ida e a nossa participação em grandes reuniões e assembleias. Lamentavelmente
uma regra quebrada de nos proibirem e nos calarem diante das suas vozes altas e
pensamentos ultrapassados e fora do contexto da realidade em que estavam
vivendo.
“Amazônia, minha casa hoje, no
futuro minha estada. A preservação das raças depende de mim e a destruição das
matas precisamos defender” já dizia e defendia na 1ª Conferencia de Jovens
Indígenas de Fronteira na cidade de Tabatinga-AM em 2005 aos 14 anos. E quando
voltei para o quarto um líder da minha etnia disse que eu não podia falar nada,
porque ele estava lá para falar por nós. Me calei, mas depois sonhei com uma
folha caindo no rio e duas arvores caídas com muitas crianças ensanguentadas, e
numa noite com uma lua cheia alguém com os bichos da mata me falavam não cale,
passe por esse igarapé estou contigo. Quando acordei disse ao meu tio avô que
também participava da conferencia e ele com a voz baixa e calma me disse:
“cante e escute o que você mesmo está fazendo”. No momento não entendi, mas
depois numa discussão no meio da conferencia falavam que nós, a juventude, não
tínhamos voz e deveríamos esperar as lideranças falarem por nós. Ai, não gostei
do que falaram, fiquei calado, tímido mas criei coragem e pedir autorização
para falar. Quase caio para trás quando chegou a minha vez, peguei o microfone
e peguei meu violão e comecei a tocar... E quando comecei a cantar comecei a
falar o que eu pensava como adolescente indígena, disse que era uma honra estar
ali em meio a tantos líderes do meu povo e que com eles eu aprendo tudo todos
os dias e o povo da selva pede a Deus todos os dias que nos proteja. Vi que
ninguém falava nada, ficou um silencio danado, quando não ouvi nenhum barulho
aproveitei a oportunidade e lancei a galera que eu pensava sobre a participação
do jovem e qual era a importância do diálogo e da inteira promoção de todos nós
jovens e adolescentes indígenas.
Quando terminei de falar cantei
de novo... Sorri e chorei... Todos se levantaram e me aplaudiram... Chorei de
novo, mas de alívio!
Minha infância, não tinha virado
lenha, virou um começo pra mim mesmo. Hoje estou aqui reaprendendo e defendendo
a natureza, os direitos indígenas e a voz da juventude indígena. Venha
político, venha presidente, mas eu vou estar ali junto aos parentes
multiplicando os nossos direitos. Cantando, dançando e gritando estarei lá
mostrando a arte do índio e ensinando o não índio a respeitar a natureza, nossa
mãe terra. Meu Rio Solimões só vai secar quando o último fio de cabelo branco
do último índio morrer...
Saudações,
Sandro Flores Ticuna
Rede de Jovens Indígenas
Comunicador@s do Alto Rio Solimões/AM
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